Fachada do Capitólio em Washington, símbolo do lobby das mineradoras de minerais críticos.
Sede do Congresso dos EUA, epicentro do lobby das mineradoras por recursos críticos. (Fonte: IA)

Setor mira fatia dos novos investimentos estratégicos do governo Trump

Empresas de mineração e energia estão intensificando o lobby em Washington em busca de uma posição central na nova política industrial dos Estados Unidos. O governo Trump ampliou os investimentos em minerais críticos — como lítio, cobre, tório e terras raras — considerados essenciais para a segurança nacional e a transição energética.

Segundo levantamento da Reuters, ao menos uma dúzia de companhias assinou contratos com grandes firmas de lobby desde janeiro, entre elas MP Materials, Lithium Americas e Critical Metals Corp. O movimento reflete a tentativa das empresas de se alinhar à política da Casa Branca, que vem priorizando investimentos diretos e participação acionária do Estado para reduzir a dependência da China.


Disputa geopolítica e pressão empresarial

Historicamente, Washington apoiava o setor de mineração com subsídios e incentivos fiscais. Agora, a estratégia mudou: o governo passou a buscar participação direta em projetos estratégicos, adquirindo participações minoritárias em empresas-chave. A medida visa garantir o controle sobre cadeias de suprimentos consideradas vitais para defesa, energia limpa e tecnologia.

Com isso, mineradoras e fundos especializados intensificaram suas campanhas junto ao Congresso e ao Executivo. O consultor Ken Hoffman, do banco Red Cloud Securities, resume o novo cenário:

“Quando o governo começou a injetar capital, todo o setor se perguntou: ‘E nós?’”


De Wall Street a Washington

A movimentação política vem acompanhada de forte valorização no mercado financeiro. O Sprott Lithium Miners ETF subiu mais de 35% em um mês, impulsionado por expectativas de novos aportes públicos e privados. Até mesmo o JPMorgan anunciou planos de investir até US$ 10 bilhões em projetos de minerais estratégicos e energia de transição.

Entre os principais escritórios contratados estão a Ballard Partners, ligada a Brian Ballard, arrecadador da campanha de Trump, e a The Bernhardt Group, chefiada por David Bernhardt, ex-secretário do Interior e figura-chave na liberação de licenças ambientais.

Companhias como Lithium Americas, Critical Metals Corp. e United States Antimony já conseguiram contratos e financiamentos multimilionários com o governo norte-americano. A Lithium Americas, por exemplo, firmou um acordo que concede 5% de participação ao governo dos EUA em troca de acesso a um empréstimo de US$ 2,26 bilhões.


O mapa da influência

A nova corrida por minerais críticos tem ampliado a rede de influência em torno do poder político americano. Além das mineradoras tradicionais, empresas ligadas à energia geotérmica e metais raros também ingressaram na disputa por apoio federal.

A Critical Metals Corp., que busca explorar reservas de terras raras na Groenlândia, e a United States Antimony, contratada pelo Pentágono para fornecimento estratégico, estão entre as principais beneficiadas. Já a BHP Minerals Service, subsidiária da gigante BHP, passou a atuar com lobby próprio em temas de comércio e regulação.


Impactos de mercado e nova fronteira para investidores

O fortalecimento das políticas industriais nos EUA está moldando um novo ciclo global de investimentos em recursos estratégicos, especialmente na cadeia de metais para baterias e semicondutores.

Para investidores, o movimento reforça a tendência de valorização de ETFs setoriais e ativos ligados à transição energética. Enquanto o governo americano amplia o controle sobre a produção de minerais, o mercado antecipa lucros e reorganiza carteiras em torno do tema.

Especialistas apontam que essa convergência entre geopolítica, energia e mercado financeiro deve definir o próximo capítulo da corrida por autonomia industrial — um jogo que se desenha tanto nos gabinetes de Washington quanto nas bolsas de Nova York.