Novo programa injeta R$ 40 bilhões em crédito para reformas
O governo federal anunciou nesta quinta-feira (16) o Programa Reforma Casa Brasil, um novo pacote de crédito que promete injetar R$ 40 bilhões na economia. O objetivo declarado é financiar reformas e melhorias em residências já existentes, mas o movimento reacende o debate sobre o avanço do gasto público e a política de expansão de crédito subsidiado em meio a um cenário fiscal cada vez mais pressionado.
O lançamento oficial está marcado para segunda-feira, 20 de outubro, no Palácio do Planalto, às 15h30. Segundo a Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom), o programa vai oferecer crédito facilitado e apoio técnico para famílias que enfrentam problemas estruturais em suas moradias — de telhados danificados a instalações elétricas precárias.
R$ 40 bilhões em duas faixas de renda
De acordo com o governo, R$ 30 bilhões virão do Fundo Social, voltados a famílias com renda mensal de até R$ 9,6 mil. Já R$ 10 bilhões serão liberados pela Caixa Econômica Federal, via Letras de Crédito Imobiliário (LCI), para famílias com renda superior a esse valor.
A meta inicial é ambiciosa: 1,5 milhão de contratações em todo o país. O projeto é uma parceria entre os ministérios das Cidades e da Fazenda, com execução pela Caixa.
Populismo disfarçado de política habitacional
A iniciativa surge num momento em que o governo enfrenta dificuldades para controlar o déficit público e conter o avanço das despesas obrigatórias. O novo pacote — que soma-se a outros programas sociais e reajustes anunciados nos últimos meses — é visto por economistas como mais uma tentativa de estimular o consumo via endividamento, estratégia que pode gerar alívio temporário, mas amplia a fragilidade fiscal do país.
Com juros ainda elevados e uma dívida pública próxima de 78% do PIB, o crédito subsidiado pode pressionar a inflação e encarecer o custo de financiamento do Estado. A política lembra os velhos tempos de expansão de crédito dos anos 2000, quando o governo apostou em medidas de estímulo que acabaram por distorcer o mercado e reduzir a eficiência do investimento privado.
Efeito imediato, custo permanente
O discurso de inclusão social e melhoria da qualidade de vida é sedutor, mas a pergunta que permanece é: quem vai pagar a conta? O Fundo Social é abastecido por receitas do petróleo e royalties, recursos que deveriam fortalecer o investimento de longo prazo, mas que voltam a ser utilizados em políticas de curto alcance.
O programa deve gerar algum impulso no setor da construção civil e no comércio de materiais, mas seu efeito estrutural é limitado. Sem reformas fiscais ou incentivos à produtividade, o Brasil repete o ciclo: gasta mais, cresce pouco e se endivida muito.
Ao mesmo tempo em que tenta conter o déficit e sinalizar responsabilidade fiscal, o governo Lula segue ampliando a lista de programas de crédito e subsídios. O “Reforma Casa Brasil” é mais um capítulo no pacote de bondades que mistura política social com estratégia eleitoral.
Com R$ 40 bilhões a mais em circulação e sem cortes compensatórios, o risco é o mesmo de sempre: o país pode até reformar suas casas, mas segue sem consertar suas contas.