Por Álvaro Augusto Araújo Mello*
A pandemia de Covid-19 obrigou milhões de funcionários a trabalharem de suas casas praticamente em todos os países. E tanto as empresas quanto os trabalhadores foram surpreendidos com a capacidade de adaptação dos funcionários e das organizações para enfrentar a nova realidade.
É bem verdade que muitas empresas encontraram dificuldades no início, mas, agora, estão se adaptando a esta nova modalidade de trabalho flexível e virtual. Estima-se que uma boa parte de empresas que adotaram essa experiência laboral emergencial deverá incorporá-la de forma definitiva quando a pandemia passar.
Muito provavelmente, quando o "novo normal" chegar, o modelo híbrido deverá misturar um ou dois dias em casa, e o restante da semana no escritório da empresa. Resultados de uma recente pesquisa da Technology Review Brasil, uma das principais publicações de tecnologia e negócios do mundo, com a chancela do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), mapeou os efeitos da pandemia.
Um dado interessante é que nenhum dos fatores, como área, cargo, salário, formação ou idade, pode ser relacionado ao desempenho dos profissionais, tampouco ao desejo de retornar ao escritório. Por outro lado, o levantamento apontou que profissionais com maior abertura a situações novas também desempenham melhor suas funções.
Consequentemente, quem desempenhou melhor neste período obrigatório tem maior tendência a manter o formato home office, pois são profissionais que se adaptaram de alguma forma ao trabalho em casa, mesmo em meio à uma pandemia, e mantiveram ou aumentaram sua produtividade.
Ainda considerando os resultados da pesquisa, não houve impacto significativo em demissões/admissões e em desempenho/vendas. A maioria dos entrevistados afirmou que usa, em casa, equipamento da empresa (notebook), e alguns até receberam cadeira da empresa para compor o espaço de trabalho em casa.
Assim, as constatações feitas nesta pesquisa comprovam que os preconceitos na adoção do home office foram bem atenuados, particularmente pelos gestores, que eram um grande foco de resistência.
Era digital chegou para ficar
As mudanças socioculturais e tecnológicas nos levaram a intensificar a era digital. Essa tendência de "tudo digital" já está definindo nosso mundo pós-vírus. A crise pandêmica do coronavírus foi, e ainda é, sem dúvida, um fator que afetou diretamente o crescimento da adoção do "home office", mesmo sendo obrigatório, sobretudo no Brasil.
Nesse sentido, de acordo com recente levantamento realizado pelo IPEA, estima-se que pessoas ocupadas no Brasil, que podem exercer suas atividades remotamente, tem potencial para fazer parte da realidade de mais de 20,8 milhões de profissionais e, que o modelo pode ser adotado por 22,7% das ocupações profissionais na pós-pandemia.
Os analistas preveem que o futuro após efeitos da Covid-19 não poderá nos isolar de nossos colegas, mas também nos desafiará de maneiras sem precedentes.
Para atender à demanda e ainda economizar no aluguel, contas e transporte, as empresas abaixo mencionadas já decidiram manter o teletrabalho na pós-pandemia:
Twitter: A empresa foi pioneira e em maio de 2020 já havia optado pelo home office permanente. O CEO Jack Dorsey acredita que a medida preserva a saúde dos funcionários e ainda aumenta o bem-estar a longo prazo.
Petrobras: Metade da equipe administrativa da empresa poderá optar pelo trabalho remoto permanente. A empresa ainda estuda a decisão, mas uma das ideias é manter escritórios inteligentes, com mesas compartilhadas, para uso esporádico quando o funcionário precisar.
XP Inc.: Em junho, a companhia anunciou possibilidade de home office permanente e horários flexíveis, com disponibilização de todos os equipamentos necessários. E também avalia mudar-se para uma nova sede "moderna e sustentável" em São Roque, um local para convivência, eventos e também lazer.
LafargeHolcim: A multinacional suíça de materiais de construção já colocou seus 1,5 mil funcionários em trabalho remoto permanente e espera economizar R$ 2 milhões ao ano com a adoção do home office.
BRQ Digital Solutions: A empresa de tecnologia optou pelo home office permanente após descobrir que 50% dos funcionários sentiam-se mais produtivos em casa e que 72% pensam ter mais qualidade de vida assim.
Xerpay: A plataforma de serviços financeiros Xerpay descobriu que 94% de seus funcionários sentiram-se mais produtivos no home office. Por isso, permitirá tanto o trabalho no escritório como o remoto total ou parcial, chamado de teletrabalho híbrido, à escolha do funcionário, e com benefícios diferenciados.
Diante deste cenário, deveremos enfrentar os desafios usando inovações digitais, novas técnicas e tecnologias. A maioria das organizações, independentemente do seu tamanho, teve que se reinventar neste "admirável mundo do trabalho" rapidamente, acelerando assim, entre outras estratégias, o desenvolvimento e revisão de seus planos de contingência e continuidade de negócios para se manterem operacionais e competitivas.
E, nesse cenário, muitos gestores se perguntam se estão tomando as medidas corretas para o momento e para o futuro pós-pandemia, como, por exemplo, a implantação de escritórios híbridos.
Desta forma, planejar cenários e executar planos de ação nos capacitará para mitigar parte significativa das perdas decorrentes dessa problemática, abrindo caminhos para a manutenção do negócio nos curto e médio prazos e para a retomada e o crescimento nos próximos anos.
Trabalhar para aumentar a resiliência de todos neste momento de crise sanitária e econômica é fundamental para a sobrevivência do negócio, sendo inclusive um aprendizado essencial para enfrentar novos eventos disruptivos no futuro.
Contras do home office
– Trabalhar em casa, como colaborador, na realidade, não significa uma atividade caseira amadora, pois é necessário disciplina, metas claras e realizáveis e um bom planejamento de ações e, principalmente, de vida;
– Visão preconceituosa dos parentes e amigos;
– Tédio, em virtude do distanciamento social;
– Distração e perda de concentração na execução do trabalho em virtude do intenso relacionamento com os membros da família e das tarefas do lar;
– Gerenciamento falho do tempo em virtude da desatenção e desorganização de horários de trabalho;
– Férias, feriados e fins de semana podem se tornar dias de trabalho, pois muitos empregados não sabem quando parar de trabalhar;
– Sensação de trabalho onipresente, sem hora para acabar, quando lazer e trabalho se confundem;
– Falta de contato e relacionamento pessoal com os colegas de trabalho;
– Falta de infraestrutura tecnológica e de comunicação (scanner, impressora, ferramentas inadequadas de comunicação, conexão precária com a internet, etc.);
– Perda da noção do "todo", pois presencialmente se imagina que é mais fácil entender o que está acontecendo, principalmente para reforçar o alinhamento de objetivos, algo que é fundamental na gestão;
– Participação reduzida de algumas pessoas em reuniões nas videoconferências (algumas não ligam a câmera e só ouvem);
– Os adoecimentos mentais (depressões, estresses, ansiedades) causados pelo excesso de trabalho, como a Síndrome de Burnout, têm também aparente relação direta com o distanciamento requerido pela pandemia.
Vale salientar que, neste regime de trabalho remoto, é preciso ser mais ativo, comprometido e mais intraempreendedor. Caso contrário, as atividades não são realizadas nos prazos estabelecidos e na qualidade desejada.
Prós do home office
– Pode-se recrutar colaboradores a partir de uma área geográfica maior;
– Ocorre menos "turn over" de funcionários talentosos, que, por alguma razão, necessitam mudar de local físico ou geográfico;
– O absenteísmo, em virtude de doenças, tráfego ou tempo ruim, é reduzido;
– Os custos do escritório central podem diminuir e, concomitantemente, poderá haver aumento de produtividade e de eficácia;
– O ambiente de trabalho torna-se mais flexível;
– Os funcionários não precisam ir ao escritório todos os dias, e assim ganham tempo produtivo e têm menos estresses provocados pelos congestionamentos no trânsito, pelas relações conflitantes no trabalho, etc.;
– Há mais tempo com a família e dedicação ao lazer e aos hobbies.
– Reuniões (videoconferências) com mais foco;
– Mais tempo livre (sem o deslocamento e perda de tempo na ida e volta para o escritório);
– Redução de custos para a empresa (aluguel, estacionamento, etc.) e para o funcionário (alimentação e transporte);
– Profissionais conscienciosos desempenham melhor as suas funções durante o período de home office;
– Profissionais com maior abertura a situações novas também têm desempenho melhor.
*Álvaro Augusto Araújo Mello é professor da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP).
Com informações da Assessoria de Imprensa da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP).