segunda, 18 de março de 2024
Artigo

Cuidado, Lula

Falta ao Messias petista, e a seus parceiros, a humildade de um mea culpa

01 dezembro 2021 - 14h54Por Humberto Mariano

De modo diverso de 95% dos brasileiros e de 100% dos amigos próximos, eu admiro os políticos e a política. E não apenas a ciência política.

Gosto de acompanhar a política partidária, que não é outra coisa senão a prática da ciência política com vistas ao exercício do poder. Nos políticos, admiro a coragem e a audácia de, a cada quatro anos, submeter-se ao escrutínio do eleitorado.

Participar, como candidato, de uma campanha eleitoral é um exercício de paciência, persistência, resistência e estoicismo digno de um herói da mitologia grega. 

São clássicos de uma campanha: a coxinha gordurosa, a maionese estragada, o café frio e açucarado ao gosto do anfitrião, o bêbado interrompendo o discurso, as milhares de fotos, que um dia podem ser usadas contra o candidato, os impropérios da “multidão” e os mais disparatados pedidos.

Admiro, também, o ecletismo dos políticos. Apesar de ostentarem, sempre, a mesma expressão, – que os maldosos chamam de “cara de pau” −, seja numa recepção ao Presidente da França no Palácio dos Arcos (Itamaraty), seja numa reunião com uma comunidade na Zona Leste II da capital paulista, eles conseguem adaptar seus discursos e suas promessas ao que deseja ouvir cada uma das audiências.

Entretanto, como qualquer mortal, os políticos têm seu “calcanhar de Aquiles”, o ponto vulnerável. Aquele que pode levá-los a memoráveis derrotas ou, ainda que por raríssimas vezes, à cadeia ou ao ostracismo: a vaidade.

Claro que a vaidade não é exclusividade dos políticos, mas entre eles é, sobretudo, onipresente. Em resumo: políticos são corajosos, audazes, astutos, persistentes e vaidosos.

Servem-se dessas “virtudes” para compensar o que lhes falta em inteligência e cultura, salvo algumas brilhantes exceções, geralmente representadas por um carioca, radicado em São Paulo, sociólogo, professor aposentado da USP e presidente de honra de um partido outrora grande, democrático-social e honesto.

Não há, na política brasileira, maior exemplo de todas essas “virtudes” que o Sr. Luiz Inácio Lula da Silva, também presidente de outro partido político que já foi socialista, democrático e honesto.

Desde 1980, a versão tupiniquim do Guia Genial dos Povos comanda, com mãos de veludo, o Partido dos Trabalhadores, onde é tratado como a quarta pessoa da Santíssima Trindade, que assim como a primeira tem os dons da onipotência, onisciência e onipresença.

Justiça seja feita ao ex “sapo barbudo”. Nenhum ser humano deixaria de desenvolver a vaidade, em seu nível mais extremo, diante de tanta adoração, bajulação e submissão de seus comandados, entre eles, boa parte da imprensa brasileira.

Lula, no atual momento político, segue confortável na frente nas diversas pesquisas de intenção de voto e venceria, segundo estas, todos os outros candidatos num eventual segundo turno. Ele e seu séquito acreditam piamente nesse cenário. Pode até ser verdadeiro, mas há um perigo à espreita nesse caminho e ele passa pela vaidade exacerbada do petista.

Luiz Inácio dá-se ao luxo de esperar que todas as outras candidaturas se definam, afirmando, malandramente, que não sabe ainda se será candidato. Balela, claro.

Seu partido não tem outra alternativa, porque seu líder nunca se preocupou em fomentar novas lideranças que um dia viessem questionar ou ofuscar seu papel no partido e na política nacional. Haddad e Dilma estão aí para provar. Na hora decisiva, foram jogados aos leões e a imagem do “mártir” ficou para nosso Stálin do ABC.

Mea culpa

Não estou comparando, a sério, Lula com Stalin. Nós já temos um candidato a ditador e a genocida, mas este não é ainda ex-presidente como o petista. Lula não mandou ninguém para a Sibéria, não mandou matar desafetos políticos e nem eliminou a elite das Forças Armadas quando foi presidente.

Está longe dos “feitos” do ditador soviético, mas precisa o quanto antes ceder a alguma espécie de revisionismo. Um revisionismo sadio que o faça enxergar que ditaduras são sempre nocivas, sejam de esquerda ou de direita; que nem tudo que é ruim para os EUA é bom para o Brasil; que os dezesseis anos de poder de Angela Merkel não têm nada a ver com o mesmo período de Daniel Ortega na Nicarágua, não apenas na forma como foram alcançados, como também pelos resultados trazidos aos respectivos países.

Há riscos para o petista. Parte expressiva da classe média anda insatisfeita com o capitão reformado pelo Exército por indisciplina, mas não se mostra disposta a cair nos braços da esquerda. Tal como seus avós, de 1964, tem medo do comunismo como se este ainda existisse em algum lugar do mundo.

Por outro lado, os mais pobres e as elites, segmentos que foram bastante privilegiados nos dois mandatos de Lula, podem ser cooptados pelo seu rival mais direto (e único, até agora). Para os pobres, o criador da “Nova Política” e fundador da Era da Honestidade oferece um “novo” programa social, que de novo só tem o nome e a incerteza de continuidade.

Para os muito ricos, mais promessas de privatização e liberalização da economia, reformas disso e daquilo, que, ao final, serão dilaceradas pelo Congresso, qualquer que seja.

Falta ainda ao Messias petista e seus parceiros a humildade de um “mea culpa”, que venha sob forma de pedido de desculpas à nação e declaração de sincero arrependimento pela corrupção estratosférica de suas gestões. Corrupção praticada, permitida e tolerada em todas as instâncias e ministérios; corrupção ativa e passiva; mensalões e petrolões; sítios e apartamentos; empréstimos a fundo perdido e financiamentos generosos aos “campeões nacionais”.

Sim, a Justiça, em instâncias superiores, os absolveu, mas não pelo mérito de cada ação e sim por falhas nos processos, ineficiência e arrogância de juízes e procuradores. É hora de aprender com os erros. Não haverá outra chance.

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