quinta, 25 de abril de 2024
SpaceDica

Ciclo de alta: com a Selic em 7,75% ao ano, a poupança volta a fazer sentido em 2021?

Projeções de que a taxa ultrapasse os 9% ainda este ano implicaria em mudanças na remuneração da modalidade, caso a elevação pelo Copom se concretize

22 novembro 2021 - 11h35Por Redação SpaceMoney

Seja pela tradição, segurança ou facilidade, a poupança é a aplicação preferida dos brasileiros. Segundo a última edição do Raio X do Investidor, o número de investidores que aposta na caderneta superou, em 2020, a soma daqueles que investem em títulos públicos e privados, ações e fundos.

O levantamento, produzido pela Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), indica, contudo, que o percentual de “poupanceiros” diminuiu cerca de 8% entre 2019 e o ano passado, a primeira queda em quatro anos de pesquisa.

A explicação para esse movimento passa pelo comportamento da taxa básica de juros brasileira no período. Isso porque a poupança paga, atualmente, o equivalente a 70% da Selic mais a Taxa Referencial (TR), zerada há um bom tempo. Caso a taxa ultrapasse os 8,5% ao ano, o rendimento passa a ser de 0,5% ao mês. 

Taxa nas mínimas e rendimento negativo

Ao longo do ano passado, a Selic continuou uma trajetória de queda iniciada em meados de 2019 e chegou a ficar em sua mínima histórica, de 2% ao ano, durante cinco meses.

Nesse cenário, a caderneta encerrou o ano com retorno real negativo de 2,30% e não teve nenhuma chance contra a inflação, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), de 4,52% em 2020.

Na prática, os percentuais revelam que, quem deixou dinheiro na aplicação, perdeu poder de compra. 

Em 2021, porém, a história é bem diferente. Com a alta dos preços se afastando cada vez mais da meta do Banco Central, o Comitê de Política Monetária (Copom) do órgão vem subindo a taxa a cinco meses consecutivos. 

Na última reunião realizada em outubro, os dirigentes elevaram a Selic de 6,25% para 7,75% ao ano e deixaram “contratado” — ou seja, previsto — um novo aumento de 1,5 p.p. para o próximo encontro em dezembro. Agora, em meio ao ciclo de alta da taxa básica de juros, a poupança pode voltar a ser uma opção rentável?

Poupança em 2021: oportunidade ou cilada?

Com o resultado do último aumento da Selic, a poupança passou a render cerca de 0,44% ao mês, ou 5,43% ao ano. Nada mal para uma aplicação isenta de IR e protegida pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC), certo?

Para quem se contenta apenas com os percentuais brutos de retorno, certo. Já para quem busca preservar seu patrimônio da mordida da inflação, não é bem assim que a matemática funciona.

Assim como a Selic, quem também está em trajetória de alta é o IPCA. O índice superou mais uma vez as expectativas do mercado em agosto, com avanço de 1,25%, e já acumula crescimento de 8,24% em 2021. Ou seja, quem deixa seu dinheiro na caderneta segue perdendo poder de compra.

E a situação não deve melhorar até dezembro. Segundo os analistas consultados para a última edição do Boletim Focus, do Banco Central, divulgada em 22 de novembro, o IPCA deverá fechar 2021 com alta de 10,12%. Vale destacar que esse já é o 33º aumento na previsão.

A taxa básica de juros ainda deve subir mais um pouco, para 9,25% ao ano. Isso significa que, muito provavelmente, a partir de dezembro, voltaremos a calcular os rendimentos dessa aplicação com base na primeira regra: 0,5% ao mês + TR (equivalente a 6,168% ao ano + TR) - afinal, a regra de remuneração da poupança muda quando a Selic ultrapassa o patamar de 8,5%.

Mesmo que a TR passe a aumentar, ainda assim as projeções com base na TR e na Selic históricas indicam que a poupança continuaria sendo uma opção inferior às outras apresentadas.

A rentabilidade da poupança reflete ocorre apenas uma vez ao mês (aniversário da aplicação), ao passo em que os investimentos em Tesouro Selic e CDB possuem rentabilidade diária.

Portanto, a resposta para a pergunta do título é um sonoro “não”. Com as projeções atuais, a caderneta segue incapaz de garantir a manutenção do poder de compra, perde para outras aplicações da renda fixa e variável e não deve fazer parte da carteira dos investidores.