quinta, 28 de março de 2024
Combustível em alta

Etanol: mudança na mistura da gasolina teria impacto mínimo na inflação, diz BTG

Desde o começo de 2021, preços da gasolina e do diesel subiram 35% e 29% nas bombas dos postos

28 setembro 2021 - 17h23Por Investing.com
 - Crédito: sippakorn yamkasikorn/Unsplash

Por Ana Beatriz Bartolo, da Investing.com - A alta no preço do combustível costuma ser um assunto polêmico, especialmente por causa do seu peso na inflação. Historicamente, a discussão a respeito costuma estar relacionada ao diesel, mas na semana passada, o presidente Jair Bolsonaro trouxe o etanol para o centro da conversa, ao especular sobre como uma possível redução na mistura da gasolina afetaria os bolsos do consumidor. Porém, cálculos do BTG Pactual (SA:BPAC11) estimam que essa mudança não traria resultados efetivos na redução da inflação.

Desde o começo do ano, os preços da gasolina e do diesel subiram 35% e 29% nas bombas dos postos. Apesar do preço final depender de vários elementos, o presidente sugeriu que uma redução na quantidade de etanol anidro misturada na gasolina poderia diminuir o valor pago na bomba. Isso porque o preço do etanol vem subindo nos últimos meses, por causa do efeito negativo do clima na produtividade da cana-de-açúcar no país. Atualmente, o etanol anidro corresponde entre 18% e 27% da mistura da gasolina.

De acordo com um estudo feito pelo BTG, uma redução de 5 p.p. na mistura de etanol anidro na gasolina levaria a uma redução de 0,4% nos preços da gasolina na bomba, considerando valores e alíquotas de impostos do estado de São Paulo.

Isso quer dizer que se o governo reduzisse a mistura ao mínimo de 18%, a redução do preço na bomba seria de 0,6%, ou apenas R$ 0,04 por litro. A diferença equivale a uma variação de 2% no preço da Petrobras (SA:PETR4) nas refinarias, algo pouco diferente do que a variação diária do petróleo brent no mercado.

Para o BTG, por mais que haja uma pequena diferença no preço, a mudança exigiria mais trabalho do que valeria a pena. Porém, considerando o impacto da combinação climática de seca, geada e incêndios florestais na safra de cana-de-açúcar, o relatório aponta que o governo poderia estar de olho no risco do fornecimento de etanol durante período de entressafra.

Com base nos dados da Unica, a produção de etanol hidratado acumulado no ano até meados de setembro caiu 15% contra um aumento de 26% para o anidro. Assim, o BTG aponta que diante da menor safra de cana-de-açúcar, os produtores reduziram intencionalmente a produção de etanol hidratado para deixar os preços dispararem e forçar o consumidor a migrar para o uso da gasolina, pelo menos até que os preços se acomodem novamente. No caso do anidro, que é o misturado à gasolina, a indústria deve garantir que o abastecimento seja suficiente durante a entressafra.

Açúcar

A mudança na porcentagem de mistura de etanol na gasolina também teria um impacto nos preços do açúcar. O BTG estima que para cada 1% na diminuição na mistura de etanol anidro, haveria um aumento de 700 mil toneladas na produção de açúcar. Na hipótese de uma redução na mistura para 18%, a produção teórica de açúcar poderia subir em 6,3 milhões de toneladas.

Porém, o BTG destaca que esse aumento é uma previsão numérica, já que a capacidade real do Brasil de produção subiria em quatro milhões de toneladas, considerando que a safra de cana-de-açúcar se dividiria em 50/50 para a indústria de açúcar e a de etanol.