sexta, 19 de abril de 2024
eleições argentinas

As eleições argentinas podem afetar o mercado de investimentos no Brasil? Entenda

25 outubro 2019 - 16h14Por Laís Martins
Em 2019, a bolsa brasileira sofreu alguns impactos por conta de crises em países vizinhos. Um desses foi a Argentina. Em agosto, as eleições argentinas primárias para a presidência daquele país e o resultado obtido abalou os mercados acionários. A vitória de 15 pontos de Alberto Fernández e sua vice, Cristina Kirchner, contra o atual presidente e seu vice, Maurício Macri e Miguel Ángel Pichetto, resultou na queda de 2% do Ibovespa, principal índice acionário da bolsa brasileira, e no recuo de quase 38% do S&P Merval, o equivalente da bolsa de Buenos Aires. Segundo relatório da XP Investimentos, os mercados reagiram “caoticamente” a esse resultado porque há receio de uma possível volta de Kirchner ao poder, ainda que como vice-presidente. Durante seu período na Presidência, entre 2007 e 2015, houve calote da dívida pública e implantação de “políticas populistas” para controles de preços. Contudo, os meses passaram e a bolsa brasileira conseguiu se recuperar batendo máximas históricas por influencia de outros fatores. Contudo, a Argentina está voltando para a pauta do mercado nacional uma vez que no dia 27 de outubro haverá o primeiro turno das eleições. As sondagens mostram uma vitória em primeiro turno da chapa de Alberto Fernandez e Cristina Kirchner na Argentina. Assim, os investidores começam a se perguntar: tal resultado pode afetar meus investimentos? Devo tomar alguma atitude neste momento? Continue lendo a matéria porque a SpaceMoney vai tirar algumas dúvidas sobre esse assunto.

O Ibovespa pode voltar a cair por conta das eleições argentinas?

Na visão do gestor da Amazônia Capital, Diogo Figueiredo, a oscilação do Ibovespa no dia das primárias no país vizinho foi apenas um susto. “Me parece que essa questão da Argentina não trará um resultado determinante para o crescimento do Brasil. O momento do Brasil na bolsa é bom, então é normal os investidores se assustarem quando há grande oscilação por fatores externos,” explicou. No dia 22 de outubro, a reforma da previdência foi aprovada no Congresso. Com o resultado, no dia 23, a bolsa encerrou o pregão em sua máxima histórica, com 107.543 pontos. Relatórios da XP Investimentos, da Levante e da Terra Investimentos não apontam a possível volta de Kirchner ao poder como um problema para o mercado nacional. Além disso, na experiência de Figueiredo, “quem pode sofrer variação significante, no curto prazo, são empresas brasileiras que possuem negócio com a Argentina, como a Cosan e a CVC. Mas, mesmo assim, como esses negócios são uma parcela pequena para essas empresas, elas não devem passar por grandes sustos”, opinou.

O investidor brasileiro deve tomar alguma medida?

“Por acreditar que seja um susto temporário, eu não acredito que o investidor brasileiro deva se preocupar no curto prazo. Nós não sabemos o que vai acontecer em outubro, mas, no momento, não vejo preocupações necessárias”, tranquilizou Figueiredo.

Como é a parceria comercial Brasil x Argentina?

Segundo o Instituto Nacional de Estatísticas (Indec) da Argentina, as importações argentinas de produtos brasileiros recuaram 41,7% nos primeiros seis meses de 2019, caindo para US$ 5,3 bilhões. Mesmo com essa queda, os produtos brasileiros ainda representam 21% das importações totais do país.

O que deve acontecer daqui em diante nas eleições argentinas?

Cristina e Alberto fazem parte da chapa Frente de Todos, considerada de esquerda no espectro político. A chapa obteve 47,7% dos votos contra 32,1% da rival Juntos Pela Mudança. Em relatório de analistas da XP Investimentos, as apostas são de que esse cenário é praticamente irreversível e que no primeiro turno das eleições Alberto Fernández pode se tornar presidente. Na Argentina, é necessário ter 45% ou 40% dos votos e dez pontos de vantagem em relação ao segundo colocado para que o presidente seja eleito. Um eventual segundo turno será realizado no dia 24 de novembro e o novo governo assumirá dia 10 de dezembro. O relatório da XP ainda afirma que essa diferença é muito maior que o previsto por pesquisas e pode ser explicada “pela direção de última hora escolhida pelos eleitores indecisos e pelo fato de que havia uma espécie de ‘vergonha’ na votação para o partido em exercício”. Segundo o Blog da Sandra Cohen, do portal de notícias G1, o risco é de que, com a vitória da chapa kirchnerista, haja um recuo nas conversas entre sul-americanos e europeus aumente. Em agosto de 2019, Fernández afirmou que, se eleito, o acordo do Mercosul e União Europeia será revisto. O candidato considera que o anúncio foi apressado e aconteceu apenas para atender aos interesses do atual presidente. Em contrapartida, o portal Isto é acredita que a derrota de Maurício Macri talvez seja boa para o Brasil. Um cenário de gastos estatais descontrolados e economia mais fechada na Argentina poderia atrair investimentos para o Brasil. Assim, o país poderia se tornar a opção mais atraente para exportar produtos para a UE.