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Minicurso de Análise Fundamentalista Parte 1: O que é isso?

03 dezembro 2020 - 11h40Por Redação SpaceMoney

Por André Massaro*

Se você já deu seus primeiros passos na bolsa de valores (ou se está se preparando e estudando para investir), já deve ter ouvido falar em “análise fundamentalista” – uma das mais famosas e populares abordagens de investimento, associada a grandes investidores e gestores como Warren Buffett, Peter Lynch e muitos outros.

Esta é uma série especial, de cinco artigos, especialmente voltada para investidores iniciantes, que poderão entender o que é a análise fundamentalista e quais são seus principais componentes e suas aplicações.

Estratégias de investimento: Ativas e passivas 

Quem investe utilizando a análise fundamentalista analisa ações e empresas em busca de oportunidades de ganhos acima daquilo que, de forma genérica, é chamado de “mercado”.

O tal “mercado” é uma representação teórica das ações e de outros ativos financeiros que existem em uma economia e, tipicamente, é representado por índices.

No Brasil, temos um índice principal do mercado de ações, o “Índice Bovespa” (ou, simplesmente, “Ibovespa”). Ele é uma tentativa de representar as ações do mercado brasileiro, da mesma forma que um índice de inflação (como o IPCA ou o IGP-M) é uma tentativa de representar a variação de preços dos produtos e serviços vendidos no Brasil.

No mundo das finanças, existe uma corrente de pensamento (associada a um conceito chamada “Hipótese dos Mercados Eficientes”) que diz que, no longo prazo, é impossível obter retornos acima desse tal “mercado” (que, novamente, aqui no Brasil é representado pelo Ibovespa). Então, para os adeptos dessa tal Hipótese dos Mercados Eficientes, a melhor coisa a fazer seria, simplesmente, investir em uma carteira de ações que seja igual ao Ibovespa e esquecer todo o resto...

Esses investidores são conhecidos como “investidores passivos”.

O oposto dos investidores passivos são os investidores ATIVOS. Esses são aqueles que partem do princípio de que os mercados são INEFICIENTES e que, por meio da aplicação de certos métodos, técnicas e abordagens de investimento, é possível “explorar” essas ineficiências e obter ganhos ACIMA daquilo que o tal “mercado” nos proporciona.

Pois é... A análise fundamentalista é um desses diversos métodos, técnicas ou abordagens que têm, como objetivo, proporcionar ganhos acima do mercado.

Então, a primeira coisa que temos de saber, sobre a análise fundamentalista, é que ela é uma abordagem ATIVA e que assume que os mercados NÃO SÃO eficientes.

Em um mercado ineficiente, a informação não é distribuída de maneira uniforme e os investidores nem sempre tomam as decisões da forma mais racional possível. E isso, em teoria, gera oportunidades de ganho.

Análise fundamentalista: As origens do nome 

Uma pergunta comum de investidores (especialmente os iniciantes) é: “Por que a análise fundamentalista tem esse nome?”. Ou, então, “o que são esses tais ‘fundamentos’?”.

“Fundamento” é uma palavra que nos remete à ideia de “base”, “alicerce” ou “sustentação”. E, na análise fundamentalista, os tais “fundamentos” são todas as informações que dão sustentação (daí o nome) ao preço de uma ação ou de outro ativo financeiro.

Então, ações com “bons fundamentos” ou fundamentos sólidos tendem a ser mais valiosas e caras (em termos relativos) do que ações de empresas com fundamentos frágeis.

Quais são os “fundamentos” da análise fundamentalista? 

Os fundamentos são informações relacionadas a uma ação (ou outro ativo financeiro) que têm, tipicamente, três origens: Econômica, setorial e do ativo (ou empresa).

Fundamentos econômicos 

São coisas como o PIB, o desemprego, a inflação, a taxa de juros e outras desse gênero.

São, essencialmente, informações macroeconômicas que dão pistas importantes sobre o ambiente econômico em que a empresa opera, que pode ser um único país, uma região do mundo ou vários países.

Fundamentos setoriais 

São informações associadas ao segmento econômico de atuação de uma empresa.

Na bolsa de valores, as ações são, tipicamente, classificadas conforme o setor de atuação da empresa. E cada setor tem características, oportunidades e fatores de risco diferentes.

Em algumas circunstâncias, os investidores podem ter preferência por determinados setores e “fugir” de outros, que são vistos como setores “micados” e problemáticos.

Fundamentos do ativo (ou da empresa) 

Aqui estão as informações que dizem respeito, especificamente, ao ativo que está sendo analisado.

Uma coisa interessante de observar é que, caso você resolva estudar outros conteúdos educacionais, verá que algumas pessoas se referem como informações “da empresa”.

Isso porque, na grande maioria das vezes, a análise fundamentalista é utilizada para ações (que são emitidas por empresas). Mas isso não é uma regra.

A análise fundamentalista é muito versátil e suas ferramentas podem ser usadas, basicamente, para analisar qualquer tipo de ativo, como commodities, moedas e até imóveis.

Seja como for, quando falamos de uma empresa, seus fundamentos são os indicadores financeiros, os números das demonstrações contábeis e informações diversas associadas à empresa, seus produtos e sua gestão.

Aqui entram, inclusive, os famosos fatores ESG (sigla em inglês que vem de fatores ambientais, sociais e de governança), que vêm se tornando cada vez mais importantes e relevantes nas decisões de investimento.

Diferenças entre análise fundamentalista e análise técnica 

As duas mais populares e conhecidas “escolas” de análise de ações e ativos financeiros são a análise fundamentalista e a análise técnica.

Inclusive, muitos investidores acabam formando uma ideia de que só existem esses dois caminhos quando, na verdade, o universo das estratégias de investimento é muito mais amplo e diverso.

Mas essas duas escolas se apoiam no mesmo princípio básico: o princípio de que os mercados são INEFICIENTES e de que é possível obter ganhos acima do mercado, de forma consistente e no longo prazo.

Porém, essas duas escolas tentam fazer isso por caminhos diferentes.

As estratégias baseadas em análise técnica (que é a escola mais antiga) se baseiam, apenas, em duas informações: os preços e os volumes negociados daquela ação ou do ativo financeiro que é objeto da análise.

Todas as ferramentas da análise técnica (gráficos e indicadores) são construídas, apenas, com base nos preços e nos volumes (ou “contratos em aberto”, no caso de derivativos).

Já a análise fundamentalista utiliza uma quantidade muito maior de informações. Neste artigo, vimos essas informações agrupadas por categoria (informações econômicas, setoriais e da empresa), mas a quantidade de dados que podem ser utilizados em uma análise é virtualmente infinita.

Por isso, a análise fundamentalista é vista como mais “complexa” e de aplicação mais difícil. Mas, por outro lado, essa quantidade maior de informações tende a deixar a análise mais “robusta”, dando mais segurança ao processo de tomada de decisão de investimento.

Mas a verdade é que a análise fundamentalista não é tão complicada quanto parece. É possível utilizar modelos simplificados de investimento baseados em análise fundamentalista, que são adequados para pequenos investidores (que não têm tempo e recursos para fazer análises altamente complexas e aprofundadas) e que podem apresentar excelentes resultados.

No próximo artigo da série, veremos as mais populares estratégias de investimento baseadas em análise fundamentalista.

*André Massaro é autor, consultor e professor de finanças, investimentos e mercados financeiros. Saiba mais em andremassaro.com.br