Em um cenário global de volatilidade e imprevisibilidades — sejam geopolíticas, econômicas ou sanitárias —, todos os perfis de investidor buscam ativos capazes de preservar capital em momentos de estresse. Mesmo investidores de perfil mais agressivo mantêm um percentual mínimo em liquidez, já que a falta de um fundo emergencial pode comprometer toda a estratégia.
Nesse contexto, os Treasuries americanos surgem como solução natural para compor essas reservas de emergência. Com US$ 28 trilhões em títulos em circulação e US$ 910 bilhões de volume médio diário negociado, segundo a SIFMA, eles oferecem segurança soberana, liquidez imediata e diversificação de prazos.
O que são os Treasuries?
Os Treasuries americanos são títulos de dívida emitidos pelo Departamento do Tesouro dos EUA para financiar despesas do governo federal. Em outras palavras, títulos que o governo americano vende para conseguir dinheiro e pagar suas contas.
Esses papéis são considerados o ativo livre de risco por excelência. Eles contam com a “fé e crédito” do maior emissor da moeda de reserva global, o dólar. Os Treasuries servem como base para precificação de outros ativos, desde hipotecas até derivativos. Eles compõem a carteira de bancos centrais, fundos soberanos e investidores institucionais. Também são procurados por investidores de varejo que buscam segurança e liquidez, por exemplo.
No âmbito macroeconômico, a curva de juros dos Treasuries (yield curve) atua como termômetro do mercado. Seus diferentes prazos sinalizam expectativas sobre crescimento, inflação e política monetária futura.
Uma curva de juros elevada indica expectativas de forte crescimento econômico. Também sugere inflação alta e possível aperto monetário. Isso leva investidores a exigirem maiores prêmios. Por outro lado, uma curva achatada ou invertida sinaliza pessimismo. Este formato sugere possível afrouxamento monetário. É frequentemente visto como precursor de recessão. Nesse cenário, investidores antecipam cortes de juros e preferem garantir rendimentos de longo prazo.
Mudanças na taxa de juros de curto prazo pelo Federal Reserve (Fed) afetam imediatamente os rendimentos dos papéis mais próximos do vencimento. Os títulos de longo prazo incorporam projeções para a economia nas próximas décadas.
Para o investidor de varejo, os Treasuries representam uma forma direta de alocar capital em títulos de baixíssimo risco de crédito. Oferecem opções de prazos variados. Possuem mecanismos de compra simples, seja em leilões primários ou no mercado secundário.
Tipos de Treasuries e suas características
Os Treasuries são divididos em diferentes tipos para atender a necessidades específicas de financiamento do governo americano e oferecer aos investidores opções variadas de investimento. Essa categorização ocorre principalmente com base no prazo de vencimento, método de pagamento de juros e proteções oferecidas.
Para os investidores, essa variedade possibilita construir estratégias personalizadas conforme seus objetivos de investimento, tolerância a risco e necessidades específicas de liquidez e prazo. Dentre os principais tipos estão:
1. Treasury Bills (T-Bills)
Em primeiro lugar, os T-Bills possuem curto prazo com vencimentos entre 4 e 52 semanas. O Tesouro americano os emite com desconto sobre o valor de face e não paga cupom (juros). O investidor obtém retorno pela diferença entre o preço pago e o valor resgatado no vencimento. Fundos de mercado monetário e investidores institucionais utilizam os T-Bills como caixa de emergência devido à sua alta liquidez e segurança.
2. Treasury Notes (T-Notes)
Em segundo lugar, os T-Notes têm prazos de 2, 3, 5, 7 e 10 anos e pagam juros semestrais a uma taxa fixa definida no momento da emissão. Investidores usam amplamente os T-Notes como benchmark para determinar taxas de empréstimos de médio prazo, além de incluí-los em carteiras que buscam rendimento estável com risco de crédito mínimo.
3. Treasury Bonds (T-Bonds)
Os T-Bonds são os papéis de longo prazo, com vencimentos de 20 ou 30 anos, e também pagam cupom semestral. Devido à maior sensibilidade a variações de juros (duration elevada), eles oferecem maior potencial de ganho em cenários de queda de taxas, mas também risco de preço mais acentuado se as taxas subirem.
4. TIPS (Treasury Inflation-Protected Securities)
Os TIPS protegem o investidor contra a inflação, pois o principal é ajustado de acordo com o Índice de Preços ao Consumidor (CPI-U). Além desse ajuste, pagam cupom semestral sobre o valor corrigido, garantindo que tanto o valor investido quanto os juros acompanhem o aumento de preços.
5. Floating Rate Notes (FRNs)
Os FRNs possuem taxa de juros variável, atrelada ao rendimento dos T-Bills de curto prazo (geralmente a taxa de 13 semanas). Esse ajuste periódico reduz a volatilidade de preço diante de mudanças na curva de juros, tornando-os atraentes para gestores que buscam proteção contra altas inesperadas nas taxas de curto prazo.
Como funcionam na prática?
O processo de investimento em Treasuries começa com leilões regulares conduzidos pelo Tesouro americano, onde títulos são emitidos com frequências específicas (semanais para T-Bills e mensais para T-Notes e T-Bonds). Bancos e corretoras participam com lances competitivos ou não-competitivos, determinando preços iniciais. Após emitidos, esses títulos são negociados em um mercado secundário extremamente líquido, com diferenças mínimas entre preços de compra e venda, permitindo negociações eficientes a qualquer momento.
A precificação dos Treasuries baseia-se no conceito de yield to maturity, que relaciona o valor investido com os fluxos de pagamento futuros e o resgate do principal. Investidores utilizam métricas como duration (sensibilidade do preço às variações nas taxas de juros) e convexity (comportamento não-linear dessa relação) para avaliar riscos. A análise da curva de juros formada pelos diferentes vencimentos permite que analistas projetem expectativas sobre condições econômicas futuras.
Vantagens e desvantagens
Antes de investir em Treasuries americanos, é fundamental considerar o equilíbrio entre segurança e retorno potencial. Estes títulos oferecem vantagens significativas como risco quase nulo de crédito (apoiados pela capacidade fiscal dos EUA), liquidez excepcional através de um mercado secundário profundo e disponível 24 horas, além de servirem como benchmark universal para precificação de diversos ativos financeiros globais.
Os Treasuries atraem investidores por diversificarem efetivamente as carteiras, oferecendo opções de prazos variados (curto, médio e longo) e diferentes modalidades, incluindo os TIPS, que protegem contra a inflação ao se ajustarem conforme os índices de preços ao consumidor americano. Esta versatilidade capacita os investidores a construírem estratégias que se adaptam a diferentes cenários econômicos.
Por outro lado, é importante considerar algumas desvantagens. O retorno tende a ser limitado, especialmente em ambientes de taxas de juros baixas, onde os yields podem ser modestos comparados a outros investimentos. Além disso, títulos de prazos mais longos apresentam maior risco de preço caso as taxas de juros subam, podendo resultar em perdas temporárias de valor de mercado.
Para investidores brasileiros e outros não americanos, três desafios principais se destacam: a exposição cambial (flutuações desfavoráveis no câmbio podem reduzir ganhos em dólar), questões tributárias complexas (impostos incidem tanto nos EUA quanto no Brasil) e a potencial volatilidade que as políticas monetárias do Federal Reserve causam, como os programas de Quantitative Easing, que alteram significativamente a dinâmica de oferta e demanda destes títulos.
Como investir em Treasuries?
Investidores brasileiros interessados em Treasuries americanos encontram diversas opções para acessar esses ativos seguros. Grandes corretoras internacionais como Interactive Brokers e Charles Schwab oferecem plataformas que permitem, após abertura de conta e transferência de recursos em dólar, a compra direta de títulos do governo americano – seja em leilões primários ou no mercado secundário, altamente líquido e transparente.
Para quem busca simplificação e diversificação, os ETFs negociados nas bolsas americanas surgem como alternativa eficiente. Veículos como o TLT (exposição a títulos de longo prazo, acima de 20 anos), IEF (7-10 anos), SHY (1-3 anos) e TIP (títulos protegidos contra inflação) combinam a segurança dos Treasuries com a praticidade de negociação em bolsa, custos reduzidos e excelente liquidez.
Já no mercado brasileiro, investidores podem optar por BDRs e fundos locais que oferecem exposição indireta aos Treasuries ou ETFs correspondentes. Esta alternativa elimina a necessidade de abrir conta no exterior ou lidar com remessas internacionais, embora venha acompanhada de estruturas de custo ligeiramente superiores às opções diretas no mercado americano.
Vale a pena incluir Treasuries na sua carteira?
Por fim, os Treasuries americanos oferecem segurança, liquidez e servem como referência global, sendo essenciais em carteiras de todos os tipos. São ideais para investidores que priorizam preservação de capital e rendimentos previsíveis. Em carteiras mais arriscadas, funcionam como proteção durante turbulências de mercado.
Para diversificação internacional, os Treasuries oferecem opções variadas: T-Bills (segurança de curto prazo), TIPS (proteção contra inflação) e T-Bonds (potencial de ganho quando os juros caem). Investidores arrojados podem usar T-Bonds em momentos de incerteza econômica, enquanto perfis moderados e conservadores encontram nos T-Notes e T-Bills o equilíbrio entre segurança e rendimento, especialmente quando combinados com TIPS.
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