quinta, 25 de abril de 2024
Educação financeira nas escolas

"Os pais têm papel central na educação financeira dos filhos", diz nova colunista da SpaceMoney

Ana Fátima C. de Campos, professora da Progress Educacional, programa de educação financeira, passa a colaborar com colunas sobre educação financeira nas escolas

05 outubro 2021 - 14h35Por Redação SpaceMoney
Ana Fátima C. de Campos, professora na Progress Educacional e nova colunista da SpaceMoneyAna Fátima C. de Campos, professora na Progress Educacional e nova colunista da SpaceMoney

Diversos brasileiros manifestam dificuldades para se educar financeiramente. A ausência de planejamento vai desde a falta de organização com gastos do cotidiano até como fazer investimentos para colher bons frutos no futuro. Uma das explicações desse “descaso” é pela carência da spacemoney.com.br/tags/educacao-financeira/">educação financeira nas escolas.

Desde 2020, a professora da Progress Educacional, programa de educação financeira, Ana Fátima C. de Campos, coordena a implantação de um curso de educação financeira para o ensino fundamental. Segundo ela, que a partir desta semana é nova colunista da SpaceMoney sobre educação financeira nas escolas, o objetivo do novo currículo é auxiliar os alunos a organizar suas finanças, como utilizar o dinheiro de forma consciente e fornecer dicas como investir.

De forma exclusiva, a professora conversou com nossa equipe e levantou temas que, de acordo com ela, são essenciais para a formação da consciência financeira de uma pessoa. Ana enfatiza a importância dos pais nesse processo, como os diálogos são fundamentais para isso e que “educação financeira é muito além do dinheiro”. 

Confira, a seguir, a entrevista exclusiva com Ana Fátima, nova colunista da SpaceMoney sobre educação financeira nas escolas:

Como você avalia o andamento da educação financeira nas escolas?

Então, há mais de dez anos, nós tínhamos buscado alguns projetos, alguma tentativa de colocar a educação financeira [nas escolas]. A gente já entendia que seria primordial para que as crianças e adolescentes começassem a pensar sobre o seu futuro. Só que [o projeto] não foi pra frente porque nós tínhamos simplesmente desejos, embora já estávamos tendo boas iniciativas. Um projeto tem começo, meio e fim, mas não tinha uma certa continuidade, porém não gerava mudanças também. 

A outra coisa é que, nesse começo, não consideramos trazer os pais para esse projeto relacionado à educação financeira. Nossos projetos ficavam voltados para a sala de aula. Então, hoje entendemos que a amplitude é que gera, de fato, mudanças de comportamento para que crianças e adolescentes estabeleçam diálogo com seus pais para que falem das questões financeiras familiares e para entenderem como que a gente projeta o futuro. Aí começamos então a entender que faltavam esses elementos fundamentais que são os pais. 

A inteligência financeira precisa também se dispor a aprender e essa disposição significa buscar novos conhecimentos. É viver esses novos conhecimentos para gerar novos resultados, para que, de fato, haja congruência entre o que o educador ensina, para que os alunos também entendam essa essa coerência que deve existir.

Como os pais podem investir na educação financeira dos filhos além da escola?

Nós entendemos que os pais serão participantes deste programa e deixamos isso muito claro que eles precisam estabelecer diálogo. Educação financeira é muito além do dinheiro, e muitos pais ainda acham e trazem essa crença que limitante. Como que esses pais podem ajudar aí? A primeira coisa é estabelecer diálogo. E como eu estabeleço esse diálogo na minha família? Preparando um momento de bate-papo com os filhos.

Sabe onde começa a educação financeira? Quando a criança entende que todo o planeta gira ao redor do umbigo dela, por volta de um ano de idade. Nesse momento, quando o pai satisfaz imediatamente o desejo da criança, ele já está dizendo que quando ela bater o pé um pouquinho mais ela será prontamente atendida. A gente não vai deixar o filho passando necessidade, mas fazer que os nossos filhos gerenciem as vontades já é o início de um de um trabalho que vai seguir em frente. 

Então os pais que atendem aos ataques de birra são os pais que terão problema em falar com seus filhos de algo que ele gostaria de adquirir e não tem condições ou que o pai não quer adquirir naquele instante. No fim, é o filho que vai bater de frente, que vai aumentar a voz. Além de ir muito além do dinheiro, a educação financeira vai trazer primeiro as questões de equilíbrio emocional. Com as funções normais cognitivas nós já temos condições de entender e os pais precisam ter claros que limite e conclusão. Limites colocados de uma maneira afetiva traz previsibilidade à criança. 

Então os pais também ajudam no planejamento da rotina. Tudo isso vai fazendo uma base para que a gente coloque todos os conteúdos da educação financeira para que, de fato, os pais tenham filhos equilibrados emocionalmente, próspero financeiramente; prosperidade significa ausência de necessidade.

Quando eu falo que o filho precisa entender que ele faz parte de uma família, já estamos ensinando a questão da empatia, e eu só consigo falar de outro quando entendo quem sou. Gerencio as minhas emoções para gerenciar meu comportamento e entendo que o outro também tem uma um papel importante e fundamental na minha vida, porque assim estou desenvolvendo competências socioemocionais. 

Como andam seus projetos de implantação da educação financeira nas escolas?

Estão sendo muito bem aceitos.Nós temos algumas premissas e a gente não abre mão dela. Primeiro entender que tem um começo, um meio e um fim. Então, não é só mais um projeto, é um programa que uniu todas as questões das competências emocionais, com as questões da inteligência financeira. 

Esse programa  abrange também todas as partes fundamentais. Com a linguagem, conteúdos específicos e coerentes com a idade e a capacidade cognitiva das crianças. Cuidamos de toda parte de conteúdo, adequando a linguagem e a adequação de metodologia e de estratégias. 

Outra coisa importante é a questão [da participação] dos pais quando estabelecem diálogos. [Através] dessa linha de comunicação os filhos passam a ser colaboradores e não cobradores. Essa mudança de casa ajuda com que os filhos entendam o sucesso que os pais alcançaram, as conquistas que eles tiveram e também seus processos, porque os filhos vão entendendo que dentro dessa dinâmica vão escolhendo quais são os melhores modelos que querem. Se a gente não tem diálogo, teremos um filho que imita o pai tanto no lado positivo quanto no lado negativo. 

Muitos acham que vamos falar apenas de questões do dinheiro e da moeda. Então estamos nos propondo a trazer mudanças de pensamento, eliminando crenças que limitam as crianças e os adolescentes a visualizarem uma vida mais digna.

Como os conteúdos das suas colunas na SpaceMoney podem contribuir para a vida financeira dos leitores?

Acho que vai contribuir muito bem. Abordaremos sugestões que os pais possam começar por em prática e dicas para desenvolver um ambiente estimulador, um ambiente em que a comunicação tenha uma conversa e que a gente ensine planejamento, em que a falemos de orçamento, e de sonhos. Quem, de fato, beber dessa fonte também terá que colocar a mão na massa e trazer esse ambiente para dentro de casa e educadores que porventura venham a aproveitar esses conteúdos também com conteúdos práticos para desenvolver dentro de sala de aula, nos seus planejamentos. 

Vou abordar dicas preciosas e simples que gerarão mudanças nesse ambiente para que haja processos de mudança, tanto para os educadores quanto para os pais percebam que é possível, a partir de um diálogo, mostrar para o filho o valor da conquista, por exemplo. 

Pode parecer utópico, mas vamos alcançar a mudança de uma realidade. Sabemos mesmo o peso que isso tem sobre os nossos ombros, mas vamos encarar nossa posição como uma nobre missão que gerará um impacto tão grande de novas perspectivas.