quinta, 18 de abril de 2024
Imunização

Ministério vê quebra de contrato do Butantan, instituto diz que entregas de CoronaVac acabaram

Pasta enviou um ofício alegando violação na cláusula de exclusividade

23 setembro 2021 - 11h39Por Reuters
Dose de CoronavacDose de Coronavac - Crédito: Geovana Albuquerque /SES-DF

Por Eduardo Simões, da Reuters - O Ministério da Saúde enviou ofício ao Instituto Butantan na quarta-feira após a entrega de doses da vacina contra Covid-19 CoronaVac a Estados, apontando possível quebra na cláusula de exclusividade prevista em contrato, e o Butantan, por sua vez, afirmou que o acordo com a pasta já foi concluído com a entrega de 100 milhões de doses do imunizante.

"O Ministério da Saúde tem um contrato com o Instituto Butantan, esse contrato estabelece a exclusividade no fornecimento das doses. Então até que a gente conclua o contrato, o Butantan, sem o aval do ministério, não pode comercializar doses com outros países ou com outra unidade da federação", disse o secretário-executivo do ministério, Rodrigo Cruz, em entrevista coletiva na noite de quarta.

"A gente soube pela imprensa que o Butantan começou a entregar doses para Estados e a gente mandou um expediente ao Butantan solicitando esclarecimentos neste sentido, porque, no nosso entendimento, até que o nosso contrato seja finalizado, a cláusula de exclusividade deve ser respeitada", acrescentou.

Cruz disse que a pasta aguardará a resposta do Butantan para avaliar se aplicará alguma das penalidades previstas no contrato com o instituto.

Em resposta, o Butantan, que na quarta entregou 2,5 milhões de doses a Espírito Santo, Piauí, Mato Grosso, Pará e Ceará, afirmou que o contrato com o ministério foi concluído no dia 15 deste mês, com o total de 100 milhões de doses repassados à pasta, e lembrou que o ministério não quis firmar um contrato para 30 milhões de doses adicionais da vacina.

"Se o Ministério da Saúde não cumpre a sua obrigação de adquirir vacinas, a pasta não tem o direito de impedir que os Estados e municípios ajam com celeridade para proteger as suas populações", disse o instituto.

"O contrato do Instituto Butantan com o Ministério da Saúde foi concluído no dia 15 de setembro, com a entrega total das 100 milhões de doses da CoronaVac. O próprio site da pasta mostra que o total do contrato já foi entregue", acrescentou.

O site do ministério aponta que foram distribuídas aos Estados mais de 101 milhões de doses da CoronaVac pelo Programa Nacional de Imunização (PNI).

Em entrevista à GloboNews na manhã desta quinta, Cruz voltou a dizer que, no entendimento do ministério, o contrato ainda não foi finalizado, alegando que falta o Butantan substituir doses interditadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) por terem sido fabricadas em unidade do laboratório Sinovac (NASDAQ:SVA) na China não certificada pela agência.

O Butantan, por sua vez, afirma que "já iniciou a substituição dos lotes interditados pela Anvisa".

"Além disso, o governo federal optou por não assinar um contrato adicional para 30 milhões de doses e dá, constantemente, declarações negacionistas para contestar a CoronaVac e desmerecer a importância da vacinação. A compra de vacinas pelos Estados é complementar ao Programa Nacional de Imunizações (PNI) e amparada na legislação vigente", afirma o Butantan.

A CoronaVac tem sido motivo de atritos frequentes entre o governo federal e o governo do Estado de São Paulo, ao qual o Butantan é vinculado. O presidente Jair Bolsonaro e o governador paulista, João Doria (PSDB), são inimigos políticos e Doria é pré-candidato à Presidência no ano que vem, quando Bolsonaro deve tentar a reeleição.

Bolsonaro ataca a CoronaVac constantemente, afirmado de forma errada tratar-se de uma vacina experimental. Ele chegou a descartar a compra do imunizante pelo Ministério da Saúde, afirmando que não inspirava confiança na população devido à sua origem chinesa, mas a pasta acabou por firmar acordo para comprar a vacina.

Doria, por sua vez, tem na CoronaVac, com a qual iniciou a campanha de imunização contra a Covid-19 no Brasil em janeiro, e na vacinação contra o vírus suas principais bandeiras na busca de ser o candidato do PSDB à Presidência, em prévias marcadas para novembro, e para disputar o Palácio do Planalto no ano que vem, caso vença a consulta interna.