Adoção acelera, visibilidade desaba: o raio-X da mídia cripto na América Latina no 2º tri de 2025.

Tráfego de mídia cripto na América Latina cai pela metade QoQ apesar do avanço da adoção; Brasil responde por 62% da audiência – relatório Outset

Adoção sobe, tráfego cai 54% na mídia cripto LATAM; Brasil concentra 62% da audiência.

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“Relatório Outset: tráfego da mídia cripto LATAM cai 54% QoQ; Brasil lidera audiência”
Tráfego de mídia cripto na América Latina despenca no 2º tri, enquanto a adoção avança; Brasil puxa 62% da audiência.

A equipe de analytics da Outset PR segue mapeando tendências globais no ecossistema de mídia cripto. Após os relatórios sobre a Europa Ocidental e Oriental, voltamos à América Latina no 2º trimestre de 2025 — uma região em que a adoção acelerada contrasta fortemente com o colapso da visibilidade das mídias cripto-nativas.

O segundo trimestre de 2025 foi marcado globalmente por um forte retorno dos ativos digitais, desenvolvimentos regulatórios relevantes nos EUA e aceleração da adoção de stablecoins. Nesse contexto, a América Latina reforçou seu status de uma das regiões de cripto que mais crescem no mundo, registrando alta trimestral de 18,3% em usuários únicos de cripto, segundo levantamento da RankingsLatAm.

A adoção segue concentrada: Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, México e Peru respondem por 87% do mercado. A Argentina lidera com 19,8% da população detendo cripto, seguida de perto pelo Brasil (18,6%) e por El Salvador (14,6%). Os crescimentos mais rápidos vieram da Bolívia (+355%), Guatemala (+87,8%) e Paraguai (+51,6%), refletindo demanda emergente e expansão do acesso. Millennials impulsionam a adoção, com 21,9% possuindo cripto contra 14,1% da Gen X e taxas de um dígito entre faixas etárias mais altas.

Além da posse no varejo, as stablecoins vêm redesenhando o comércio na região. Em abril de 2025, a Visa anunciou parceria com a Bridge (empresa da Stripe), permitindo que desenvolvedores fintech emitam cartões Visa vinculados a stablecoins na América Latina. Esses cartões — já disponíveis em Argentina, Colômbia, Equador, México, Peru e Chile — permitem pagar com stablecoins pela rede Visa, enquanto os comerciantes recebem em moeda fiduciária.

Olhando além do 2º tri, a expansão de infraestrutura na região não dá sinais de desaceleração. No começo de agosto, a Bybit lançou uma promoção P2P exclusiva para a América Latina, e a Tether investiu €30 milhões na Bit2Me — a primeira exchange de língua espanhola licenciada sob o MiCA da UE — para ampliar serviços de stablecoins na região, com foco prioritário na Argentina. Esses desenvolvimentos pós-2º tri indicam compromisso institucional contínuo e maior integração das cripto ao tecido financeiro regional.

Ao mesmo tempo, governos passam a atuar de forma mais visível, moldando regulação e adoção. O Banco Central do Brasil descartou publicamente a ideia de uma reserva em Bitcoin, sinalizando cautela regulatória no âmbito nacional. A Argentina seguiu caminho oposto, avançando marcos de tokenização em nível nacional. Buenos Aires também habilitou o pagamento de impostos municipais em cripto via o programa BA Cripto.

Ainda que a regulação seja irregular, a percepção de segurança fique atrás (apenas 32% dos latino-americanos consideram seguras as transações em cripto) e o acesso educacional varie bastante, a trajetória é clara: cripto na América Latina está evoluindo de ativo especulativo para infraestrutura financeira essencial, combinando adoção por necessidade com rápido apoio institucional e de políticas públicas. Mesmo assim, os padrões de engajamento de audiência revelam desempenho bastante dispar entre segmentos de mídia.

Método e escopo: o que foi medido e por quê

Como nos relatórios anteriores da Outset PR, a pesquisa baseia-se em estimativas públicas de tráfego do SimilarWeb, agregadas pela equipe de analytics da agência. Foram analisadas as dinâmicas de tráfego de 55 veículos focados em América Latina com cobertura relacionada a cripto durante o 2º tri de 2025.

Para garantir representatividade regional, a análise foca nos mercados que geram a maior parte do tráfego identificável de mídia cripto na LATAM — principalmente países de língua espanhola e português brasileiro. O conjunto final inclui Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, República Dominicana, Equador, El Salvador, Guatemala, Honduras, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, Porto Rico, Uruguai e Venezuela.

Nota: Países caribenhos são um caso à parte. A maior parte das audiências consome conteúdo predominantemente em inglês, o que dificulta mensurar de forma confiável o tráfego local relacionado a cripto. No conjunto da Outset PR, apenas República Dominicana e Porto Rico foram incluídos por apresentarem atividade mensurável no trimestre, ainda que suas contribuições sejam marginais frente aos mercados-núcleo. No caso da República Dominicana, os padrões de tráfego mostram sinais de inflação artificial.

Para comparar alcance e visibilidade entre segmentos, os analistas distinguiram dois grupos de publishers:

  • Cripto-nativos (38) — mídia cuja editoria é inteiramente dedicada a cripto, blockchain e Web3.
  • Mainstream com cobertura cripto (17) — portais generalistas de finanças, economia, notícias ou tecnologia que mantêm seções de cripto ou cobertura regular do tema. Para este grupo, as métricas refletem visitas do site inteiro, pois o SimilarWeb não permite isolar apenas as seções de cripto.

Os dados cobrem visitas em desktop e mobile, em média mensal e agregadas no nível trimestral. A amplitude de crescimento — % de veículos com alta QoQ — foi calculada separadamente para cada categoria, evidenciando diferenças estruturais. A Outset PR também analisou em detalhe métricas de engajamento dos publishers cripto-nativos em destaque.

Além disso, os veículos foram segmentados por:

  • Geografia de audiência (idioma do site, domínio e geolocalização do SimilarWeb)
  • Faixas de volume de tráfego (média mensal no 2º tri de 2025)
  • Composição de fontes de tráfego (Direto, Orgânico, Pago, Referência, Social), para avaliar diversificação de aquisição de audiência e visibilidade externa.

Por fim, para veículos que servem múltiplos países, os volumes foram ajustados proporcionalmente com base na distribuição de audiência, garantindo precisão regional.

Visibilidade da mídia cripto cai 54% QoQ; mainstream sobe 8% — mas a maioria dos veículos em ambos os segmentos perdeu tráfego

O tráfego total de mídia relacionada a cripto na América Latina — combinando mainstream e cripto-nativos — atingiu 271,39 milhões de visitas no 2º tri de 2025, ante 261,60 milhões no 1º tri. Porém esse crescimento geral mascara uma forte divergência entre os segmentos. Enquanto publicações mainstream adicionaram quase 20 milhões de visitas no trimestre, os sites cripto-nativos perderam mais da metade do público, estendendo a queda acentuada do primeiro semestre de 2025.

No 1º tri, o tráfego cripto-específico caiu de 6,98M em janeiro para 5,37M em março (-23,07%), já sinalizando ventos contrários de visibilidade. A queda acelerou no 2º tri: volumes recuaram para 3,35M em abril, 2,65M em maio e 2,19M em junho, uma baixa de 34,63% dentro do trimestre, somando-se às perdas anteriores.

No total, o 2º tri fechou em 8,19M visitas contra 17,85M no 1º tri — um colapso QoQ de 54,12%, a queda mais acentuada desde o início do monitoramento da região pela Outset PR.

Os veículos mainstream foram mais resilientes, porém voláteis. No 1º tri, o tráfego caiu de 87,50M em janeiro para 80,22M em março (-8,32%), estabilizando no 2º tri. Em abril, abriu forte em 92,51M, recuando para 86,13M em junho (-6,90%). Apesar das oscilações, os generalistas cresceram de 243,75M no 1º tri para 263,20M no 2º tri (+7,98% QoQ) — um ganho modesto porém notável, em contraste com o colapso dos cripto-nativos.

Variação mês a mês no 2º tri de 2025 (LATAM):

A análise de amplitude de crescimento mostra que apenas 27,78% dos cripto-nativos registraram alta no trimestre, enquanto 72,22% caíram. Os portais mainstream tiveram quadro quase idêntico: 29,41% cresceram e 70,59% encolheram.

Publishers em destaque: as raras exceções à tendência negativa do 2º tri

Para evidenciar os crescimentos mais relevantes na mídia cripto-nativa da América Latina, a Outset PR aplicou o mesmo score composto usado na análise do Leste Europeu, filtrando ruído de sites pequenos com altas percentuais infladas porém alcance irrelevante.

Contra um trimestre desafiador, cinco veículos se destacaram como histórias reais de crescimento entre abril e junho de 2025:

Principais publishers cripto-nativos na América Latina por “Composite Impact Score”

  • Criptoinforme.com+79,8%; +29,0 mil visitas; score 0,67
    Ganhador mais consistente; ampla cobertura multi-mercado (México, Argentina, Costa Rica, Peru).
  • Criptoeconomia.com.br+2.915%; +22,5 mil visitas; score 0,50
    Maior crescimento relativo (base modesta); retomada no Brasil por reativação eficaz.
  • Crypto-economy.com+49,1%; +16,3 mil visitas; score 0,30
    Audiência diversificada em Argentina e EUA; posicionamento bilíngue favorece visibilidade.
  • Bitnoticias.com.br+133%; +6,4 mil visitas; score 0,23
    Fortalece presença no Brasil; recuperação mês a mês indica engajamento renovado.
  • Cointradermonitor.com+20,6%; +3,4 mil visitas; score 0,13
    Hub confiável de dados e preços no Brasil; crescimento estável mostra demanda por utilidade.

Nota: um outlier estatístico no 2º tri foi o Tododecripto.com. Após ausência mensurável em abril, saltou para 7,6 mil em maio e caiu para 3,8 mil em junho. Isso gerou um crescimento relativo “de milhões por cento” no papel, porém insustentável. No agregado, o site caiu de 19,3 mil (1º tri) para 11,4 mil (2º tri) (-40,9%). Por combinar momentum com ganhos sustentados, os cinco destaques acima compõem o ranking; o Tododecripto foi excluído.

Novas métricas de engajamento: separando visibilidade por tráfego de impacto por audiência

Além de tráfego e taxas de crescimento, a Outset PR passou a acompanhar visitantes únicos médios, duração de visita, páginas por visita e bounce rate. Entre os destaques do 2º tri:

  • Crypto-Economy uniu bom momentum a engajamento profundo: 16,9 mil usuários únicos médios; 6,54 min por sessão; 4,13 páginas por visita; 38,6% de bounce.
  • Criptoinforme ganhou maior volume absoluto, porém com engajamento leve: 19,9 mil únicos; 0,57 min por visita; 1,75 páginas; 53% de bounce.
  • Criptoeconomia, o mais veloz em momentum, ilustra o risco de base pequena: 10,1 mil únicos; 0,17 min; 1,19 páginas; 87,3% de bounce.

Conclusão: crescimento de tráfego isolado pode ser ilusório. Combinando escala (visitas) e qualidade (profundidade, rejeição), as próximas edições trarão quadro mais nuançado de visibilidade e influência.

Topo da pirâmide encolhe: só um veículo permanece no “tier-1”

O cenário cripto-nativo da LATAM no 2º tri de 2025 manteve-se centralizado — e ainda mais concentrado. Seis veículos superaram 400 mil visitas/mês no 1º tri; no 2º tri, apenas um permaneceu nesse patamar.

O único tier-1 foi o CriptoNoticias, com média mensal de 448,38 mil e 1,35M visitas no trimestre — 16,43% de todo o tráfego cripto-nativo na região. No tier médio (130K–400K/mês), sete veículos mantiveram escala relevante:

  • Cointelegraph Brasil397,04K/mês (total 1,19M)
  • Bitfinanzas266,07K/mês (total 800,07K)
  • Livecoins223,96K/mês (total 670,07K)
  • DiarioBitcoin210,25K/mês (total 630,74K)
  • Foxbit174,19K/mês (total 522,58K)
  • CriptoFacil172,03K/mês (total 516,09K)
  • Portal do Bitcoin134,12K/mês (total 402,35K)

Somados, eles fizeram 4,73M visitas no trimestre (57,82% da categoria). A “long tail” (<130K/mês) cobre 30 veículos, muitos nichados/localizados, com 2,11M visitas (25,75%). Seu valor está menos no alcance amplo e mais na influência segmentada.

Mudanças vs 1º tri:

  • Tier-1 encolheu de seis para um veículo, aumentando a dependência de uma única plataforma para alto alcance.
  • Cointelegraph Brasil, tier-1 no 1º tri, caiu ligeiramente para o tier médio (≈ 397K/mês).
  • O tier médio ampliou participação à medida que ex-líderes desceram, redistribuindo o volume.

Brasil lidera mídia cripto-nativa; Argentina domina veículos mainstream

No 2º tri de 2025, entre cripto-nativos, o Brasil liderou com 4,18M visitas (61,78%), seguido por México (1,24M; 18,34%), Colômbia (0,58M; 8,57%), Argentina (0,53M; 7,88%) e Chile (0,25M; 3,70%). Mercados menores: Peru (0,09M; 1,28%), Venezuela (0,07M; 1,04%) e Costa Rica (0,02M; 0,30%).

Nota: a República Dominicana apareceu como origem dominante de audiência no início do trimestre. Em abril, respondeu por 83,37% do tráfego de certos cripto-nativos, subindo 14,24% MoM; em maio, sua fatia caiu a 75,69% com queda de 43,56% no volume, e ao fim de junho praticamente desapareceu. O padrão, somado à concentração extrema, sugere inflação artificial de tráfego — não crescimento orgânico.

Entre os mainstream, a Argentina dominou com 143,89M visitas (56,10%), seguida de Brasil (76,39M; 29,78%) e México (30,84M; 12,03%). Colômbia teve 4,91M (1,92%); Peru (0,28M; 0,11%) e Chile (0,05M; 0,02%) contribuíram marginalmente.

Padrão nítido: Brasil e Argentina dominam o consumo de notícias cripto na LATAM, porém com mix distinto — o Brasil lidera em cripto-nativos e mainstream; a Argentina pesa majoritariamente no mainstream.

Fontes de tráfego: domínio de direto e orgânico; quase nada de pago

Comparando fontes, cripto-nativos e generalistas exibem padrões semelhantes:

  • Cripto-nativos (2º tri 2025): Direto 43,93% (3,60M) e Orgânico 43,97% (3,60M) praticamente empatados; Referência 5,79% (474,04K); Social 6,07% (496,76K); Pago 0,03% (2,48K) residual.
  • Mainstream: Direto 43,65% (114,88M) e Orgânico 44,21% (116,35M); Referência 3,68% (9,69M); Social 8,28% (21,79M); Pago 0,10% (265,33K).

Social: X lidera; LinkedIn supera Instagram

Nos cripto-nativos, as 496,76K visitas vindas de redes sociais são pouco mais de 6% do total. Dentro desse recorte:

  • X (Twitter) domina com 42,21% (209,67K) — principal driver de conversas em tempo real.
  • Facebook (13,30% / 66,07K) e YouTube (10,04% / 49,88K) formam um segundo pelotão.
  • LinkedIn (8,07% / 40,10K) supera o Instagram (2,18% / 10,82K), refletindo o caráter profissional/B2B do tema na região.
  • WhatsApp (2,70% / 13,42K) tende a ser subcontado, pois muito do compartilhamento vira “Direto” nas ferramentas de analytics.
  • Reddit (0,84% / 4,19K)
  • Telegram (0,40% / 1,98K) têm tração mínima.
Por fim, quase 18% do tráfego social (88,73 mil visitas) é classificado pela SimilarWeb como outras/fontes sociais não especificadas, sem nenhuma outra análise detalhada em nível de plataforma.

Pesquisa com redações: queda do Google, pressão de IA e lacunas de funding

Para entender percepções sobre desafios e oportunidades na distribuição de conteúdo, a Outset PR realizou pesquisa anônima com profissionais de mídia cripto na LATAM (maioria do Brasil). Os achados:

  • Regulação e padrões editoriais: diretrizes do Google, LGPD e códigos jornalísticos consolidados moldam decisões.
  • Condições de mercado e sustentabilidade: funding e visibilidade preocupam. Juros altos no Brasil afastam VC, deixando muitos veículos subfinanciados e dependentes de traduções.

    Como observou o editor:
    “O Brasil tem ambiente cripto muito forte e ativo, mas é sub-representado na mídia global, focada quase só nos EUA.”
  • Disrupção da IA na descoberta: vários relatam quedas acentuadas no tráfego via Google à medida que leitores buscam ChatGPT, Perplexity e afins. Alguns passam a otimizar headlines por intenção do usuário, não só por palavra-chave. Times começam a desenvolver IA interna como estratégia de longo prazo.
Os dados da Outset PR quantificam a percepção: no 2º tri 2025, referência via IA respondeu por 0,97% do tráfego cripto-nativo (79,14K), em média 15,67% do tráfego de referência por outlet. Poucos sites viram a IA superar 40–60% do referral; para a maioria, segue marginal frente ao direto/orgânico.

Nos mainstream, a IA teve 1,41% do tráfego total (3,71M) e 20,30% do referral médio por outlet — vantagem estrutural de domínios mais fortes e alcance amplo. Para cripto-nativos, o recado é claro: adaptar ou perder visibilidade conforme a descoberta migra para além do Google.

Tenha o dataset completo

A versão completa do relatório vai além do acompanhamento de performance de mídia e funciona como recurso estratégico para a indústria cripto na América Latina.

  • PR e comunicação: mostra onde há visibilidade real e onde ela está erodindo.
  • Negócios e marketing: aponta países e canais que mais importam para alcance.
  • Investidores e analistas: documenta o descompasso entre adoção em alta e infraestrutura de mídia enfraquecida — risco e oportunidade.
  • Publishers e formuladores de políticas: evidencia como pressões estruturais — descoberta via IA e regulação desigual — remodelam o ecossistema.

Em conjunto, os insights tornam o dataset uma referência prática para quem deseja construir, escalar ou sustentar presença em um dos ecossistemas cripto que mais evoluem no mundo. A Outset PR utiliza esses dados em suas estratégias, mas afirma estar comprometida em compartilhá-los abertamente para servir a todo o ecossistema.

Dúvidas ou feedback: Sofia, [email protected].