sexta, 26 de abril de 2024
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Guerra 'vs' macro: cuidado com o que o mercado ainda não descontou

Analistas avaliam que como a deterioração da macroeconomia europeia é iminente, os bancos centrais têm pressa em aumentar as taxas antes que isso seja percebido, porque em um contexto econômico mais vulnerável não terão tanta facilidade para fazer isso

28 março 2022 - 12h34Por Investing.com

Por Laura Sánchez, do Investing.com Espanha

Investing.com - A semana reserva dias em que conheceremos dados macroeconômicos interessantes, como o a inflação ao consumidor da zona do Euro, bem como o relatório de emprego norte-americano (conhecido como Payroll) desta sexta-feira.

“Em circunstâncias normais, teria muita influência, mas não agora. A invasão da Ucrânia impulsiona o mercado. O resto é acessório, exceto taxas de juro”, salientam analistas do Bankinter.

Como eles explicam: “como a deterioração da macroeconomia europeia é iminente, os bancos centrais têm pressa em aumentar as taxas antes que isso seja percebido, porque em um contexto econômico mais vulnerável não terão tanta facilidade para defender os aumentos”.

“A profundidade e a velocidade dos aumentos das taxas, ainda não precificadas corretamente, e a evolução da guerra, impulsionam o mercado. O resultado da guerra não será rápido (nosso cenário é de uma guerra de desgaste), mas os aumentos das taxas sim. Isso mudará progressivamente o contexto, dando-lhe tempo para reagir. O mercado não descontou essa mudança”, reforçam os analistas do Bankinter.

“A mudança será progressiva, não imediata. Ela consistirá, conceitualmente (não quantitativamente exata), em metade do crescimento, o dobro da inflação e lucros corporativos questionáveis. Isso, juntamente com taxas de juros mais altas, pode não resultar em avaliações mais generosas, mas mais baixas. As bolsas ainda não o descontaram, mas as valorizações das empresas e dos índices serão atualizadas ao longo de abril e maio... então a sua reação poderá ser menos acomodatícia”, avisa o Bankinter.

“Embora os conflitos geopolíticos geralmente sejam oportunidades de compra, a menos que levem a uma recessão, a prudência prevalece após a recuperação dos níveis pré-invasão e na ausência de maior visibilidade dos efeitos da guerra”, concorda economistas da Renta 4.

Segundo estes especialistas, com os principais índices europeus a recuperarem os níveis de 23 de fevereiro após registarem reavaliações de +15% face à pontuação mínima de 7 de março, o movimento dos mercados acionário dependerá previsivelmente da evolução da guerra:

1- Se as negociações Rússia-Ucrânia avançarem, haverá possivelmente impulso adicional nas bolsas de valores, embora impactos macroeconômicos ainda incertos poderiam limitar apreciações adicionais sustentadas, com possível desclassificação de curto prazo por falta de visibilidade;

2 - Pelo contrário, a falta de progresso nas negociações de paz pode levar os mercados a alguma realização de lucro, especialmente em um ambiente monetário de maior aperto ("hawkish") e com dúvidas sobre o impacto no lucro por ação estimado.