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Minicurso de Análise Fundamentalista Parte 2: As principais estratégias

10 dezembro 2020 - 14h21Por Redação SpaceMoney

Por André Massaro*

Na parte 1 deste minicurso, vimos o que é a Análise Fundamentalista e seus principais componentes. Nesta segunda parte, abordaremos as principais (e mais conhecidas) estratégias de base fundamentalista.

É importante lembrar que a Análise Fundamentalista não é, por si só, uma “estratégia de investimentos”. Ela é, como dizem alguns, uma “escola de análise de ativos financeiros” e tem várias subdivisões que são, enfim, as “estratégias”.

São quatro as estratégias que veremos neste artigo: O growth investing, o value investing, o income investing e o buy and hold.

Observe que os nomes dessas estratégias estão em inglês. Eles poderiam ser traduzidos para o português, porém, mesmo aqui no Brasil, eles são quase sempre referidos em sua forma original, tanto por investidores quanto por profissionais do mercado financeiro.

Então, vamos manter na forma anglófona, já que é o “padrão” do mercado.

Estratégia fundamentalista #1 – Growth investing

A primeira estratégia de base fundamentalista que veremos é o growth investing, voltada para ações com grande potencial de crescimento.

O growth investing (que, em tradução livre, seria “investimento em crescimento”) é uma estratégia que “olha para o futuro”. O investidor adepto do growth investing está investindo, essencialmente, em perspectivas – não só daquela empresa, mas também do setor do qual ela faz parte.

É, talvez, a estratégia de base fundamentalista mais charmosa, pois se está tentando “acertar” quais serão as empresas e setores dominantes no futuro.

Quando você vê pessoas discutindo sobre ações, empresas e setores em uma festa ou em um coquetel, geralmente aquela conversa tem uma orientação de growth investing (ainda que as pessoas que estão falando não saibam disso...). 

O analista (ou investidor) que se baseia no growth investing está focado no upside (o potencial de valorização) e nas perspectivas futuras e, por conta disso, faz uso intensivo de projeções e de informações de base qualitativa (que dependem da subjetividade e da interpretação do analista).

Um típico investidor adepto do growth investing não está tão preocupado se a ação está “barata”. A preocupação é saber se estará “ainda mais cara no futuro” (e aí entra o tal upside).

As principais ferramentas do growth investing são as taxas de crescimento dos anos anteriores (para saber se aquela empresa está, de fato, crescendo), a análise das margens e retornos (pois crescimento sem margem não é sustentável) e as perspectivas futuras do setor.

Das estratégias de base fundamentalista, o growth investing é, possivelmente, a mais especulativa e agressiva.

Estratégia fundamentalista #2 – Value investing 

Se você tem alguma familiaridade com a bolsa de valores, já deve ter ouvido falar de gestores e investidores famosos, como Warren Buffett (um dos homens mais ricos do mundo) e Peter Lynch. Talvez, até já tenha lido um dos livros mais influentes do mundo das finanças: “O Investidor Inteligente”, de Benjamin Graham.

Pois é... Todos esses nomes mencionados são “expoentes” desta segunda estratégia de investimentos de base fundamentalista, que é o value investing.

O value investing (ou “investimento em valor”) é uma estratégia que tem, como foco, comprar ações que sejam “boas e baratas”. Geralmente, são ações de empresas já bem estabelecidas, lucrativas e com a situação financeira “em ordem”, mas que, por alguma razão, estão com seus preços descontados em relação ao seu valor.

Aqui, já vemos a principal diferença em relação ao growth investing. O growth investing dá pouca importância para essa questão de “preço barato” e, frequentemente, se fazem investimentos em empresas que ainda não são lucrativas (mas que se espera que sejam no futuro).

O investidor adepto do value investing quer comprar ações baratas, mas não baratas em termos absolutos. Ele quer ações baratas em relação ao seu VALOR INTRÍNSECO.

“Valor intrínseco” é o valor que, na visão do analista, a ação deveria estar custando se o mercado estivesse “pensando racionalmente”. Aliás, os adeptos do value investing assumem que os mercados se comportam, boa parte do tempo, de forma irracional e “completamente pirada”.

Inclusive, foi Benjamin Graham, no livro “O Investidor Inteligente”, quem descreveu o mercado financeiro como um sujeito bipolar, que oscila entre a euforia e a depressão. E os adeptos do value investing procuram usar essa irracionalidade dos mercados como uma vantagem!

Quando os mercados estão na “polaridade depressiva” (por exemplo, durante crises econômicas agudas, em que investidores entram em pânico), os preços das ações tendem a ir abaixo de seus valores intrínsecos, o que gera oportunidades de comprar ações “boas” com descontos significativos.

E como descobrir o tal “valor intrínseco”? Para isso, os analistas usam técnicas de determinação de valor que são conhecidas como valuation.

Por conta dessa preocupação em comprar ações “baratas” e de empresas com bons fundamentos, o value investing é considerado uma estratégia de base fundamentalista mais conservadora.

Estratégia fundamentalista #3 – Income investing

O income investing é uma modalidade de investimento para geração de renda. É uma estratégia mais ampla e que pode ser aplicada a qualquer ativo gerador de renda (e não apenas a ações). Inclusive ativos de renda fixa e imóveis.

Porém, no uso corrente do mercado financeiro, income investing é associado com investir em ações que são boas pagadoras de dividendos.

O adepto do income investing não se preocupa tanto com a valorização das ações – o foco dele está no fluxo de caixa gerado pelos dividendos. É a modalidade de investimentos favorita (compreensivelmente) de aposentados e pessoas que querem viver de renda.

No income investing, as principais ferramentas são os indicadores financeiros associados à distribuição de dividendos, como o dividend yield (lucro distribuído em relação ao valor da ação) e o dividend payout (parcela do lucro que é distribuída aos acionistas).

Mas há, naturalmente, uma preocupação com a situação geral da empresa. Afinal, o investidor  quer obter renda por LONGOS PERÍODOS (se possível, para sempre...).

Então, de nada adianta investir em empresas que geram dividendos de forma irregular e errática.
E apenas um adendo, para finalizar: Os fundos imobiliários (FIIs) se encaixam “como uma luva” em uma estratégia de income investing.

Estratégia fundamentalista #4 – Buy and hold 

Buy and hold significa, literalmente, “comprar e manter” (acho que é autoexplicativo...).

Há bastante controvérsia se o buy and hold é uma estratégia de base fundamentalista. Em sua versão mais “pura”, se pode argumentar que é uma estratégia passiva (e, como vimos na parte 1 deste minicurso, as estratégias baseadas em análise fundamentalista são ATIVAS).

Os adeptos mais radicais do buy and hold são aquela turma que diz que “preço não importa” e vender uma ação é, para eles, um sacrilégio.

Porém, existe uma versão mais flexível do buy and hold, em que os investidores compram ações sem ter a intenção deliberada de vendê-las, mas usam as técnicas da análise fundamentalista para determinar as ações que serão compradas.

Nessa versão mais light do buy and hold, vendas de ações são eventos raros. Mas, quando acontecem, tipicamente se usa ferramentas da análise fundamentalista para determinar quais ações devem ser vendidas.

Essas são as mais conhecidas estratégias de base fundamentalista. Existem algumas outras, que são um pouco mais obscuras. E existem também estratégias “secretas”, proprietárias, desenvolvidas por alguns investidores para uso próprio e que não se tornam públicas.

Mas, de forma geral, as demais estratégias fundamentalistas costumam ser variações dos “modelos básicos” apresentados neste artigo.

*André Massaro é autor, consultor e professor de finanças, investimentos e mercados financeiros. Saiba mais em andremassaro.com.br