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Viagens adiadas e mais caras: o efeito da Covid-19 sobre os intercâmbios estudantis

16 dezembro 2020 - 10h19Por Larissa Vitória

Estudantes com data marcada para deixar o Brasil e cursar parte de sua graduação em outro país — ou passar alguns meses aperfeiçoando uma língua estrangeira com falantes nativos — tiveram de refazer planos após o início da pandemia de Covid-19. 

E a revisão não atingiu apenas as datas de ida e volta, mas também as reservas econômicas e o planejamento financeiro de muitos estudantes. Otavio Ornelas, aluno de publicidade e propaganda na Universidade de São Paulo (USP), pediu demissão de um estágio no Itaú para cursar um período da graduação na Universidade de Newcastle, no Reino Unido, no segundo semestre deste ano.

Com a viagem adiada por duas vezes consecutivas e prevista para acontecer apenas em setembro de 2021, o estudante de 22 anos ficou desempregado e usa parte das reservas financeiras que fez para o intercâmbio para manter o pagamento de suas contas em dia.

“Eu conseguia poupar metade do meu salário do banco e pude juntar uma boa grana, que arcaria com 70% do valor do intercâmbio, no tempo que estive lá. Agora estou procurando estágio novamente e utilizando o dinheiro que eu tinha guardado na minha reserva de emergência para viver”, conta ele.

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Mudança de data vira alternativa

A decisão de adiar a viagem pela primeira vez partiu da universidade, já a segunda foi iniciativa de Ornelas: “No final do mês passado, entrei em contato com a universidade e decidi adiar por mais um semestre por medo de que meu intercâmbio ficasse comprometido”.

O adiamento tornou-se uma das alternativas mais buscadas para resolver o dilema dos intercâmbios na pandemia e evitar os cancelamentos, segundo Arlene de Godoy, proprietária da Mundial Intercâmbios, agência desse segmento. “Eu digo que foi meio a meio: metade teve de desistir da viagem e ainda estamos em processo de reembolso e a outra parte prorrogou para outra data”, afirma.

A diretora ressalta que concessões feitas por instituições internacionais e empresas foram essenciais para tornar viável essa alternativa: “As escolas do exterior não cobraram multa e as companhias aéreas também estão dando um ano de prazo para os jovens decidirem a data em que querem viajar”.

Câmbio encarece viagens

Mesmo com as concessões, ainda há desafios para quem teve os planos adiados. Ornelas contava com a oportunidade de concorrer a bolsas acadêmicas de até R$ 20 mil, oferecidas pela USP todos os anos aos intercambistas, para ajudar no financiamento. Com a pandemia, os editais foram suspensos e ele agora encara a perspectiva de pagar por conta própria toda a viagem, com custos que, no início do ano, eram estimados em R$ 30 mil.

O planejador financeiro Afrânio Alves explica que quem precisou adiar o intercâmbio para qualquer momento futuro terá despesas mais caras mesmo que mantenha o mesmo prazo, no mesmo destino e escola. O motivo? A desvalorização do real em relação às moedas dos principais destinos escolhidos por brasileiros.

 

“Com a libra [esterlina, moeda do Reino Unido] cada dia mais cara, ainda faltam cerca de 30% do valor que provavelmente terei de pegar emprestado com o banco ou alguma empresa, algo que eu gostaria de evitar”, calcula Ornelas.

Os dados cambiais históricos sobre a libra esterlina confirmam a afirmação dos dois: a moeda estava cotada em R$ 6,92 por volta das 10h30 do dia 16 de dezembro, contra R$ 5,32 no primeiro dia de 2020. 

O câmbio não afeta somente quem pretende passar uma temporada na Grã Bretanha. A estudante Gabriela Bonin, que planeja aperfeiçoar seu espanhol por um semestre em Málaga, na Espanha, também teve de refazer suas contas após o adiamento do intercâmbio.

“Vendo o euro subir me perguntei se a viagem ainda iria acontecer. Precisei sentar com os meus pais e ver se o que eles tinham economizado e o que eu tinha guardado desde que comecei a estagiar ainda daria conta. Mas a gente tem essa noção de que os gastos serão maiores que o esperado”, declara a aluna de jornalismo da USP.

Como se proteger da variação

“O dólar teve uma alta expressiva, de perto de 30% até setembro e outubro, para começar a cair pós-eleições norte-americanas. Contudo, ele ainda está bem mais caro do que no primeiro semestre”, aponta o planejador financeiro, que é criador do site Meu Consultor Financeiro.

Considerando esse cenário, ainda sem previsão de que as moedas estrangeiras retornem ao patamar pré-pandemia, Alves indica que há dois modos de blindar suas economias do “sobe-e-desce” do dólar, euro ou outras moedas.

O primeiro é por meio da realização de investimentos em fundos cambiais, que executam um trabalho de proteção contra a flutuação do câmbio. Alves ressalta, porém, que cada fundo tem critérios de resgate diferentes aos quais os estudantes precisam se atentar antes da aplicação. 

A segunda estratégia é mais simples, segundo o planejador: “As pessoas podem comprar a moeda em espécie aos poucos e guardá-la tanto em casa quanto em cartões que funcionam como pré-pagos e podem ser utilizados no exterior com a função débito”.

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Para quem ainda não estava com a viagem marcada, mas pensa em fazer um intercâmbio no próximo ano, há outras dicas, além da proteção cambial, que podem otimizar o processo e tornar possíveis viagens de curta, média ou longa duração.

O planejamento, explica Alves, começa já na escolha do destino: “Um impacto muito grande no orçamento é o custo de moradia, alimentação e transporte. Em cidades maiores e mais famosas, esses itens costumam pesar mais no bolso”.

Portanto, conforme complementa Arlene, diretora da Mundial Intercâmbios, a grande dica é escolher destinos com custo de vida baixo. “Se a pessoa quer estudar inglês na Inglaterra, por exemplo, a gente sugere que ela vá para Liverpool, Bournemouth ou outras cidades que têm um custo de vida bem baixo na comparação com Londres”, conta ela.

Liste as despesas

Após a escolha de um destino mais econômico, Alves aponta que o estudante deve dividir a tarefa do planejamento em duas etapas: o pré-intercâmbio e a viagem de fato. “Existem custos separados para cada uma dessas fases. Por exemplo, passaporte, visto e outras documentações exigidas precisam ser pagas antes da viagem”, completa ele.

Com a etapa preparatória pronta, é preciso olhar para questões como moradia, alimentação e transporte no exterior, além de considerar também os custos com lazer. “Somamos todos esses gastos para uma visualização de quanto a viagem custará no total, sempre considerando o preço na moeda do destino”, cita o planejador.

Arlene indica que os interessados devem ficar atentos às condições e preços especiais oferecidos por conta da pandemia de Covid-19. “As escolas têm feito promoções muito boas a quem vai se matricular até o final de dezembro para início das aulas em qualquer data do ano que vem”.

Adiantar alguns processos, como a compra de passagens aéreas, também costuma ter efeito positivo no bolso. “Para passagens nacionais, com três meses de antecedência temos promoções e preços mais econômicos. Já para as internacionais esse prazo costuma ser de seis meses ou mais”, conclui o planejador financeiro.

Poupar é essencial

Mesmo com todo o planejamento, os estudantes ainda precisam considerar qual será a fonte dos recursos que financiará a viagem: poupanças pessoais e familiares, bolsas acadêmicas ou empréstimos.

Gabriela Bonin avisou aos pais de que gostaria de fazer um intercâmbio no início da faculdade, em 2017, e eles reservam uma soma com essa finalidade desde então. Quando começou a estagiar, a estudante de 21 anos passou a poupar recursos próprios também: “Agora, com a pandemia, estou gastando ainda menos, mas eu costumo guardar sempre de 60% a 70% do meu salário”.

Otavio Ornelas, que não contará com a ajuda financeira dos pais, conta que viver na moradia estudantil ajudava em seu controle de gastos. “Com o salário do banco eu conseguia poupar cerca de R$ 1 mil todo mês”.

Com os recursos em mãos, é importante ainda definir onde eles serão alocados até o momento do uso. A poupança tradicional, com a taxa Selic na mínima história de 2% ao ano, não protege mais o dinheiro contra a desvalorização e por isso pode ser descartada.

Entre as alternativas disponíveis, além dos fundos cambiais já citados anteriormente, estão aplicações em renda fixa e fundos de investimento. Essa foi a escolha dos dois estudantes.

A aluna de jornalismo investe mensalmente o dinheiro economizado. “Confesso que eu não sei muito de economia, mas meu pai sempre me instrui nesse quesito. Tenho uma parte aplicada em renda fixa e agora comecei a diversificar um pouco mais com ofertas de fundos imobiliários”.

Já o estudante de publicidade descobriu mais do mundo dos investimentos com a ajuda de youtubers. “Fui vendo vídeo na internet do Me Poupe, da Nathalia Arcuri, Nath Finanças e fui aprendendo sozinho sobre como investir”.

Ornelas, que passou pelo Tesouro Direto no início das aplicações, hoje tem um Certificados de Depósito Bancário (CDB) e uma Letra de Crédito Imobiliário (LCI) em sua carteira de investimentos. E mantém o dinheiro de sua reserva de emergência em uma conta de banco digital com rendimento automático.

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