Oportunidade ou armadilha na queda do dólar
Nos últimos meses, o dólar caiu cerca de 13% frente ao real, chegando a R$ 5,32. Para muitos, isso parece sinal de que a moeda perdeu força e que não faz sentido dolarizar os investimentos agora. Mas, na minha experiência de mais de 25 anos no mercado, aprendi que é justamente nos momentos em que o consenso aponta em uma direção que surgem as maiores oportunidades. O investidor atento deve compreender que o movimento de curto prazo do câmbio não altera a importância estratégica de estar exposto a ativos internacionais, especialmente via ETFs listados nos Estados Unidos.
Diversificar em moeda forte continua sendo a forma mais eficiente de proteger e multiplicar patrimônio. Essa não é apenas a minha visão: John Bogle, fundador da Vanguard e criador do primeiro fundo de índice do mundo, mostrou que investir em fundos de índice de baixo custo, amplamente diversificados, é o caminho mais inteligente para capturar o crescimento da economia americana.
Por que a queda do dólar engana muitos investidores
A primeira ilusão que vejo entre brasileiros é acreditar que a valorização recente do real frente ao dólar significa uma tendência definitiva. O histórico mostra o contrário: o real é estruturalmente frágil. Desde sua criação em 1994, perdeu mais de 80% do poder de compra em relação ao dólar. Portanto, ainda que a moeda americana caia no curto prazo, a tendência de longo prazo é que ela continue sendo muito mais forte e estável.
Outro ponto crucial: ao investir em ETFs internacionais, o investidor não depende exclusivamente do movimento do câmbio. Mesmo em um cenário de dólar em queda, ativos como o S&P 500 acumulam crescimento constante, fruto da força das 500 maiores empresas americanas, que inovam, distribuem dividendos e expandem globalmente.
A força dos ETFs americanos
ETFs são, em minha visão, a ferramenta mais poderosa disponível ao investidor comum. Com uma única cota, é possível se expor a centenas de empresas líderes globais, com baixo custo e liquidez diária. Exemplos como o SPY e o VOO, que replicam o S&P 500, ou o QQQ, que segue a Nasdaq 100, dão acesso direto à economia mais inovadora do planeta.
Como costumo dizer em minhas palestras: “O ETF democratiza o acesso ao que antes era privilégio de grandes fundos institucionais”. Você não precisa escolher entre Apple ou Microsoft, Tesla ou Nvidia. Basta comprar um ETF e automaticamente se tornar sócio de todas. Isso elimina o risco de concentração e garante que você capture o retorno médio do mercado – que, historicamente, já é superior à maioria dos fundos ativos.
Diversificação além dos EUA
Outro equívoco comum é pensar que, ao investir na bolsa americana, você fica limitado ao mercado local. Pelo contrário: nos Estados Unidos estão listados ETFs que replicam índices de praticamente todo o mundo. É possível investir no Brasil, em mercados emergentes, na Europa ou na Ásia, sempre com a segurança jurídica do mercado americano e custos incomparavelmente mais baixos.
Essa é uma diferença fundamental. No Brasil, enfrentamos um ambiente de alta tributação, instabilidade regulatória e concentração bancária. Já nos EUA, o investidor opera em um sistema eficiente, transparente e competitivo, onde até mesmo o pequeno aplicador consegue acessar estratégias sofisticadas com custos mínimos.
Renda passiva em dólar com ETFs
A grande virada de chave na minha trajetória pessoal veio quando descobri que era possível, além de investir em ETFs, gerar renda recorrente em dólar com estratégias como Covered Call. Essa técnica permite transformar uma carteira de ETFs em uma fonte constante de fluxo de caixa, sem abrir mão da exposição ao mercado de ações.
Isso significa que o investidor brasileiro pode, com disciplina, começar pequeno e, ao longo do tempo, acumular não apenas patrimônio em moeda forte, mas também uma renda mensal previsível. É como se você tivesse um aluguel em dólar caindo na conta, independentemente da cotação do câmbio.
O que John Bogle nos ensina
John Bogle defendia que “no longo prazo, o investidor só precisa do mercado como um todo, e não de apostas individuais”. Essa filosofia simples, mas poderosa, prova que tentar prever qual empresa ou setor vai vencer é um jogo de perdedor. O que funciona é comprar o mercado inteiro via fundos de índice e deixar o tempo e os juros compostos fazerem o trabalho.
Ao adotar ETFs, você elimina custos desnecessários, evita armadilhas de gestores que prometem retornos extraordinários e se beneficia diretamente da geração de valor das empresas. É o que eu chamo de investir com inteligência e pragmatismo, em vez de cair na tentação da especulação.
Por que prefiro ETFs nos EUA aos BDRs no Brasil
Embora no Brasil existam BDRs e ETFs listados na B3 que replicam índices internacionais, a experiência não se compara à de investir direto nos EUA. Aqui, os custos são mais altos, a liquidez é menor e o investidor está sempre sujeito à insegurança regulatória local. Nos Estados Unidos, os ETFs oferecem liquidez gigantesca, spreads mínimos e transparência diária de composição.
Essa diferença, muitas vezes invisível ao iniciante, é determinante no longo prazo. Basta comparar: enquanto um fundo tradicional no Brasil cobra 2% de taxa de administração ao ano, ETFs como o VOO custam apenas 0,03%. Ao longo de décadas, essa economia de taxas pode significar milhões a mais no bolso do investidor.
Mesmo com o dólar em queda, ETFs nos EUA são o melhor caminho
O investidor brasileiro precisa abandonar a ilusão de que basta acompanhar o CDI ou apostar no câmbio de curto prazo. A verdadeira construção de riqueza acontece quando você se expõe a ativos globais, com disciplina, visão de longo prazo e foco em custos baixos.
Mesmo que o dólar caia ainda mais, a Bolsa americana continuará sendo o melhor veículo para investir em qualquer mercado do mundo, inclusive no Brasil, mas com a segurança jurídica, a eficiência e a liquidez que só os Estados Unidos oferecem.
Na minha visão, não há dúvida: vale muito mais a pena investir via ETFs nos EUA do que ficar restrito às alternativas locais. Esse é o caminho para proteção patrimonial, geração de renda em moeda forte e verdadeira liberdade financeira.