sexta, 19 de abril de 2024
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Private Equity em grandes empresas vive ciclo de retração no Brasil

Historicamente, este segmento é impulsionado no Brasil por essas instituições e investidores internacionais

27 setembro 2021 - 15h47Por Rodrigo Fiszman

Enquanto os investimentos em empresas privadas vivem no agregado um ciclo de expansão no Brasil e no mundo, quando separamos este movimento pelos segmentos de private equity, que foca nas empresas tradicionais e maiores, e venture capital, focado em negócios menores e de maior risco, vemos uma desigualdade crucial. Enquanto o venture capital cresce acima de três dígitos, o private equity está reduzindo o ritmo.

Vamos aos números. De acordo com o relatório da ABVCap (Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital), os investimentos do venture capital cresceram 313% no segundo trimestre de 2021 em comparação com 2020, indo de R$3,3 bilhões para R$13,6 bilhões. Já o segmento de private equity sofreu redução de 67% no mesmo período, declinando de R$1,2 bilhão para R$0,4 bilhão.

O cenário dos fundos de investimentos em participações, veículo utilizado principalmente no mercado de private equity, também reflete esta dicotomia. A captação líquida dos fundos de investimentos em participações teve queda de R$13,7 bilhões de janeiro a julho deste ano, segundo a Anbima. Olhando mais perto do mercado dos clientes de private banking, o volume financeiro investido em FIPs caiu 17,54% no primeiro semestre, caindo de R$12,6 bilhões para R$10,4 bilhões. Vale ressaltar que este veículo não é tão utilizado pelos Fundos De Venture Capital, que acabam utilizando estruturas offshore para realizar seus investimentos, o que traz um ruído para esta análise.

Enquanto isso, o Distrito apontou que só para startups os investimentos de venture capital atingiram R$5,6 bilhões no primeiro semestre de 2021. Considerando a tendência histórica, a projeção é chegar ao patamar recorde de R$8 bilhões este ano.

Fundamentos da discrepância entre venture capital e private equity

Uma pista para entendermos a diferença de tendência entre o private equity e o venture capital está no relatório da Bain & Company sobre o mercado global de investimentos em empresas privadas. A consultoria estima que o volume global de aportes deve atingir o patamar recorde de US$1,08 trilhão este ano. Só no primeiro semestre, foram US$539 bilhões, apenas 6% abaixo do total investido em 2020.

Quando quebra este volume por tipo de investimento, a Bain aponta que o venture capital cresceu 36% no trimestre, enquanto outros segmentos, como infraestrutura, cresceram apenas 22%, e os fundos de distressed assets caíram 32%.

Um dos fatores que alavancam o crescimento do venture capital está associado aos retornos obtidos com as saídas. O volume de desinvestimentos também está crescendo, como aponta a própria ABVCap, o total de vendas de participações no primeiro semestre de 2021 foi de R$ 7,8 bilhões, contra R$ 2,7 bilhões. E o principal meio tem sido os IPOs realizados na B3 este ano.

Isto também é apontado pela Bain como uma tendência global: o volume estimado de saídas em 2021 está em US$976 bilhões, próximo ao volume de investimentos previstos para o ano.

Especificidades do Brasil

No Brasil, em particular, conta para este movimento descasado a menor participação dos fundos de pensão no private equity. Historicamente, este segmento é impulsionado no Brasil por essas instituições e investidores internacionais. Contudo, nos últimos anos, crises recentes levaram os fundos a reduzirem o peso do private equity em sua carteira. De acordo com a Abrapp (Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar), a participação dos investimentos estruturados, que incluem private equity, na carteira consolidada das entidades caiu de 3,3% em 2014 para 1,2% em 2020.

Por outro lado, a indústria de venture capital no Brasil, apesar de mais recente, consolidou-se muito rapidamente no país, e está avançando sobre empresas cujo porte e maturidade de negócio seriam típicos do private equity. De acordo com a ABVCap, o investimento médio do venture capital no segundo trimestre foi R$174 milhões, mais que os R$135,3 milhões investidos em private equity.

Parte deste crescimento do venture capital passa pela crescente participação de investidores internacionais nas rodadas de venture capital. Players como o Softbank, General Atlantic e Corporate Venture Capitals de grandes empresas estão cada vez mais presentes nas rodadas, especialmente as voltadas para séries com cheques maiores. Por outro lado, investidores com teses mais conservadoras, como o Berkshire Hathaway, estão aderindo a rodadas de empresas como o Nubank.

Oportunidades

Este processo combinado gera, entre outros efeitos, uma maior expansão de oferta de capital para negócios que apresentam maturidade intermediária entre as teses tradicionais do private equity e venture capital. Scale-ups, pela sua combinação de maturidade operacional e crescimento acelerado, começam a entrar no radar de investidores e gestores.

Se considerarmos que uma scale-up é uma empresa que cresce 20% ao ano no mínimo, se a distribuição de receitas e custos desta empresa permanecer a mesma, ela pode atingir 1,5 vezes de crescimento em cinco anos. Isto sem considerar eventuais ganhos de produtividade no período. De acordo com o IBGE, o Brasil conta com mais de 22 mil scale-ups, que são oportunidades interessantes para o investidor em busca de retorno.

Por tudo o que apresentamos, estamos em um momento particularmente especial para avançar no acesso a capitais para as empresas pequenas e médias de alto crescimento. Por um lado, os números mostram um apetite maior do investimento por mais risco em troca de mais retorno. Por outro lado, não faltam oportunidades em empresas privadas. O que precisamos é agir cedo para aproveitar.

A opinião e as informações contidas neste artigo são responsabilidade do autor, não refletindo, necessariamente, a visão da SpaceMoney.