quinta, 02 de maio de 2024
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Juros em queda: em quais setores investir nos próximos meses?

Phil Soares, chefe de análise de ações da Órama Investimentos, cita o setor de varejo e consumo como uma boa opção

11 setembro 2023 - 16h03Por Redação SpaceMoney

[Artigo elaborado por Phil Soares, chefe de análise de ações da Órama Investimentos]

 

O contexto macroeconômico aqui no Brasil hoje é razoavelmente promissor. Apesar dos problemas, nos encontramos atualmente com uma inflação sob controle e perspectiva de juros mais baixos. Tivemos agora, no início de agosto, o primeiro corte de juros do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central), e a expectativa é de continuidade deste movimento, conforme observamos na curva futura de juros.

Tendo isso em vista, o mercado acionário é heterogêneo, apresentando muitas opções de investimento. Como escolher as ações que mais vão se beneficiar dessa melhora de cenário?

Este é o assunto do texto de hoje. Vamos fazer uma breve análise econômica dos principais setores da economia representados na bolsa para determinar como devem se beneficiar deste ciclo de corte de juros.

 

Exposição à dinâmica econômica brasileira

O primeiro aspecto a se observar na escolha é em que nível se dá a dinâmica econômica do negócio em questão. A queda nos juros brasileiros terá grande efeito sobre a atividade econômica do Brasil, mas quase nenhum efeito sobre a atividade econômica mundial. Negócios que tenham a sua dinâmica determinada globalmente, portanto, não serão diretamente beneficiados desta componente, que é essencialmente local.

Commodities são um bom exemplo. Petróleo, minério de ferro, celulose e proteínas são alguns negócios cuja dinâmica é determinada fora do escopo brasileiro. Existem bons investimentos em ações nesses setores, com destaque para Prio (PRIO3), Vale (VALE3), Suzano (SUZB3) e Minerva (BEEF3).

Utilities também é outro bom exemplo de setor pouco exposto à atividade econômica brasileira. A rentabilidade de uma distribuidora ou uma transmissora no setor de energia elétrica é majoritariamente determinada pelas condições da concessão, bem como pelo seu desempenho operacional.

Os setores de telecomunicações e saneamento atravessam os seus momentos particulares de transformação, com uma perspectiva positiva, mas com baixa correlação à atividade econômica brasileira. Estes setores têm um perfil econômico defensivo. Os números têm uma piora mais sutil quando o país está em recessão, mas também têm uma leve melhora quando o país está num momento mais aquecido.

O setor de varejo e consumo, em contrapartida, é uma boa opção. Queda nos juros tende a aumentar o consumo diretamente, via uma melhora na capacidade de endividamento do consumidor. Em paralelo, o ambiente mais ameno aumenta investimentos, e, portanto, empregos e renda disponível, elevando consumo.

Dentro desse nicho, o varejo discricionário tende a ser o mais suscetível. Mas, ultimamente, é melhor evitar o segmento. Vemos uma competição especialmente apertada, bem como aspectos tributários de extrema importância ainda com muitas incertezas associadas. No segmento de vestuário, a lógica é a mesma quando o assunto são empresas com público de renda mais baixa. Uma opção que tem se destacado é vestuário de alta renda, com destaque para Vivara (VIVA3) e Arezzo (ARZZ3).

Já no segmento supermercados, temos uma mudança de paradigma. Este nicho, que é tradicionalmente visto como defensivo, hoje exibe uma volatilidade maior, com competição apertada e altos investimentos. Vemos Assaí (ASAI3) como uma excelente opção, visto o crescimento robusto da companhia, margens saudáveis e melhores, bem como alta geração de caixa e um preço razoável.

Saúde é também um bom exemplo de setor com exposição à atividade econômica local. O segmento também está passando por grandes desafios internamente, com níveis de lucratividade em patamares baixos e endividamento alto. Nesse nicho, a preferência é por Rede d’Or (RDOR3), empresa com posicionamento dominante, um excelente produto e vem conseguindo se manter com um economics mais conservado. 

Agora vamos falar do segmento possivelmente mais exposto à atividade econômica, o de incorporadoras. O negócio de incorporação é alavancado por natureza, tanto no produtor quanto no consumidor. A compra de um imóvel é tipicamente a compra mais cara de uma família, financiada com dívida.

Uma melhora na capacidade de pagamento dos consumidores permite a incorporadora vender mais imóveis – componente que costuma ser o gargalo principal do negócio. Temos excelentes opções de incorporadoras listadas para se posicionar, com destaque para Even (EVEN3), Mitre (MTRE3) e Eztec (EZTC3).

No mais, em linhas gerais, empresas com situação econômica corrente fragilizada se beneficiam de melhora na atividade. Assim como as empresas com baixa geração de caixa e alta necessidade de investimentos, vide algumas do setor tecnológico, e as empresas com altos níveis de endividamento, como as de turismo e linhas aéreas. Todas são boas opções. Só lembre-se de manter um nível razoável de diversificação na sua carteira e não colocar todos os ovos na mesma cesta para atenuar a volatilidade do investimento.