sexta, 26 de abril de 2024
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Maio chegou: quais são os melhores investimentos para o mês? O que esperar?

Analistas comentam o cenário de alta volatilidade impulsionado por fatores externos e pela proximidade das eleições e indicam a renda fixa como a melhor solução para se proteger

02 maio 2022 - 17h00Por Lucas de Andrade

Abril chegou ao fim com um gosto amargo para os investidores do mercado de ações brasileiro. No mês, o Ibovespa se desvalorizou em 10,10%. Após testar a máxima de 121 mil pontos logo no primeiro dia de negociações, o índice encerrou o último pregão de abril aos 107.876 pontos, após cair 1,86%.

As sessões foram fortemente marcadas por uma aversão global ao risco. Durante todo o mês houve sinalizações de que o Federal Reserve poderia elevar a taxa de juros norte-americana antes e em níveis maiores que o esperado. As expectativas consensuais são de um acréscimo de 0,5 p.p., mas a decisão deve ser confirmada apenas na próxima quarta-feira (4).

As mesmas expectativas contaminam os agentes do mercado financeiro aqui no Brasil. Na mesma quarta-feira (4), o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC), deve anunciar o novo patamar da taxa Selic. Analistas esperam uma elevação de 1,0 p.p. aos juros, que passariam a ser de 12,75% a.a.. 

Entretanto, declarações de Roberto Campos Neto, presidente da autoridade monetária, sinalizavam que o ciclo de alta da Selic estaria próximo ao fim. Mas, entre os investidores, sobram desconfianças quanto às afirmações. Sinais cada vez mais evidentes de que as pressões inflacionárias continuarão não entusiasmam investidores. O IPCA-15 anualizado, com a divulgação da prévia da inflação para o mês de abril, chegou a 12,03%.

Além disso, a guerra entre Rússia e Ucrânia pressiona o preço das commodities no mercado internacional, enquanto a União Europeia busca meios de introduzir um embargo ao gás e petróleo russos. E a China preocupa todo o globo enquanto implementa medidas ainda mais restritivas para conter o avanço da Covid-19 no país, com números satisfatórios em Xangai, mas pouco animadores em Pequim.

Sell in may and go away?

José Cassiolato, sócio da Nexgen Capital, relembra o termo “sell in may and go away!”, que, traduzido para o português significa “venda em maio e vá embora!”. 

A frase se baseia num desempenho inferior histórico que algumas ações desempenham no semestre de “verão” no hemisfério norte, que inicia em maio e termina em outubro. O ditado aponta uma estratégia: se um investidor vende suas ações em maio, ele pode investir nos mesmos papéis a partir de novembro.

“Existe essa máxima que, no fim das contas, parece fazer algum sentido se considerados os desafios que começam. Tanto no ponto de vista geopolítico, quanto pela mudança no regime monetário internacional e aqui, no Brasil, também por conta de um cenário acirrado em termos de eleições”, conta Cassiolato.

O executivo relata que a Nexgen Capital tem realizado movimentações nas carteiras dos clientes. 

Temos privilegiado ativos com bastante liquidez e que se beneficiem do movimento de alta dos juros. Tanto no universo dos títulos de renda fixa pós-fixados, com atenção aos isentos como estratégias de crédito pós-fixado também, e, em termos de B3, estamos de olho nos bancos que estão relativamente bem descontados, se considerados os preços de final de abril”, afirma.

“É preciso fazer movimentações táticas que te permitam, num momento de volatilidade como o que a gente vive, se aproveitar de alguns exageros do mercado”, complementa.

Renda fixa, porto seguro para o mês

Rodrigo Knudsen, gestor da Vitreo Investimentos, avalia que o cenário atual tem sido marcado por alta complexidade. O executivo classifica os lockdowns da China como “inexplicáveis” e pontua que as medidas atrapalham a recuperação mundial, principalmente o que se relaciona à cadeia de suprimentos. 

Com esse evento imprevisível somado à volatilidade trazida pelas eleições e as incertezas da guerra entre Rússia e Ucrânia, Knudsen classifica a escalada da inflação e dos juros como o grande obstáculo para o qual os investidores precisarão estar atentos para driblar. E a renda fixa, novamente, foi a indicação.

“Em curtíssimo prazo, invista no CDI. Escolha um fundo Selic, que tenha liquidez zero. Ele rende 11,75% e, a partir de maio, deve render 12,75%. Se bobear, vai ser a maior rentabilidade do mês, mas eu garanto que vai ser o maior risco para investir e navegar nesse cenário tão complicado”, indica.

Na avaliação do executivo, a B3 está extremamente barata e suas perspectivas para longo prazo são de alta. 

“Mas, como o risco aumenta quando há notícias sobre a China, sobre guerras, sobre dados de inflação acima do esperado nos Estados Unidos, o Ibovespa cai. Bolsa significa alto risco no mês, embora, no longo prazo, pareça melhor”, pontua.

Knudsen alerta também para os investidores em ações e BDRs de empresas estrangeiras. “As bolsas lá fora estão em patamar mais elevado e os juros ainda não subiram tanto por lá. Mas saíram diversos resultados ruins da Netflix, da Amazon e da Apple. Não tomaria esse risco, ainda mais agora que o dólar voltou ao patamar de R$ 5. Nada indica se ele vai continuar em alta. Até aí, não seria uma boa aposta também”, diz.

Dado o cenário de incertezas, o executivo indica para os investidores a escolha por produtos de renda fixa, principalmente os pós-fixados em DI. “O CDI está num patamar altíssimo e rende 1% ao mês”, conclui.