terça, 23 de abril de 2024
Paixão milionária

Prestes a disputar títulos, Atlético-MG conta com apoio financeiro de torcedor apaixonado

Clube mineiro segue modelo parecido com o do Palmeiras; no exterior, Manchester City e PSG se tornaram potências após serem vendidos

25 outubro 2021 - 17h39Por Carlos Borges

Os patrocínios milionários chegaram com força no futebol e, conforme o poder financeiro das equipes aumenta, maiores são as chances de obterem sucesso dentro de campo. Alguns torcedores fanáticos torcem o nariz quando ocorrem esses grandes investimentos. Mas, de fato, essas impulsões financeiras caem nas graças da maioria dos fãs de esporte.

A história do Manchester City mudou drasticamente assim que o clube foi vendido para o bilionário Mansour bin Zayed Al Nahyan, em setembro de 2008. Com os cofres cheios, o time obteve grandes saltos esportivos e hoje é uma das maiores equipes do mundo.

Outro exemplo é o Paris Saint-Germain. Em 2011, a empresa Qatar Sports Investment, fundo de investimentos do Catar, adquiriu o clube parisiense. Atualmente, a equipe domina o futebol francês e chama atenção dos noticiários com um time que conta com algumas das principais estrelas do esporte, como Kylian Mbappe, Lionel Messi e Neymar.

Aqui no Brasil, o cenário é diferente, pois os grandes clubes são entidades sem fins lucrativos e, portanto, não podem ser vendidos. Por isso, quando um “endinheirado” quer apoiar o time do seu coração, normalmente o faz por meio de patrocínios. 

O primeiro super patrocínio esportivo do futebol brasileiro aconteceu nos anos 1990, quando a Parmalat, numa estratégia de divulgar a marca de laticínios no Brasil, passou a estampar sua marca no uniforme do Palmeiras. Com diversas estrelas da época, como Edmundo, Roberto Carlos, César Sampaio etc., o time paulista saiu de uma fila de títulos de mais de 15 anos e conquistou o país com um futebol vistoso.

Em 2015, o Palmeiras voltou à primeira prateleira do futebol brasileiro com o patrocínio da Crefisa, empresa de crédito pessoal fundada por um fanático palmeirense, José Roberto Lamacchia. Desde então, o time ganhou uma série de títulos, como duas Copas do Brasil, dois Campeonatos Brasileiros e uma Copa Libertadores. Além disso, a equipe é sempre cotada como uma das melhores do Brasil. Nada mal, não?

Decerto que essa parceria é invejável. De acordo com o portal R7, a Crefisa turbina os cofres da equipe paulista com mais de R$ 80 milhões anuais. Esse cenário de sucesso do Palmeiras, nos últimos anos, motiva outras diretorias esportivas a buscarem uma parceria em moldes parecidos.

Paixão milionária

O "novo" milionário do futebol brasileiro, o Atlético-MG, desde 2020 conta com o patrocínio da construtora MRV, presidida por um atleticano apaixonado, Rubens Menin. Além da cota de patrocínio, de valor não revelado, o empresário também “ajuda” o clube em contratações de jogadores. 

“Eu faço o empréstimo para o Atlético contratar determinado jogador. O Atlético quer jogador para fazer um bom time. Os jogadores estão sendo bem escolhidos. Lá na frente, o Atlético vende e me paga de volta. Sem juros, sem correção, sem nada”, disse Menin em entrevista ao Fox Sports.

Os investimentos começaram em 2020. Desde então, o clube realizou negociações milionárias e montou um time competitivo, como afirmou o presidente da construtora. No entanto, vale ressaltar que, conforme Menin, os valores aplicados no clube são empréstimos. 

Apesar das declarações de que não existem juros nesse tipo de empréstimo, o clube terá de arcar com esses valores em algum momento. Em entrevista à Fox Sports em junho do ano passado, o presidente da MRV frisou que conta com as vendas dos atletas financiados para quitar os empréstimos, mas que se conformaria caso houvesse prejuízo.

"Se não vender, eu vou fazer o quê? Vou para o prejuízo, mas acho que vai vender. Vai conseguir pagar as contas dele direitinho. Eu acho que vai ter muita premiação para ajudar o Atlético, com muito público quando acabar a pandemia. Acho que o projeto que o Atlético fez é vencedor. É um modelo bacana."

O "modelo bacana"

A participação de Menin e da MRV na vida do Atlético-MG é mais bacana ainda. Em 2017, o Conselho Deliberativo do clube aprovou a construção da nova casa do time em Belo Horizonte. Conforme divulgaram os jornalistas Maurício Paulucci, Rafael Araújo, Laura Bernardes e Guilherme Frossard, do ge.globo, o terreno para a construção do estádio foi doado por Menin. O valor do terreno girava em torno de R$ 60 milhões na época.

Além de disponibilizar um espaço para que o Atlético-MG construísse sua nova casa, a MRV adquiriu, em agosto do ano passado, os naming rights do novo estádio do clube. De acordo com o jornal O Tempo, a aquisição custou R$ 60 milhões. 

Por outro lado, conforme Frederico Ribeiro e Rodrigo Fonseca, ambos repórteres do ge.globo, o time de Belo Horizonte soma mais de R$ 1 bilhão em dívidas. Em entrevista ao Superesportes em abril deste ano, Menin afirma que o estádio do clube "não é a salvação , é um passo importante" para equalizar o endividamento.

"Ela não é a salvação [financeira], é um passo importante. Nós estamos trabalhando muito para botar o Atlético em dia, como vocês estão sabendo. E a gente vai tentar fazer tudo isso antes de a Arena ficar pronta.

A Arena é aquele fator que vai colocar o Atlético num patamar mais elevado ainda, porque ela vai ser uma fonte de arrecadação adicional a tudo o que o Atlético tem. É para colocar o Atlético entre os maiores times do Brasil definitivamente, com chances, a gente quer isso, que seja um dos grandes times do mundo.

A gente pretende que a Arena dê ao Atlético uma renda adicional de mais de R$ 100 milhões no início. Depois, até um pouco mais do que isso. Então, acho que isso aí vai ser muito importante para o Atlético sonhar grande.”

O presidente da construtora também afirmou que a MRV conta com o retorno financeiro dos naming rights e que a compra do nome do estádio foi uma estratégia de marketing.

"No caso da Arena, ela (MRV) está apostando que os naming rights vão dar retorno. Ela não poderia investir se não achasse que desse retorno. Como também acontece com o marketing na camisa e outros investimentos que a empresa faz no marketing."

Menin aponta que os investimentos de sua empresa no Atlético-MG se justificarão com retorno financeiro a longo prazo, e que não seriam motivados apenas pela paixão. Vai dar certo? Só o tempo e os resultados esportivos dirão.