Criptomoedas

Como entender o timing antes de investir em cripto

Como a alta dos juros, regulamentações recentes e o Drex impactam as decisões de investimento em criptomoedas no Brasil

Timing
Mercado de criptomoedas e dispositivos móveis: investidores analisam gráficos e tendências para determinar o melhor momento de entrada | Crédito: Pexels

O brasileiro nunca teve tanta pressa, e tanta cautela, para entrar em cripto. A princípio, um boom colocou o país entre as dez nações que mais usam moedas digitais, de acordo com o Global Crypto Adoption Index 2024 da Chainalysis. No entanto, o Brasil desceu para a 10ª posição, mas continua líder na América Latina e responde por 0,265 ponto do índice global de adoção.

Essa densidade de usuários convive, hoje, com a taxa Selic mais alta desde 2006, 15% ao ano, mantida na reunião do Copom de 30 de julho de 2025. Juros agudos, inflação ainda projetada acima da meta e um real fortalecido pelo influxo de capital tornam o timing um fator decisivo. Investidores devem entrar, ou aumentar posição, quando há fluxo de entrada estrangeira. Acima de tudo, não podem ignorar que a volatilidade duplicou em comparação ao registrado no Ibovespa nos últimos tempos.

Conhecimentos que importam para o investidor

“Subiu, comprou” nunca funcionou tão pouco. Em maio, o Bitcoin superou pela primeira vez os 100 mil dólares. Especialistas afirmaram que a maior criptomoeda estava 10% abaixo do pico histórico, reacendendo a discussão sobre uma nova altseason. Logo depois, o mesmo ativo recuou, lembrando que cada investidor precisa desenvolver um método para decidir o momento de alocar capital.

É por isso que permanece a dúvida sobre qual a melhor criptomoeda para investir hoje. Não se trata apenas de uma lista de moedas quentes. Pelo contrário, o mundo cripto hoje exige toda uma análise de políticas monetárias, métricas on-chain, liquidez em reais e sentimento de mercado. Além disso, a alta da Selic não é o único vetor.

O Marco Legal das Criptomoedas (Lei 14.478/22) já confere ao Banco Central e à CVM poderes de supervisão sobre prestadores de serviços de ativos virtuais. Ao mesmo tempo, o BACEN avança no Drex, o real digital. A página oficial da autoridade monetária lista a segunda fase do projeto-piloto, que testa contratos inteligentes.

No front fiscal, a Receita Federal encerrou em janeiro a consulta pública que cria a Declaração de Criptoativos (DeCripto), uma evolução da IN 1.888/2019. Esta obrigará corretoras e grandes investidores a detalhar transações mensais a partir de 2026. Não por acaso, entre janeiro e setembro de 2024, as importações líquidas de cripto já cresceram 60,7% e somaram 12,9 bilhões de dólares.

Superaram, assim, todo o ano anterior. E 70% dessas transações envolveram stablecoins, segundo o Banco Central. Como resultado, a consequente transparência, e eventual tributação, modifica o cálculo de custo de oportunidade para quem decide segurar tokens no curto prazo.

Quatro pilares da análise fundamental

  • Propósito do projeto: Analise o whitepaper e a governança a fim de verificar se a criptomoeda resolve um problema real ou apenas segue modismos.
  • Equipe e financiadores: Verifique quem está por trás da iniciativa; times sediados no Brasil podem usar o Sandbox Regulatório da CVM, mas precisam obedecer à Lei 14.478/22.
  • Economia do token (tokenomics): Avalie o cronograma de desbloqueios. Grandes liberações iniciais geram pressão de venda. Por exemplo, o Ethereum já queimou cerca de 1,99 milhões de ETH desde o Merge, mostrando o impacto da oferta no preço.
  • Roadmap e parcerias: Confirme metas e entregas futuras. Atrasos afetam a confiança.

Indicadores de mercado: On-chain e de negociação

Se o câmbio afeta a porta de entrada, a própria rede blockchain revela pistas do calor do ciclo. A dominância do Bitcoin caiu diversas vezes desde 2024, ficando abaixo dos 56%. Atualmente, está em 59%. Em contrapartida, o volume diário das dez maiores altcoins em exchanges nacionais saltou de R$ 4,1 bilhões para R$ 6,8 bilhões no mesmo período.

Um salto de 65% foi possivelmente impulsionado pela adoção de ETFs de cripto na B3. Para além de preços, métricas como MVRV (que mostra lucro não realizado) e TVL em protocolos DeFi puxados por real digital tokenizado indicam sobre-valorização de carteiras antigas. Da mesma forma, mostram rotação de capital para aplicações de renda fixa on-chain com rendimentos de 7% a 12% ao ano.

Porém, nem só de dados duros se faz o timing. Em fevereiro de 2025, o Fear & Greed Index apontou leitura “Medo” em 44 pontos, historicamente associada a repiques. Sem dúvida, isso coincidiu, dois dias depois, com um salto de 4% no preço do BTC em reais.

Conclusão: Educação financeira como melhor hedge

Criptos recompensam quem estuda porque o mercado muda depressa. Contratos futuros quebram recordes de volume, o Drex promete tokenizar títulos públicos e a Selic em patamar elevado redefine cálculo de oportunidade. Em suma, transformar dados em método, e método em disciplina, é o que distingue o investidor cronista do investidor protagonista.

Este texto não é um conselho de investimento, é uma tentativa de manter os entusiastas de criptomoedas cientes dos desenvolvimentos recentes. Quem optar por investir em algum ativo mencionado em qualquer texto o faz por sua conta e risco.