Por Marta Nogueira e Nayara Figueiredo, da Reuters – Nova joint venture criada por Vibra Energia e Copersucar deverá transacionar em seu primeiro ano de atuação 9 bilhões de litros de etanol, com 30 bilhões de reais de faturamento, tornando-se a maior comercializadora do biocombustível no Brasil, conforme explicaram executivos de ambas sócias nessa segunda-feira.
Inicialmente, a previsão é que cerca de 90% do volume anual da nova companhia –que ainda será nomeada– seja originado e vendido no mercado doméstico, mas a expectativa é que transações internacionais ganhem mais peso ao longo do tempo, apontaram eles, sem prever montantes.
"Na medida em que o etanol se transforma em commodity global, e a gente acredita que isso vai acontecer ao longo dos próximos anos nessa transição energética que estamos vivendo, os fluxos de exportação e importação serão cada vez maiores", disse o diretor Comercial e de Operações da Copersucar, Pedro Paranhos.
O volume a ser negociado no primeiro ano da empresa representa cerca de 30% da produção brasileira de etanol prevista para 2021/22.
A Eco-Energy, controlada da Copersucar nos Estados Unidos, não fará parte da sociedade, mas poderá fechar negócios com a nova companhia, caso seja interessante e estratégico para ambas as partes.
Para a formação da joint venture, a Vibra irá adquirir da Copersucar ações representativas de 49,99% do capital social da nova empresa por 4,99 milhões de reais, enquanto a empresa do setor sucroalcooleiro manterá fatia de 50,01%.
Após as devidas aprovações da operação pelas autoridades competentes, as acionistas irão aportar na nova sociedade mais 440 milhões de reais para a entrada em operação da joint venture.
Atualmente, a Vibra movimenta entre 6 bilhões e 6,5 bilhões de litros de etanol, em sua atividade de distribuição. Já a Copersucar comercializa entre 4,5 bilhões e 5 bilhões de litros do biocombustível produzidos pelas usinas vinculadas à cooperativa.
As ações da empresa fecharam em baixa de 0,44% nesta segunda-feira, enquanto o Ibovespa recuou 0,78%.
Operação
Toda a produção das 34 usinas associadas à Copersucar será comprada pela nova comercializadora, de onde também virá o biocombustível a ser comprado pela Vibra Energia.
A joint venture, por sua vez, será livre para comprar etanol no mercado e não somente das usinas da Copersucar, bem como poderá vender etanol para outros clientes além da Vibra, incluindo outras distribuidoras, de modo a aumentar a sua capilaridade e abrangência no mercado de etanol.
"Objetivo dessa empresa é justamente transacionar majoritariamente com terceiros", disse Paranhos.
A nova empresa, pontuaram os executivos, será uma companhia de mercado, seguindo um modelo de plataforma aberta, com uma mesa de compra e outra mesa de venda de etanol, doméstica e internacional, visando a otimização de fluxos.
O presidente da Vibra, Wilson Ferreira Jr., destacou que a joint venture terá acesso à logística de ambos os sócios, "extremamente capilarizada no Brasil".
"Nós, como investidores da companhia, vamos ganhar exatamente pela eficiência da operação da nossa joint venture; o resultado para nós é principalmente como acionistas", afirmou Ferreira.
O presidente da Vibra destacou que o negócio é parte das iniciativas da empresa que visam sua transformação de distribuidora de combustíveis em uma companhia de energia, com foco na transição energética.
O anúncio foi avaliado positivamente por analistas de mercado, que veem potencial para geração de sinergias logísticas e ganhos operacionais.
"Esperamos (que o negócio) gere sinergias logísticas no lado da distribuição de combustíveis, bem como melhore o abastecimento de etanol da Vibra", afirmaram analistas do Credit Suisse, em nota a clientes.
Já especialistas do BTG Pactual também pontuaram que o anúncio está em linha com a estratégia da Vibra, e que o negócio deve reposicioná-la para a transição de energia para renováveis.
"Gostamos particularmente da decisão de aprimorar suas capacidades de compra e comercialização de etanol, algo que a Vibra tem ficado especialmente atrás de alguns de seus principais pares devido ao seu histórico como uma empresa estatal, e em um produto que esperamos ganhar ainda mais importância como parte da matriz de combustíveis do Brasil e do mundo daqui para frente", afirmaram analistas do BTG Pactual.
"Há anos defendemos a ideia de que os distribuidores de combustível precisam ganhar mais controle e visibilidade do fornecimento de combustível como uma forma de melhorar o preço e a originação, e vemos essa etapa como uma alternativa atraente encontrada pela Vibra."