Por que a Bolsa ganhou tração
Após um início de mês volátil, o Ibovespa superou 144 mil pontos no intraday e fechou acima dos 143 mil pela primeira vez, embalado pela leitura de que o Federal Reserve pode iniciar cortes de juros na reunião de 17 de setembro, enquanto, no Brasil, cresce a chance de início de flexibilização da Selic entre o fim deste ano e o começo do próximo.
Vetor externo: dólar mais fraco e Fed mais perto do corte
A desaceleração do mercado de trabalho nos EUA aumentou a probabilidade de cortes, apesar de um CPI ligeiramente acima do previsto. A combinação de atividade esfriando e inflação de núcleo controlada sustenta o pivô dovish do Fed — um impulso para mercados emergentes e moedas locais.
Vetor doméstico: fim do aperto e agenda fiscal
No Brasil, cresce a leitura de que o ciclo de aperto acabou e a Selic pode cair no fim de 2025/início de 2026. O noticiário fiscal e a pauta no Congresso — como isenção do IR até R$ 5 mil — entram no radar como condicionantes de confiança e renda disponível.
O que gestores estão vendo
1) Cenário global
Dólar mais fraco e impactos limitados da guerra comercial sobre o Brasil favorecem fluxo para emergentes.
2) Cenário doméstico
Com o fim do aperto, empresas voltam a entregar resultados e o custo de capital tende a cair — ponto central para reprecificar ações cíclicas.
3) Visão para a Bolsa
A avaliação recorrente é de subvalorização do mercado brasileiro no longo prazo, ainda distante de um “topo histórico” que sinalize euforia.
Projeções:
• XP vê o Ibovespa em 150 mil pontos até o fim do ano, citando novo regime macro (fim da contração monetária) e inflação em desaceleração, além do efeito-eleições de 2026 no interesse por ações.
• Bradesco BBI estima entrada potencial de capital que pode recuperar R$ 1,1 trilhão de capitalização; se o valor das empresas tivesse acompanhado o PIB nominal, o mercado seria R$ 2,0 trilhões maior.
Otimismo… com freios
Mesmo com a melhora estrutural (juros, inflação e atividade), o movimento ainda é gradual: o CDI elevado oferece alternativa de baixo risco e o quadro político segue ruidoso (decisões judiciais e pesquisas eleitorais). Lá fora, a trajetória de inflação dos EUA e o ritmo de cortes do Fed serão determinantes.
Setores preferidos nesta fase
Qualidade com preço
Empresas com crescimento, baixa alavancagem e geração de caixa consistente ganham prioridade, com ênfase em dividendos no contexto atual.
Cíclicos domésticos
Construção civil e consumo discricionário se beneficiam de juros menores; programas de habitação e tendência de reabertura de crédito ajudam o ciclo.
Teses de “entrada de capital”
Vestuário & E-commerce, Varejo de Alimentos e Educação são citados como potenciais vencedores à medida que a indústria de gestão de ativos volta a captar.
Rumo aos 150 mil: o que falta
- Confirmação de corte do Fed e sinalização de trajetória.
- Ancoragem fiscal local que mantenha prêmio de risco sob controle.
- Dados de inflação mostrando tendência benigna e abrindo espaço para a Selic iniciar queda.
- Fluxo estrangeiro retomando de forma sustentada.
Nota SpaceMoney: em momentos de transição de ciclo de juros, tese de diversificação via ETFs e foco em fundamentos reduzem ruído e capturam o beta da recuperação — linha coerente com as recomendações educacionais do método Super ETF, de Fábio Murad.
Como o investidor pode se posicionar
Núcleo defensivo
ETFs amplos de Brasil e EUA e empresas de qualidade com caixa forte e endividamento baixo.
Aposta cíclica
Exposição tática a construção civil, varejo discricionário e educação na esteira da queda da Selic.
Disciplina de risco
Rebalanceamento periódico, metas de alocação por classe de ativo e colchão de liquidez para volatilidade eleitoral.
O call-base do mercado — cortes sincronizados de juros no Brasil e nos EUA — justifica o Ibovespa mirar 150 mil pontos. A velocidade depende do compasso entre inflação, atividade e política. Para o investidor, a diversificação com qualidade continua sendo a melhor forma de atravessar a curva.