
O mercado financeiro vive nesta terça-feira (16) um dia clássico de aversão a risco, com quedas generalizadas nas bolsas globais e desempenho particularmente negativo dos ativos brasileiros. O Ibovespa recua 2,16%, figurando entre os piores resultados do mundo, pressionado por uma combinação rara de fatores externos adversos e ruídos domésticos que se somam e ampliam a volatilidade.
Desde o início do pregão, o movimento foi de redução de risco em escala global. Bolsas asiáticas fecharam em queda próxima de 1,5%, a Europa opera com perdas ao redor de 0,6% e, nos Estados Unidos, os principais índices também recuam, ainda que de forma mais moderada. Na América Latina, o México cai cerca de 1,5%, enquanto o Brasil sofre um ajuste mais intenso.
O pano de fundo global passa por dados macroeconômicos ruidosos nos Estados Unidos, que aumentaram a incerteza sobre o ritmo de desaceleração da economia americana e a trajetória futura da política monetária do Federal Reserve.
Os números do mercado de trabalho mostraram uma taxa de desemprego em 4,6%, o maior nível desde setembro de 2021. O crescimento do salário-hora veio abaixo do esperado, reduzindo pressões inflacionárias, enquanto a força de trabalho aumentou, sinalizando maior dificuldade de recolocação. Em contrapartida, os dados de consumo surpreenderam positivamente. As vendas no varejo ficaram estáveis no agregado, mas o chamado grupo de controle, considerado uma proxy relevante do PIB americano, avançou 0,8%, muito acima do consenso.
O resultado foi um dia de forte oscilação nos juros americanos, mas sem definição clara de tendência. As taxas dos Treasuries de dois e dez anos operam próximas da estabilidade, refletindo a leitura de que os dados foram barulhentos, porém insuficientes para alterar, por ora, o cenário-base do Fed. Ainda assim, o mercado segue atento: caso a taxa de desemprego avance para 4,7% nos próximos meses, entra em campo a chamada Sahm Rule, historicamente associada a recessões nos Estados Unidos.
Se o ambiente externo já é desafiador, o cenário doméstico funciona como um amplificador das perdas. A ata mais recente do Comitê de Política Monetária reforçou o tom duro do Banco Central, deixando claro que a autoridade monetária segue preocupada com a condução fiscal e não vê espaço para flexibilização relevante da política de juros no curto prazo. A leitura predominante no mercado foi a de que, diante de um fiscal desancorado, os juros precisarão permanecer elevados por mais tempo.
A reação foi imediata. As curvas de juros futuros abriram com alta entre 20 e 25 pontos-base, penalizando ações sensíveis ao custo de capital, justamente aquelas que haviam apresentado bom desempenho nos últimos pregões. Ao mesmo tempo, o Tesouro Nacional enfrentou dificuldade em leilões recentes, vendendo apenas parte dos lotes ofertados, o que reforça a percepção de prêmio de risco mais elevado para o país.
Outro fator relevante do dia é o forte movimento de queda no petróleo. O WTI recua mais de 3% e opera abaixo de US$ 55 o barril, nível que não era visto desde 2021. O Brent também cede e se aproxima de mínimas de vários anos. O movimento pressiona ações do setor de energia em todo o mundo e, no Brasil, pesa de forma significativa sobre a Petrobras, que cai mais de 3% e responde por parcela relevante da perda de pontos do Ibovespa.
A combinação de juros em alta, petróleo em queda e ruído político cria um cenário particularmente negativo para a bolsa brasileira. Rumores envolvendo pesquisas eleitorais, ainda que sem confirmação oficial, adicionaram volatilidade aos ativos locais e afetaram o câmbio. O real se desvaloriza quase 1% e volta a operar na casa de R$ 5,47, desempenho pior do que o observado em outras moedas emergentes no dia, como o peso mexicano e o rand sul-africano.
Mesmo em um ambiente de dólar globalmente mais fraco, com o índice DXY recuando para perto de 98 pontos, o Brasil sofre com fluxo negativo e prêmio de risco elevado. O movimento reforça a leitura de que, no curto prazo, o desempenho dos ativos brasileiros seguirá condicionado não apenas ao cenário internacional, mas principalmente à evolução do quadro fiscal e à percepção de risco político.
Para o investidor, o pregão desta terça-feira serve como um lembrete claro de que volatilidade não é exceção, mas parte estrutural do mercado, especialmente em países emergentes. Em cenários como este, mais importante do que tentar antecipar movimentos de curto prazo é garantir que o portfólio esteja preparado para atravessar períodos de estresse sem comprometer a estratégia de longo prazo.
Como defende Murad, CEO da SpaceMoney, o investidor não é recompensado por prever o mercado, mas por manter uma exposição correta, diversificada e de baixo custo ao longo do tempo. Murad destaca que portfólios que sobrevivem aos piores dias são justamente aqueles que permitem capturar os melhores anos.
Dentro dessa lógica, uma alocação em ETFs negociados na B3, com foco em diversificação global e controle de volatilidade, surge como alternativa eficiente para enfrentar ambientes adversos sem abrir mão de renda variável. Uma carteira com cerca de 80% em ações pode ser estruturada de forma mais resiliente ao combinar exposição internacional, seleção defensiva no Brasil e ativos de proteção.
No eixo global, o IVVB11 cumpre o papel de núcleo da carteira ao oferecer exposição às maiores empresas dos Estados Unidos, com receitas dolarizadas e menor correlação com o risco político brasileiro. A diversificação é complementada por ETFs como o EURP11, voltado para ações da Europa desenvolvida, e o ASIA11, que adiciona exposição à Ásia e a mercados com dinâmica econômica distinta do Ocidente.
No Brasil, em um ambiente de juros elevados e incerteza fiscal, faz mais sentido priorizar qualidade e previsibilidade. O DIVO11, composto por empresas com histórico consistente de pagamento de dividendos, tende a sofrer menos em ciclos de aperto monetário do que o índice amplo. A exposição a small caps, via SMAL11, adiciona assimetria positiva para o longo prazo, enquanto um ETF de utilities, como o UTIL11, contribui para reduzir a volatilidade do conjunto.
Para completar a estrutura, ativos de descorrelação seguem cumprindo papel importante. O GOLD11 funciona como proteção em cenários de estresse sistêmico, enquanto o USAL11 oferece hedge cambial direto, reduzindo o impacto de choques fiscais, políticos ou de fluxo externo sobre o portfólio.
Em dias como o de hoje, em que praticamente todas as telas estão vermelhas, a principal decisão do investidor não é operacional, mas estratégica. Ajustar tamanho de risco, evitar sobreposição desnecessária e manter disciplina tende a ser mais eficiente do que reagir ao ruído. O mercado sempre testa convicções nos piores momentos. Quem atravessa esses períodos com uma carteira bem construída costuma estar melhor posicionado quando o ciclo vira.