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Ibovespa renova recordes, mas investidores ainda mostram cautela

Ibovespa bate recordes, mas participação local segue tímida.

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Gráfico de alta do Ibovespa em recorde histórico na bolsa brasileira.
Painel da B3 mostra alta do Ibovespa em recorde histórico. (Fonte: Canva)

Recordes do Ibovespa e o interesse limitado

O Ibovespa, principal índice da bolsa brasileira, voltou a renovar recordes históricos em setembro, ultrapassando os 146 mil pontos em intradia. O desempenho, impulsionado por cortes na taxa de juros e pelo fluxo estrangeiro, confirma a atratividade relativa dos ativos brasileiros em comparação a outros emergentes. Apesar disso, a economista-chefe do Inter, Rafaela Vitoria, avalia que o interesse do investidor local segue “muito tímido”.

Essa disparidade entre números recordes do Ibovespa e a baixa participação dos brasileiros na renda variável reflete uma característica estrutural: a preferência histórica por renda fixa. Mesmo com a queda da Selic, a migração para ações ocorre de forma lenta, o que limita a profundidade do mercado doméstico. Como John Bogle destacou, investidores muitas vezes deixam de aproveitar o “jogo de vencedor” de longo prazo ao se prenderem a retornos imediatos de curto prazo.

O papel dos juros no apetite por risco

A queda dos juros no Brasil, acompanhada pelo movimento semelhante nos Estados Unidos, reduz os custos de oportunidade e favorece ativos de maior risco. Nesse cenário, o Ibovespa tende a atrair mais fluxo, especialmente estrangeiro, que já aportou quase R$ 30 bilhões em 2025. Ainda assim, para o investidor local, o movimento é contido, reflexo da instabilidade política, tributária e cultural de investir em ações.

A visão de longo prazo

Segundo Fábio Murad, criador do método Super ETF, o investidor brasileiro precisa repensar seu posicionamento: “Seguir preso apenas ao CDI e à renda fixa é aceitar retornos medíocres. A verdadeira independência financeira exige diversificação, visão global e disciplina.”.


Estrangeiros sustentam o Ibovespa

O rali recente do Ibovespa foi puxado majoritariamente por investidores estrangeiros, que buscam alternativas mais baratas após valuations elevados em mercados desenvolvidos. Enquanto isso, investidores institucionais locais têm sido vendedores líquidos, pressionados por resgates em fundos de ações.

Essa dinâmica mostra uma contradição: mesmo com a bolsa brasileira negociando a múltiplos descontados — cerca de 8 vezes o lucro, contra 10 vezes em emergentes e 25 vezes nos EUA —, o investidor doméstico ainda hesita em aumentar a exposição.

Comparativo com mercados globais

No livro O investidor de bom senso, John Bogle ressalta que o maior erro dos investidores é deixar que custos, emoções e excessos de transação corroam seus ganhos. O Ibovespa, ao negociar com desconto frente a pares globais, oferece potencial de valorização expressivo para quem mantém disciplina de longo prazo, mas isso exige constância de aportes, não especulação.

Oportunidade ignorada

Murad reforça que parte dessa “timidez” decorre da falta de educação financeira: “Enquanto o investidor estrangeiro vê no Ibovespa um prêmio de risco atrativo, muitos brasileiros ainda ficam reféns de produtos bancários caros, que mal protegem contra a inflação”.


O peso do cenário local

Apesar do otimismo, especialistas lembram que o ambiente doméstico ainda carrega ruídos que afastam o investidor. A ausência de novas ofertas públicas iniciais (IPOs) e a volatilidade política reduzem a confiança. Segundo Matheus Amaral, do Inter, mesmo com a máxima histórica, “o cenário não é de festa, mas de cautela”.

Volatilidade e desalinhamento estrutural

O Ibovespa, embora renovando máximas, segue vulnerável a choques internos, tributação complexa e instabilidade regulatória. Para Murad, esse é um dos fatores que explicam porque o investidor brasileiro precisa olhar também para ETFs internacionais, dolarizando parte do portfólio para reduzir riscos sistêmicos.

Lições de Bogle para o investidor

Bogle defendia que o investidor deveria se afastar do “mercado das expectativas” de curto prazo e focar no “mercado real” das empresas, que cria riqueza de longo prazo. Aplicado ao Brasil, isso significa não se deixar iludir apenas pelas manchetes de recordes do Ibovespa, mas construir patrimônio com paciência, diversificação e custos reduzidos.


Ibovespa: um jogo de longo prazo

O Ibovespa continua sendo o principal termômetro da economia brasileira e uma porta de entrada para quem deseja participar do crescimento das empresas listadas. Porém, como mostra a análise do Inter, ainda falta uma adesão mais robusta do investidor local.

Seja pela cultura de renda fixa, seja pelo receio da volatilidade, o investidor brasileiro segue distante do mercado de capitais. Essa postura, segundo Murad, pode comprometer o potencial de independência financeira: “Quem permanece preso apenas ao real e aos ativos locais corre o risco de ver sua riqueza estagnar frente ao resto do mundo”.