sexta, 07 de junho de 2024
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Crise da Americanas (AMER3) completa um ano: quais as perspectivas para a companhia em 2024?

Fraude financeira reportada em janeiro de 2023 já acumula vários capítulos e nenhum responsável

11 janeiro 2024 - 10h15Por Mari Galvão
Fachada Americanas - Shopping Rio Sul RJ Fachada Americanas - Shopping Rio Sul RJ - Crédito: Gustavo Lacerda

No dia 11 de janeiro de 2023, foi divulgada a informação sobre o alto endividamento da Americanas (AMER3). A notícia, no entanto, foi veiculada simultaneamente à renúncia do então CEO, Sergio Rial, que havia assumido o cargo no dia 2 de janeiro. 

Quando chegou à frente da companhia, Rial analisou os números com o CFO da empresa, André Covre. Assim que percebeu inconsistências contábeis, o então diretor-presidente emitiu um comunicado oficial sobre o tema e renunciou ao cargo. 

A princípio, a companhia deixou um montante de R$ 20 bilhões de dívidas de fora do balanço patrimonial da empresa.

Após a renúncia, o CEO também prestou esclarecimentos sobre a situação da empresa, o que trouxe pânico aos credores, que passaram a pedir a antecipação do pagamento da dívida.

No total, quando considerado o valor dos pagamentos devidos e os juros dessas dívidas, a companhia possuía um endividamento superior a R$ 40 bilhões.
 


O que aconteceu? 

Em 13 de junho, a companhia divulgou um relatório que reportava como a companhia chegou nesta situação. O documento aponta que as demonstrações financeiras da empresa tinham sido fraudadas pela antiga diretoria da companhia, que atuou até o fim de 2022.

Entre os nomes estão os de Miguel Gutierrez (à frente do comando da Americanas por 20 anos), Anna Saicali (presidente da Ame Digital), Timotheo Barros (vice-presidente) e Márcio Meirelles (vice-presidente).

O relatório também diz que toda a diretoria anterior da empresa trabalhava em conjunto para esconder o esquema de fraude e manipular o aumento dos lucros da companhia.

O movimento resultava em pagamentos de bônus altos para os executivos da empresa.

Na última década, a Americanas pagou mais de R$ 500 milhões à diretoria, número muito acima do que outras empresas do segmento pagaram a seus diretores.

O documento diz não ser possível afirmar qual era o nível de conhecimento de cada sócio em relação aos números da companhia.

 

Investigação na CVM

No dia 22 de dezembro, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) atualizou o andamento das investigações sobre os processos relacionadas a Americanas (AMER3). 

Para analisar a suposta fraude contábil da empresa, o órgão regulador organizou uma força-tarefa com diversas de suas superintendências.

Uma das novidades do órgão incluiu a realização de um acordo no âmbito do processo aberto para investigar possíveis irregularidades na divulgação de notícias, fatos relevantes e comunicados pela varejista em janeiro. 

Em relação aos inquéritos administrativos, a CVM ouviu alguns funcionários e ex-funcionários da companhia, como executivos e ex-executivos, tais como Sergio Rial e André Covre. Um dos acionistas de referência, Carlos Alberto Sicupira, também prestou seu depoimento. 

Em meio aos procedimentos da autarquia, existem oito processos administrativos (sem acusação formulada) em andamento para tratar desta investigação.

 

Recuperação judicial 

No dia 19 de dezembro, a companhia conseguiu aprovação de seu plano de recuperação judicial em Assembleia Geral de Credores (AGC), com apoio de mais de 90% dos votantes. 

Espera-se que a homologação do plano ocorra em janeiro de 2024, após o recesso do Poder Judiciário.

A empresa entrou com um pedido de recuperação judicial em janeiro deste ano, na 4ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro. No entanto, precisava dessa aprovação para começar a movimentar o plano. 

O atual CEO da Americanas, Leonardo Coelho, afirmou em nota que o plano cria um "caminho bem pavimentado para a reconstrução operacional e financeira" da companhia

“O plano aprovado nos permite uma reestruturação de dívida e equacionamento financeiro para que possamos focar na estratégia de negócios e na meta de rentabilidade positiva em 2025, com plena captura da transformação que estamos promovendo em toda a companhia”, afirmou a CFO da Americanas, Camille Faria.

O trio de acionistas de referência da varejista, formado por Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, comunicou que adiantaria R$ 3,5 bilhões à companhia até quinze dias após a homologação do plano de recuperação judicial.

O valor integra o aporte total de R$ 12 bilhões que os três sócios farão na companhia durante o plano de recuperação judicial. Segundo a varejista, esse adiantamento vai viabilizar os primeiros pagamentos.


Qual o futuro da empresa? 

Phil Soares, chefe de análise de ações da Órama, afirmou que a casa permanece cautelosa em relação à ação da empresa. "A companhia ainda não achou um ponto de equilíbrio em sua operação [...] a companhia sobrevive há muito tempo acima de aporte e a solução para isso pode ser difícil", ressalta.

O analista também ressalta que a companhia já está inserida em um setor competitivo, aliada aos desafios para obter lucros, esse cenário se torna ainda pior. A Órama tem preferência pelas ações da Magazine Luiza (MGLU3) no setor de varejo. 

Em novembro deste ano, a Americanas (AMER3) divulgou ao mercado seu plano estratégico de negócios até 2025. A companhia projeta atingir um EBITDA (sigla em inglês para lucro antes de juros, impostos e depreciação) de R$ 2,2 bilhões. 

Após a fraude financeira, a companhia informou que tem centrado esforços na continuidade do negócio, com expectativas sobre o plano de recuperação judicial aprovado.  

O trabalho de revisão e correção dos registros contábeis anteriores apontou para um patrimônio líquido negativo de R$ 26,70 bilhões e dívida líquida real de R$ 26,30 bilhões no dia 31 de dezembro de 2022. 

No ano, a Americanas registrou um prejuízo de R$ 12,90 bilhões e EBITDA negativo de R$ 6,2 bilhões, segundo as demonstrações financeiras auditadas e enviadas à Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
 
O plano de negócios da “nova Americanas” foca na fortaleza e resiliência do canal físico, apoiado pelas operações digitais. 

A companhia também cita o portifólio de serviços financeiros customizados da Ame e pela diversidade de seu retail media, que rentabiliza seus ativos por meio de advertising. 

“Essa transformação dará maior protagonismo ao seu DNA figital (físico + digital) gerando um pacote consistente de entregas aos clientes e parceiros, com todos os modelos possíveis de um varejo de variedades como a Americanas”, afirma a Americanas. 

 

Matéria originalmente publicada no dia 28 de dezembro de 2023.