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Scheinkman vê melhora com Previdência, mas teme imagem ruim do Brasil no exterior e volta da CPMF

15 agosto 2019 - 11h51Por Angelo Pavini
A aprovação da reforma da Previdência é muito importante para o país, apesar de um ou outro ponto polêmico, pois evita uma crise fiscal, mas ela não é suficiente para proporcionar o tipo de crescimento que o Brasil precisa, afirma José Alexandre Scheinkman, professor da Columbia University. Os números de produtividade do brasileiro mostram que não houve evolução desde os anos 1980, pelo menos. “Estamos cada vez fazendo pior, o que é surpreendente, principalmente em relação a outros países, especialmente os asiáticos”, afirmou ao Portal do Pavini, após participar de evento sobre Competição e Inclusão Financeira do Instituto Propague, da empresa de cartões Stone. Segundo ele, as economias de Taiwan e Coreia do Sul, que nos anos 1980 tinham produtividade perto da brasileira, hoje estão mais perto da americana. Hoje, a produtividade desses países está em torno de 80% da dos americanos. Já o Brasil vem perdendo competitividade. Em 1995, o brasileiro produzia 34% do que produzia o americano. Em 2017, esse percentual caiu para 29%. “Mesmo em relação a economias maduras, como os Estados Unidos, o Brasil está perdendo produtividade”, alerta o economista. “Isso vai demandar muito mais esforços, um programa de reformas muito mais completo e que o governo trabalhe com o Congresso”, diz.

Reforma da Previdência e CPMF

A reforma tributária é importantíssima, é um passo relevante, diz, acrescentando que espera que ela saia mais parecida com a proposta que está no Congresso do que a que está sendo sugerida pela equipe econômica. “Não vi a proposta concreta ainda, mas pelos rumores, o que me preocupa é a CPMF, um imposto de muito má qualidade que distorce a economia”, alerta. “As pessoas tendem a criar formas de evitar o imposto, com cheques rodando, dinheiro em espécie, como ocorria no tempo da CPMF”, lembra.”Quando você faz esse tipo de coisa, ajuda a informalidade, pois cria um sistema informal que se beneficia do imposto de cheque”, diz. Outra reação preocupante para Scheinkman são as críticas à proposta no Congresso com relação ao aumento do imposto sobre serviços. “Mas o que a proposta faz é igualar o imposto sobre serviços ao de mercadorias, até porque hoje ninguém entende mais a diferença entre serviços e mercadoria”, explica. Ele cita o caso do celular, que é uma mercadoria, mas o que vale nele é o software que é considerado serviços. Por isso é preciso tratar esses dois tipos de produção como sendo o mesmo, pois ninguém sabe o que é um ou outro. Sobre o pacote para simplificar negócios, o economista considera que é uma boa medida. “A cultura da burocracia passa para certas empresas privadas e tem de lidar com a companhia telefônica, com o banco”, diz.

Imagem do país piora no exterior

Segundo Scheinkman, o Brasil passa agora por um novo problema, que é a imagem do governo. “Pode até não ser verdadeira, mas o governo não faz nenhum esforço para negar a imagem de que o país não está contribuindo para combater o aquecimento global ou a destruição do meio ambiente”, diz. “Isso é um problema para o Brasil”, alerta. “Eu sou membro da Academia de Ciência Americana e temos um endowment, um dinheiro que temos para investir, de US$ 1 bilhão, não é trivial”, explica. “E uma das preocupação quando fazemos investimentos é exatamente essa, se o investimento está indo para um lugar que satisfaz certos critérios de sustentabilidade, e isso pode afetar os investimentos no país”, afirma. Sem querer arriscar uma projeção para o crescimento do país, Scheinkman diz que as reformas podem ajudar, mas precisam ser suficientes para causar uma mudança no ambiente econômico.

Amazon do setor financeiro

Sobre o setor financeiro, Scheinkman diz que ele aumentou a produtividade nos últimos anos, com crescimento dos lucros, redução de empregos e maior participação no PIB. Mas a sociedade pouco se beneficiou dessa produtividade maior dos bancos, pela concentração do sistema e pela incapacidade do setor de aumentar a oferta de crédito e reduzir seu custo para os tomadores. “Os ganhos para a sociedade podem aumentar com a entrada de novos participantes, que vão aumentar a concorrência com os atuais”, diz. “Espero o surgimento no Brasil do Wall Mart, da Amazon do sistema financeiro”, afirma, lembrando que, nos Estados Unidos, essas empresas de varejo levaram outras empresas tradicionais, como a Sears, a falência. “A tecnologia beneficia os novos entrantes, não os tradicionais”, diz.

Nichos de excelência

Já Maria Silvia Bastos Marques, ex-presidente do BNDES e presidente do Goldman Sachs, afirma que a economia brasileira se desorganizou muito nos últimos anos e, ao mesmo tempo, há inovações acontecendo em muitos setores. “É um grande desafio”, diz, lembrando o grande número de desempregados no país. “Mas eu sou otimista porque o Brasil, ao contrário de outras economias emergentes, tem um nível de diversificação, de sofisticação, diversidade e complexidade que outros países não tem”, diz. Segundo ela, o Brasil temos nichos de excelência importantes que poderiam contaminar o resto da economia, como o financeiro. Além dele, há a agricultura, que cresce em média sua produtividade em 5,5% ao ano nas últimas décadas, mas tem uma participação menor no PIB. “Precisamos difundir isso para o resto da economia, aumentar nossa competitividade e nossa produtividade”, diz. “A direção está certa, não vai haver um ciclo de crescimento sustentável se não houver um aumento de produtividade e todas essas medidas (do governo) que estão acontecendo estão nessa direção, de tornar a economia mais forte e competitiva para gerar mais emprego e retomar o crescimento.” concluiu. Foto: Bill Cardoso O post Scheinkman vê melhora com Previdência, mas teme imagem ruim do Brasil no exterior e volta da CPMF apareceu primeiro em Arena do Pavini.