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Minicurso de Análise Fundamentalista Parte 5: Como usar em seus investimentos

29 dezembro 2020 - 11h28Por Redação SpaceMoney

Por André Massaro*

Enfim, chegamos ao final deste minicurso de Análise Fundamentalista e, neste artigo, falaremos um pouco mais sobre como fazer suas próprias análises (assunto que já foi parcialmente abordado no artigo anterior), como usar recomendações feitas por analistas profissionais e vamos falar daquele que é, possivelmente, o assunto mais importante (e frequentemente negligenciado) pelo investidor: o gerenciamento de riscos.

Fazendo suas próprias análises

No artigo anterior, foram apresentados os indicadores financeiros, o conceito de valuation e uma sugestão de sequência para a aplicação dessas ferramentas.

Porém, as possibilidades de combinações são infinitas, especialmente se considerarmos, também, as informações de base qualitativa.

Uma dúvida comum da maioria dos investidores (especialmente os iniciantes) é: “onde conseguir as informações?”.

Os indicadores financeiros são construídos com base em informações públicas (demonstrativos financeiros e preços das ações), que podem ser obtidas de várias fontes (inclusive nos sites das próprias empresas).

Porém, calcular os indicadores “na mão” é bastante trabalhoso. Por isso, é interessante que o investidor tenha ferramentas que já entreguem essas informações “prontas para uso”.

Existem serviços (sites ou aplicativos) de análise de ações, nos quais é possível obter os indicadores financeiros de todas as ações que são negociadas na bolsa.

Esses serviços são chamados de “stock screeners”, e permitem que o investidor obtenha diversos indicadores financeiros e aplique filtros nesses indicadores.

Imagine, por exemplo, que você queira saber todas as ações que estão sendo negociadas com um Índice Preço/Lucro (P/L) abaixo de 10. No stock screener, você consegue aplicar esse tipo de filtro e muitos outros, de forma a “refinar” sua análise e te poupar do trabalho de ficar “caçando” as ações uma por uma.

Existem ferramentas de análises de ações (stock screeners) de vários tipos, com opções gratuitas (mais limitadas) e pagas (mais completas, com mais funcionalidades e com direito a suporte técnico).

Ah! E antes que você pergunte: neste minicurso, não damos recomendação de nenhuma ferramenta em particular. Encontrar a ferramenta de análise que mais lhe agrade (assumindo que você queira usar esse tipo de ferramenta) é a sua “lição de casa”. E não é nada que uma rápida pesquisa em qualquer site de buscas não resolva!

O stock screener é uma ferramenta muito útil, que vai deixar suas análises mais rápidas e práticas. Ela pode ser usada em abordagens Top-Down e Bottom-Up (que foram vistas no terceiro artigo deste minicurso) e também é possível combinar as informações dos indicadores financeiros com outros métodos de valuation e informações qualitativas.

Basicamente, “o céu é o limite”.

Recorrendo a analistas profissionais 

Alguns investidores podem optar por usar análises já prontas, feitas por analistas de investimentos profissionais.

No Brasil, nos últimos anos, se tornaram populares as chamadas “casas de análises independentes” (também conhecidas como researchs), que vendem assinaturas de relatórios com recomendações de ações e outros ativos financeiros.

O investidor pode abrir mão de fazer suas próprias análises (seguindo as recomendações desses analistas profissionais) ou pode, ainda, combinar as duas coisas: Fazer suas próprias análises e usar análises de profissionais como um “elemento confirmatório”.

O uso de análises preparadas por analistas profissionais é uma possibilidade interessante. Porém, o investidor deve ter expectativas realistas e entender que os analistas profissionais são seres humanos, falíveis e que cometem erros.

Por isso, não é sensato confiar cegamente nas recomendações dos analistas e, muito importante, deve-se ter em mente que a decisão de investimento é SEMPRE do investidor.

Você pode usar informações preparadas por um analista profissional, mas quem dá a ordem de compra ou venda é VOCÊ. A decisão de investimentos é SEMPRE SUA.

Por isso, os relatórios de análise devem ser encarados como uma ferramenta de apoio à tomada de decisão, e não como uma “profecia”.

Gerenciando os riscos dos investimentos 

Bem, agora você já sabe (ao menos de forma rudimentar) como se faz uma análise fundamentalista. Sabe, também, que pode usar análises de profissionais se achar que isso vai te dar mais segurança.

Quando um investidor começa a fazer as próprias análises, existe uma curva de aprendizado e essas análises tendem a ir melhorando com o tempo.

Porém, por melhor que sejam suas análises (e isso vale para as análises dos profissionais também), elas nunca serão perfeitas — e sempre haverá uma chance de as coisas, simplesmente, “darem errado”.

Não existe (e jamais existirá) uma análise que vai te recomendar compra ou venda de uma ação com 100% de segurança. Sempre há uma margem de erro.

E é aí que entra o gerenciamento de riscos. O gerenciamento de riscos é o que protege nossa carteira de investimentos quando as coisas não saem como o planejado.

E a principal, mais popular e mais efetiva ferramenta de gerenciamento de riscos é a “velha e boa” diversificação.

“Diversificar” significa distribuir seu patrimônio em diferentes ativos, com diferentes perfis de risco, de forma a reduzir a volatilidade da carteira.

No caso das ações, se busca investir em diversas ações, de segmentos diferentes, na presunção de que as perdas de algumas ações serão contrabalançadas pelos ganhos de outras.

Para isso, se busca combinar ações que tenham correlações negativas (ou inversas). Isto é, ações que “sobem quando outras estão caindo” e vice versa.

No longo prazo, espera-se que todas as ações em uma carteira se valorizem (aliás, a análise fundamentalista serve para selecionar essas ações). Porém, nem todas as ações se comportam do mesmo jeito ao longo do tempo. Elas alternam períodos de valorização e desvalorização — ainda que, no longo prazo, a direção geral do movimento seja “para cima”.

Se as ações da carteira forem positivamente correlacionadas (ou seja, sobem e caem todas juntas), a carteira fica muito volátil, com aquele perfil de “montanha russa”.

A diversificação serve, entre outras coisas, para reduzir essa volatilidade, dando à carteira uma evolução de perfil mais suave e linear.

Mas a diversificação tem uma função ainda mais importante, que é proteger a carteira não só das oscilações do mercado, mas de uma “perda total” caso uma empresa vá, simplesmente, à falência (e o valor da ação vá a zero).

Esses eventos de quebra de uma empresa na bolsa são raros, mas, ocasionalmente, acontecem. E a última coisa que você vai querer é estar com uma parcela significativa do seu patrimônio (ou todo ele) investido nessa empresa...

Então, a diversificação vai limitar sua exposição a esse risco e, consequentemente, limitar sua perda.

Existem outras ferramentas para gerenciamento de riscos nos investimentos, como o uso de ordens stoploss (que adeptos da análise fundamentalista costumam ser um pouco refratários ao uso) e operações de hedge feitas com derivativos (como opções e contratos futuros).

Porém, a diversificação é a ferramenta de gerenciamento de riscos mais simples e mais efetiva. É a “arma defensiva básica” de qualquer investidor.

Conclusão

Agora sim, chegamos ao final do minicurso!

Espero que ele tenha sido útil, que tenha ajudado a dar uma visão geral da Análise Fundamentalista e, mais importante, que ele ajude em seu desenvolvimento e aprendizado, de tal forma que você tenha sucesso nos investimentos e atinja seus objetivos — com consistência e segurança!

*André Massaro é autor, consultor e professor de finanças, investimentos e mercados financeiros. Saiba mais em andremassaro.com.br