quinta, 25 de abril de 2024
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Nubank pode chegar à Nasdaq e à B3 em novembro; será o mais novo gigante mundial?

Às vésperas de um IPO tão aguardado, a fintech divulgou seu primeiro resultado com saldo líquido positivo da história e mexe com os ânimos do mercado

19 outubro 2021 - 15h20Por Lucas de Andrade
 - Crédito: Divulgação

À medida que a oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) do Nubank se aproxima - prevista para novembro -, mais os ânimos do mercado se agitam. 

De acordo com informações do jornal O Estado de S.Paulo, o IPO do banco digital vai ocorrer na segunda principal Bolsa de Valores dos Estados Unidos, a Nasdaq, de maneira simultânea ao lançamento de BDRs (Brazilian Depositary Receipts) na B3, a bolsa de valores brasileira. 

Enquanto prepara essas grandes estreias, na semana passada, a companhia reportou um lucro líquido de R$ 76 milhões no primeiro semestre deste ano, o primeiro resultado com saldo líquido positivo de sua história.

E então, naturalmente, muitos investidores começaram a se perguntar: por que demorou tanto tempo para um gigante como o Nubank obter lucro? E quanto ao IPO, vale a pena investir? Se sim, por que foram listar a companhia fora do mercado de ações brasileiro?

Atuante no Brasil, mas com os olhos no mundo

De acordo com Fabrizio Gueratto, financista do canal 1Bilhão Educação Financeira, dois fatores levaram o Nubank a abrir seu capital no exterior: a pretensão de o banco digital se tornar mundial e a maturidade do mercado de ações norte-americano.

“O mercado dos EUA já está acostumado a investir em empresas que dão prejuízo. Isso não significa que vão investir em companhias que perdem o tempo todo, não! Mas eles veem com naturalidade startups que em seus primeiros anos ainda enfrentam dificuldades para lucrar, desde que elas comprovem em um determinado período como tem aumentado a receita, como foi estruturado o plano de negócios e como tem crescido a base de seus clientes”, explica.

Gueratto afirma que os investidores brasileiros ainda não conseguem entender a lógica de manter recursos em uma empresa que até então reportava prejuízo, mesmo que haja um plano de negócios claro.

“Muitos investidores não conseguem observar como uma empresa, às vezes, não reporta lucro porque não veem como ela foca tudo o que obtém de receita para crescer mais rápido”, diz. “Isso com certeza faz com que o Nubank queira dominar o mundo, pense em se expandir lá fora e não só mais no Brasil”, complementa.

Por aqui, o banco digital comemora a marca de mais de 40 milhões de clientes no 1º semestre deste ano, uma alta de 25% em comparação com o fim de 2020, que corresponde, em média, ao ingresso de 40.000 novos correntistas por dia.

Segundo o financista, as pretensões de expansão mundial do Nubank já são bem claras. Em junho, por exemplo, a fintech informou a captação de US$ 500 milhões de um aporte da Berkshire Hathaway, do bilionário Warren Buffett. Dias depois, a cantora Anitta foi anunciada como a nova integrante do conselho de administração da empresa. 

“Por que tudo isso? Tudo está milimetricamente planejado. Chamaram a Anitta por ser uma cantora brasileira? Sim. Mas ela também tem uma grande presença internacional, como eles querem ter também. Então, a divulgação do primeiro lucro, sobre um período encerrado em junho, agora, às vésperas do IPO na Nasdaq, reforça uma estratégia”, diz. 

“Eles provavelmente devem ter dado uma leve desacelerada na queima de caixa justamente para dar lucro antes desse IPO”, complementa. Com a operação no azul, o banco consegue compor uma tese de investimento mais robusta.

Gueratto explica que o Nubank tem um modelo de negócios escalável, capaz de multiplicar o faturamento sem precisar aumentar as despesas, e também replicável, que pode ser aplicado em diferentes países, desde que haja adaptações à cultura e legislação locais. “E, por isso, todo mundo olha para o Nubank e começa a se perguntar se vale a pena investir no IPO ou não”, diz.

Vale a pena investir no IPO?

Segundo o financista, os investidores cada vez mais acreditam no potencial do banco em “dominar o mundo”. 

Para ele, a precificação da oferta inicial de ações da empresa em Nova Iorque “quase fica em segundo plano” diante dos atrativos que o banco apresenta até aqui e que enchem os olhos de muitos interessados. Mas ele estima que o papel deve ter uma boa avaliação no mercado americano.

Gueratto acredita que os recursos do IPO do Nubank - cujo prospecto preliminar deve se tornar público no órgão regulador do mercado de capitais dos EUA, a SEC, em algumas semanas - devem ter o mesmo destino de toda oferta pública inicial de ações: aquisição de empresas e expansão de mercado. No caso do banco digital, para outros países.

“Está na cartilha. Você pode ter certeza que esses serão dois dos objetivos que estarão no radar do Nubank”, diz.

Quanto a entrar ou não no IPO da empresa, o financista minimiza a ideia de que se o investidor não entra numa oferta pública inicial de ações, ele perde o “bonde". “Entrar num IPO não garante que o papel só vai subir e dar tudo certo, não garante absolutamente nada. Os brasileiros precisam entender isso”, diz. 

Um indicativo, segundo Gueratto, pode ser o comportamento do bilionário Warren Buffett. “Ele vai manter as ações ou vai vender? Ele só queria participar do IPO e entrou com o dinheiro, com o nome para alavancar o papel e depois vai sair? Não acredita tanto assim no modelo de negócios ou vai permanecer? A gente só vai saber depois”, especula.

O financista acredita, entretanto, que a “fórmula” do Nubank, replicada em vários países, pode dar certo. “No Brasil, são pouco mais de 200 milhões de habitantes e no mundo, em torno de sete bilhões. As chances de sucesso podem ser grandes. Se você acha que esse modelo de negócios pode decolar em outros locais, aí sim você tem que entrar”, diz.

Mas e o fundo de ações?

Em julho, o Nubank também anunciou o lançamento de dois fundos de investimento na plataforma Nu invest, entre eles o Nu Ultravioleta Ações. Para alguns investidores, pode surgir a dúvida: e agora, coloco o meu dinheiro no fundo de ações do Nubank ou espero o IPO para investir nos papéis do banco?

Pela lógica da diversificação, você pode fazer os dois, mas Gueratto ressalta que aderir a um fundo de ações ou fazer a compra de papéis são investimentos diferentes.

“Acredito que entrar no IPO seja algo para quem já tenha carteira consolidada, com estratégia de investimentos em renda fixa e variável. Não indico para quem tem R$ 500 e quer começar a investir”, diz. 

Já com o fundo de ações, não somente com o fundo do Nubank especificamente, “você terceiriza a gestão dos ativos para profissionais. Com pouco dinheiro, você consegue diversificar e ter acesso a produtos que geralmente são de alta renda. Você se expõe à renda variável, mas reduz o seu risco, pelo menos em teoria”, conclui.