Executivo em evento financeiro associado ao debate sobre previsões do bitcoin em 2025.
Larry Fink, CEO da BlackRock, participou de um evento em Nova York neste mês. Em janeiro, afirmou que o bitcoin poderia atingir até US$ 700 mil.

No início de 2025, o consenso em torno do Bitcoin parecia sólido. A narrativa dominante combinava adoção institucional, mudança regulatória favorável nos Estados Unidos e projeções de preços que rapidamente ultrapassavam a casa das centenas de milhares de dólares.

Quase um ano depois, o balanço é claro: as previsões mais otimistas não se confirmaram.

Com o ano chegando ao fim, o Bitcoin opera próximo de US$ 88 mil, acumulando queda no ano e bem distante dos alvos que dominaram relatórios, entrevistas e apresentações institucionais ao longo dos últimos 12 meses .

O episódio deixa lições importantes — não apenas sobre o ativo em si, mas sobre como narrativas de mercado são construídas, amplificadas e, muitas vezes, aceitas sem o devido ceticismo.

Quando o consenso fica confortável demais

Ao longo de 2024 e início de 2025, uma série de projeções passou a circular com frequência crescente. Bancos, gestoras e analistas apontavam para preços entre US$ 200 mil e US$ 250 mil já em 2025, enquanto estimativas mais longas falavam em valores ainda mais elevados.

A justificativa era recorrente: fluxo institucional crescente, escassez estrutural do ativo e maior legitimidade no sistema financeiro tradicional.

O problema não estava na tese de longo prazo, mas na compressão excessiva do tempo. O mercado passou a tratar cenários condicionais como trajetórias quase inevitáveis.

O que de fato aconteceu

Na prática, o bitcoin chegou a atingir máximas relevantes ao longo do ano, ultrapassando a faixa dos US$ 120 mil em determinado momento. Mas o movimento não se sustentou.

À medida que 2025 avançou, fatores como:

  • política monetária ainda restritiva,
  • redução do apetite por risco global,
  • realização de lucros,
  • e expectativas excessivamente antecipadas

passaram a pesar sobre os preços. O resultado foi um ativo mais volátil, com desempenho aquém do prometido e distante das projeções mais agressivas divulgadas meses antes .

A assimetria entre narrativa e realidade

O caso do bitcoin em 2025 expõe um padrão recorrente nos mercados financeiros: quando uma narrativa se torna dominante demais, o risco deixa de ser precificado corretamente.

Boa parte das projeções partia do pressuposto de que a entrada institucional seria linear e contínua, ignorando que grandes alocações ocorrem em ciclos, dependem de condições macro e estão sujeitas a mudanças rápidas de humor.

Além disso, a própria institucionalização do ativo reduz parte da assimetria que existia nos ciclos anteriores. Quanto mais integrado ao sistema financeiro tradicional, mais o bitcoin passa a responder a fatores como juros, liquidez e correlação com outros ativos de risco.

O erro não foi o ativo — foi o enquadramento

Importante destacar: o desempenho abaixo do esperado em 2025 não invalida o bitcoin como classe de ativo. O que falhou foi o enquadramento excessivamente otimista, que tratou um cenário possível como praticamente garantido.

Esse tipo de erro é comum em fases de transição de ciclo, quando:

  • a memória recente de altas fortes ainda está viva;
  • novos participantes entram guiados por expectativas elevadas;
  • e projeções extremas ganham mais atenção do que análises conservadoras.

O mercado, como sempre, fez o ajuste.

O que muda a partir daqui

O saldo de 2025 tende a tornar o debate mais maduro. Projeções grandiosas perdem força, e a discussão volta a girar em torno de:

  • fundamentos de longo prazo;
  • papel do ativo dentro de uma carteira diversificada;
  • gestão de risco e volatilidade;
  • e horizonte de investimento adequado.

Esse movimento é saudável. Ativos que sobrevivem à frustração de expectativas exageradas costumam emergir mais bem precificados e com uma base de investidores mais consciente.

O bitcoin não “falhou” em 2025. Falharam as certezas excessivas.

O episódio reforça uma lição antiga dos mercados: previsões ousadas funcionam bem como manchete, mas raramente como guia confiável de alocação.

Para o investidor, o caminho segue sendo o mesmo — menos fascínio por números extremos e mais atenção à estrutura, ao ciclo e ao papel de cada ativo dentro do portfólio.

Em mercados maduros, isso faz toda a diferença.