portal tradicional em Hong Kong representando o mercado chinês e investimentos globais.
Entrada de mercado em Hong Kong simboliza a força dos investimentos chineses. (Fonte: Canva)

Nos últimos meses, tenho observado uma discussão crescente sobre a desaceleração dos Estados Unidos e a ascensão da China como potência tecnológica. Muitos analistas destacam que o investidor brasileiro precisa buscar diversificação fora do país, mas ainda vejo uma limitação grave: a maioria olha apenas para a Bolsa americana, esquecendo-se de que a economia chinesa é hoje o segundo grande motor do crescimento global. E, na minha visão, o melhor caminho para aproveitar esse movimento não é comprar ações diretamente na China, mas sim investir em ETFs americanos que replicam índices chineses — com eficiência, liquidez e proteção cambial.

Vivemos um ciclo em que o endividamento global pós-pandemia e a desaceleração dos EUA mudaram o centro de gravidade dos investimentos. A China, ao mesmo tempo, se consolida como líder em tecnologia verde, robótica, semicondutores e inteligência artificial. A diferença é que, enquanto os EUA vivem uma fase de estagnação de lucros e valuations elevados, as empresas chinesas estão baratas e com fundamentos sólidos. Para o investidor atento, esse é um ponto de inflexão.

Sempre digo aos meus alunos e leitores do método Super ETF: “diversificar não é trair seu país, é proteger seu patrimônio”. O Brasil ainda é um mercado de oportunidades pontuais, mas não oferece segurança estrutural. Ao internacionalizar parte da carteira, você não apenas reduz risco político e cambial, como abre espaço para crescimento real. E, nesse novo ciclo global, China e Sudeste Asiático são regiões que ninguém pode ignorar.

A história econômica recente mostra que, quando uma nação alia escala produtiva a inovação tecnológica, o retorno sobre o capital explode. Foi assim com os EUA nos anos 80, com o Japão nos anos 90 e, agora, com a China. Segundo dados do FMI, mesmo com desaceleração, o país ainda cresce acima de 4% ao ano, com margens industriais cada vez mais sofisticadas. O foco em IA, energia limpa e biotecnologia cria uma base sólida de longo prazo.

John Bogle, criador dos ETFs, dizia que “investir não é sobre emoção, é sobre eficiência e custo”. Nada representa melhor essa frase do que o uso de ETFs americanos para capturar o crescimento chinês. Por meio de produtos como o MCHI (iShares MSCI China ETF) ou o KWEB (KraneShares CSI China Internet ETF), o investidor acessa centenas de empresas chinesas sem se expor aos riscos burocráticos ou regulatórios de operar diretamente na Ásia.

Ao escolher ETFs listados nos EUA, você se beneficia do mercado mais líquido e transparente do mundo. Como John Hull ensina em seus livros de derivativos, “a liquidez é o oxigênio do investidor racional”. Em vez de lidar com fusos horários, controles cambiais e relatórios em mandarim, você compra um único ativo em dólar, auditado pela SEC, com histórico e governança de padrão internacional.

É nesse ponto que entra o meu conceito de Renda Global Super ETF. Não se trata de buscar o timing perfeito, mas de construir uma carteira que gere renda passiva em dólar e capture megatendências. Assim como os ETFs de tecnologia americana dominaram os últimos 15 anos, os ETFs de inovação chinesa devem liderar os próximos 15.

Respeito a opinião de casas, que alertam sobre o risco de superexposição à tecnologia chinesa. Mas discordo da visão de que o investidor deva apenas “reduzir EUA e incluir China”. O problema é mais profundo: o investidor brasileiro ainda pensa como consumidor, não como proprietário de ativos globais. É preciso sair do real e entrar no dólar.

A migração industrial global já está redesenhando as cadeias produtivas. Enquanto os EUA buscam reindustrializar via subsídios, a China está exportando tecnologia e infraestrutura para dezenas de países. Investir por meio de ETFs significa estar do lado vencedor da produtividade, sem precisar escolher manualmente quem serão os próximos campeões.

Bogle nos ensinou que o segredo da riqueza está em “manter os custos baixos e a disciplina alta”. Hull complementa: “os derivativos existem para proteger, não para especular”. Quando aplico o método Super ETF, combino esses princípios. Uso ETFs americanos que replicam índices chineses e, sobre eles, aplico operações de Covered Call — uma forma de gerar renda semanal em dólar, com risco controlado. É o equilíbrio perfeito entre segurança e rentabilidade.

Muitos se perguntam: “por que não comprar ETFs diretamente em Hong Kong?” A resposta é simples: eficiência. Os ETFs americanos possuem estrutura tributária mais vantajosa, liquidez muito maior e taxas menores. Além disso, estão sob jurisdição americana — o que garante maior proteção jurídica e transparência. Essa é a diferença entre investir em um mercado emergente e usar o mercado mais maduro do planeta como ponte.

O investidor que opera ETFs em dólar se protege automaticamente da desvalorização estrutural do real. Como mostro no livro Super ETF, o real perdeu mais de 80% de valor frente ao dólar desde 1994. Isso significa que, mesmo com retornos modestos, o investidor dolarizado multiplica poder de compra global ao longo do tempo. Esse é o verdadeiro conceito de independência financeira.

Não adianta apenas diversificar — é preciso operar com método. No Super ETF, defendo aportes regulares, reinvestimento dos dividendos e uso estratégico de opções. Essa disciplina, somada à diversificação geográfica e cambial, cria um efeito de juros compostos em dólar que muda completamente a curva patrimonial de quem aplica por 5 ou 10 anos.

Os grandes investidores sabem que a história se repete. Assim como o mercado americano viveu bolhas e correções, a China passa agora por um momento de reprecificação que, em minha visão, é o início de um novo ciclo de valorização. “A hora de comprar é quando há sangue nas ruas”, dizia Rothschild. E, hoje, é exatamente isso que vemos nas bolsas chinesas: medo generalizado, valuations baixos e fundamentos intactos.

O maior erro do investidor brasileiro ainda é pensar em “rentabilidade mensal” e ignorar o valor do câmbio e da diversificação. Como repito em todos os meus cursos: “quem pensa em reais, vive de incerteza; quem pensa em dólar, vive de liberdade”. Essa mudança de mentalidade é o primeiro passo para sair do jogo defensivo e entrar no campo da construção de riqueza real.

Na prática, minha exposição à China acontece por meio de ETFs como MCHI, KWEB e ASHR, sempre combinados a uma posição tática em SPY e QQQ (EUA). Essa mescla cria equilíbrio entre crescimento americano e valorização asiática. E o melhor: todos os ETFs são negociados nos EUA, com liquidez diária e custo mínimo.

A cereja do bolo é a geração de renda via Covered Calls. Vendo opções semanais sobre esses ETFs e recebo prêmios em dólar, mesmo em períodos de queda. Essa abordagem, descrita também por John Hull em Options, Futures and Other Derivatives, permite transformar uma carteira de longo prazo em uma fonte de renda recorrente e previsível.

Não acredito em “apostas” nem em “gurus”. Acredito em educação financeira, método e constância. O investidor que entende o poder dos ETFs americanos não precisa prever o futuro — apenas se posicionar corretamente. A China é hoje a oportunidade mais subestimada do mercado global, e os ETFs são a forma mais inteligente de participar dessa história.

Quando olho para o cenário atual, vejo um mundo dividido entre o medo do curto prazo e o potencial do longo prazo. Como investidor e educador, escolho o segundo. A China representa uma nova fase da economia global, e os ETFs americanos são o veículo ideal para transformar essa oportunidade em renda, segurança e liberdade. Essa é, sem dúvida, a hora de agir — com método, com consciência e com visão global.