“A Culpa é das Estrelas” é, sem dúvida, um daqueles filmes que derretem o coração dos espectadores mais valentões. Para quem ainda não assistiu, fica aqui o convite. Já para aqueles que assistiram, sabem como é difícil segurar as emoções. O filme explora temas profundos sobre mortalidade, amor, esperança e o significado da vida através dos olhos de jovens que enfrentam o dilema da finitude.
Em uma visão mais pragmática, o filme nos convida a enxergar os problemas com um novo olhar. Além disso, nos propõe uma nova ótica e uma nova abordagem para as questões que nos cercam.
Sinais da deterioração financeira
Nesse sentido, a deterioração financeira de uma empresa, por exemplo, raramente acontece de forma súbita. Na verdade, ela segue um padrão previsível. Profissionais de contabilidade podem identificar esse padrão, desde que tenham um olhar treinado. Não basta apenas cumprir funções básicas. É necessário, portanto, analisar os indicadores financeiros sob um novo ângulo.
O primeiro e mais evidente sinal é a deterioração progressiva do capital de giro. Ela se manifesta através do aumento desproporcional do prazo médio de recebimento. Além disso, aparece no crescimento descontrolado dos estoques ou na redução sistemática do prazo médio de pagamento a fornecedores.
Em outras palavras, quando uma empresa começa a esticar prazos com fornecedores para compensar a falta de liquidez, isso indica que o ciclo financeiro está se desequilibrando. Este é, portanto, um primeiro sinal, um primeiro sintoma que a empresa está dando um grito de socorro silencioso.
Outro indicador crucial é a queda consistente da margem EBITDA ao longo de três ou mais trimestres consecutivos, especialmente quando acompanhada de aumento de custos fixos ou redução de receitas. A análise vertical e horizontal das demonstrações financeiras revela esses padrões com clareza matemática, permitindo, assim, intervenções precoces que podem evitar crises maiores.
Empresas saudáveis mantêm uma estrutura de capital equilibrada. No entanto, quando começam a depender excessivamente de capital de terceiros para financiar operações correntes, isso indica problemas estruturais. A concentração de vencimentos de dívidas em períodos curtos, especialmente quando superior a 60% do total da dívida vencendo em até 12 meses, cria um “efeito sanfona”. Este efeito, por sua vez, pode sufocar o fluxo de caixa.
Além disso, o aumento da participação de empréstimos de curto prazo em relação ao total do endividamento sinaliza dificuldades de acesso a financiamentos de longo prazo. Como resultado, a empresa é forçada a “rolar” dívidas constantemente. Estes indicadores, quando analisados em conjunto, formam um quadro claro da necessidade de reestruturação da dívida antes que ela se torne insustentável.
Ou seja, quando pegamos um cenário específico e jogamos luz focal para algo novo, estamos diante de um mar de oportunidades e possibilidades.
A recuperação judicial como solução
Quando analisamos os dados de empresas que encerram suas atividades, os números são de causar perplexidade. No Brasil, mais de 2 milhões de empresas fecham as portas todos anos. Acima de tudo, cada um desses números não representa apenas uma estatística vazia. São famílias destruídas, sonhos desfeitos, empresários que trabalharam anos para construir algo e viram tudo desmoronar.
Mas diante dos sintomas e das causas que podem ser identificadas, quais são os remédios aplicados frente às dificuldades financeiras das empresas? A resposta é, por certo, até mais alarmante que os dados apresentados acima: nenhuma providência é tomada.
De acordo com dados divulgados pela CNN Brasil, no ano de 2024, houve 2.273 protocolos de pedidos de recuperação judicial. Esses representam cerca de 0,1% das empresas que encerram suas atividades. Por outro lado, nos EUA, cerca de 30% das empresas se utilizam da recuperação judicial (denominada de Chapter 11).
Ou seja, quando em dificuldade, uma empresa americana se socorre de uma previsão legal para buscar sair da adversidade. Em contrapartida, no Brasil, as empresas parecem não querer tomar o remédio que irá salvá-las.
A recuperação judicial é uma questão que possui um estigma muito grande. Às vezes, soa quase como um palavrão. Apesar disso, ela nada mais é do que um remédio. Um remédio legal transformador que possibilita e cria os caminhos para uma recuperação total e longeva da saúde financeira de uma empresa.
Em um país em que estamos acostumados a colocar a culpa de todas as nossas mazelas no trânsito, no mal tempo, na falta de oportunidade, nos políticos, nas classes dominantes, até mesmo “nas estrelas”, nos esquecemos que, por vezes, a solução está em nossas mãos. Em conclusão, a solução talvez esteja em olhar mais para a floresta e menos para as árvores.