quinta, 18 de abril de 2024
Taxa básica de juros

Ponto/Contraponto - Alta da Selic acima da expectativa: erro ou realismo?

Ontem à noite, além de elevar a taxa básica de juros para 2,75% ao ano em decisão unânime, o Copom também contratou uma nova alta de mesma magnitude na próxima reunião, em 4 e 5 de maio

18 março 2021 - 18h00Por Investing.com

Por Ana Carolina Siedschlag e Leandro Manzoni, da Investing.com - A decisão do Comitê de Política Monetária, o Copom, de elevar a taxa Selic em 0,75%, e não em 0,50% como esperado pelo mercado, foi recebida com opiniões divergentes entre dois economistas consultados pelo Investing.com.

Ontem à noite, além de elevar a taxa básica de juros para 2,75% ao ano em decisão unânime – a primeira vez em seis anos -, o Copom também contratou uma nova alta de mesma magnitude na próxima reunião, em 4 e 5 de maio, a não ser que haja mudança significativa em seu cenário-base, do balanço de risco e nas projeções de inflação, segundo o comunicado divulgado simultaneamente.

Para André Perfeito, economista-chefe da Necton Investimentos, a decisão do colegiado, foi “acertada e realista” ao adiantar parte das altas já esperadas para a taxa este ano, com o objetivo tanto de conter a inflação como também de ajudar a aliviar o real fortemente desvalorizado perante o dólar.

Já para José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator, foi justo a intenção velada de corrigir a inflação via câmbio que coloca em dúvidas o regime de metas do BC e ainda pode adicionar alguma dificuldade à recuperação econômica.

Leia abaixo as visões dos economistas. A entrevista completa de cada um se encontra nos links abaixo.

José Francisco de Lima Gonçalves - Selic a 2,75%: “Não é exagerado, é errado”

André Perfeito - "BC foi realista ao elevar taxa a 2,75%”

Realismo

O comunicado do Banco Central foi realista e a alta de 0,75 ponto percentual da taxa Selic, além de fazer sentido em relação à perspectiva da inflação para os próximos doze meses, também mirou dar algum alívio ao câmbio, disse André Perfeito, da Necton.

Para ele, que esperava 0,50% de alta, o tom do comunicado foi “acertado” ao antecipar parte da elevação já prevista para as próximas reuniões até o final do ano, considerando que a inflação pode chegar perto de 7% em maio ou junho. Ele espera mais três altas de 0,75%.

Segundo Perfeito, parte da decisão também parece ser para amenizar a pressão do câmbio nos IGPs, já que a forte desvalorização do real ante o dólar americano se tornou “um problema agudo”.

Erro

A alta de 0,75 ponto percentual da taxa básica Selic foi errada e mal justificada pelo Banco Central, disse José Francisco de Lima Gonçalves, do Banco Fator.

Para ele, parece haver uma intenção da autoridade monetária de corrigir o câmbio, sem que isso tenha ficado explícito no comunicado, enquanto que os termos para descrever a atual situação da economia do país foram “exagerados”.

“Achei muito ruim o BC ter escrito que existe ‘uma consistente recuperação da economia’ porque o regime de metas, que é o que está em vigor, é um regime de meta de inflação e isso pressupõe uma avaliação da atividade econômica - que não está em recuperação consistente, nem agora, nem pelo que se indica à frente”, diz.