
Apesar do tom defensivo entre investidores brasileiros, o cenário traçado pelo Bradesco BBI indica que a atual aversão ao risco pode representar um ponto de entrada estratégico na Bolsa. A análise sugere que fatores sazonais e a perspectiva de cortes de juros criam um ambiente favorável para ativos sensíveis à Selic e papéis ligados ao ciclo doméstico.
Cautela domina o mercado local
Os investidores locais têm adotado uma postura mais conservadora diante da incerteza sobre o início do ciclo de cortes de juros, das dúvidas fiscais e da aproximação do calendário eleitoral de 2026. Segundo relatório do Bradesco BBI, após uma sequência positiva no acumulado do ano, muitos preferiram reduzir exposição a ações cíclicas e de consumo, migrando para setores defensivos e commodities.
O banco avalia, no entanto, que esses ventos contrários devem diminuir nas próximas semanas. “Há uma oportunidade tática de curto prazo, antes dos catalisadores claros de juros e eleições”, aponta a equipe de estratégia liderada por Ben Laidler.
Quatro fatores explicam o pessimismo — e por que ele pode virar
O BBI identifica quatro pontos que explicam o atual ceticismo dos investidores:
- Expectativa de que o primeiro corte da Selic passe de janeiro para março;
- Incerteza fiscal e política para 2026;
- Temporada de balanços com desaceleração de lucros;
- Reforço recente do dólar frente ao real.
Apesar disso, o relatório ressalta que tais fatores são temporários. O BBI acredita que a economia já dá sinais de desaceleração, o que pode antecipar cortes na taxa básica ainda no início de 2026. Além disso, o mercado estaria próximo do “pico de incerteza política”, com manutenção das regras fiscais e perspectiva de estabilidade cambial.
Movimentos táticos e setores favorecidos
Segundo o Bradesco BBI, o momento favorece ativos ligados à queda dos juros e à retomada do crédito. O portfólio modelo do banco inclui nomes como Rumo (RAIL3), Movida (MOVI3), Hapvida (HAPV3) e MRV&Co (MRVE3), além de estatais e exportadoras como Banco do Brasil (BBAS3) e Vale (VALE3).
O fluxo de saída de capitais locais, que pressionou a Bolsa nas últimas semanas, também mostra sinais de desaceleração — e pode se reverter quando o primeiro corte da Selic se confirmar. “Esse é um aspecto positivo pouco valorizado que amplifica o impacto dos juros mais baixos e sustenta o fluxo estrangeiro”, diz o documento.
América Latina: Brasil em destaque
No panorama regional, o BBI mantém exposição acima da média (overweight) para Brasil, Argentina e Chile, enquanto adota posição neutra para o México e abaixo da média (underweight) para o Peru.
A recomendação reflete uma aposta de que o Brasil continua sendo o mercado mais líquido e com fundamentos sólidos para capturar a virada de ciclo de juros na América Latina.
Oportunidade no meio da cautela
Para o investidor, o relatório sugere que o momento atual — marcado por cautela e realização de lucros — pode representar uma janela curta de entrada antes que os fluxos de capital se revertam. A leitura de oportunidade se apoia na combinação de avaliações descontadas, câmbio favorável e expectativa de cortes de juros próximos.
Com as incertezas já precificadas e o humor global ainda positivo com emergentes, a Bolsa brasileira pode se beneficiar de uma reprecificação rápida quando a confiança retornar.