domingo, 28 de abril de 2024
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Copom: corte na Selic pode ficar só para setembro, admitem analistas

Especialistas citam falta de sinalização mais contundente de que os juros podem ser reduzidos na próxima reunião do Comitê

22 junho 2023 - 11h12Por Lucas de Andrade
Sede do Banco Central (BC), em Brasília (DF)Sede do Banco Central (BC), em Brasília (DF) - Crédito: Antônio Cruz, para a Agência Brasil

O Comitê de Política Monetária (Copom) anunciou, na última quarta-feira (21), a manutenção da taxa básica de juros Selic em 13,75% ao ano. A decisão veio em linha com o consenso do mercado financeiro, mas o tom duro do colegiado em comunicado subsequente frustrou as expectativas de investidores.

Em documento,  ao avaliar o processo de desinflação no Brasil, o comitê defendeu ser preciso ter "paciência" no controle dos preços e não deu sinalizações mais contundentes de que possa cortar juros em sua próxima reunião, a ser realizada em agosto.

No texto, o Copom informou que "o ambiente externo se mantém adverso" e que "os bancos centrais das principais economias permanecem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas, inclusive com a retomada de ciclos de elevação de juros em algumas economias".

 

Nesse sentido, a SpaceMoney traz as opiniões de oito analistas sobre a decisão do Banco Central (BC). Veja abaixo:

Para Sérgio Goldenstein, estrategista-chefe de Warren Rena, "o comunicado buscou conter um excesso de otimismo do mercado com relação à trajetória de queda da Selic".

O analista destaca que o comitê não explicitou um maior conforto com a evolução recente da inflação. No comunicado, a autoridade monetária citou que a inflação acumulada em doze meses vai subir ao longo do segundo semestre e apontou que as medidas de núcleos seguem acima do intervalo compatível com a meta de inflação, sem apontar a abertura benigna das últimas leituras.

O executivo analisa que, em outras palavras, de forma sutil, o Copom não se compromete mais com a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período prolongado.

"O comunicado mudou o tempo verbal. Enquanto antes apontava que avaliaria se ela seria capaz para assegurar a convergência da inflação, agora afirma que a estratégia tem se mostrado adequada", pontua Goldenstein. 

A Warren Rena segue com o call de que o Comitê vai iniciar o processo de flexibilização monetária com um corte de 0,25 p.p. em agosto, e acelerar para reduções de 0,50 p.p. nas reuniões subsequentes do ano, com a Selic em 12% ao fim deste ano e, em 2024, aos 9,50%.

Marianna Costa, economista-chefe da TC Investimentos, projeta as mesmas expectativas para as reuniões remanescentes deste ano. 

A executiva vê que o ciclo de queda deve continuar ao longo dos dois primeiros trimestres de 2024, com cortes consecutivos de 50 pontos, o que deve trazer a taxa Selic para perto de 10% em meados do ano, mas não fez estimativas para o fim do próximo ano.

Gondestein avalia que a projeção de inflação no cenário de referência vai continuar em declínio, "em função de provável revisão adicional baixista do IPCA para 2023 e da perspectiva de continuidade do movimento de declínio das expectativas de inflação".

De acordo com o estrategista-chefe, a decisão do Conselho Monetário Nacional (CMN) - formado por Roberto Campos Neto (presidente do Banco Central), Fernando Haddad (ministro da Fazenda) e Simone Tebet (ministra do Orçamento) - sobre a meta de inflação vai ser fundamental para a redução das incertezas e do desvio das expectativas em relação à meta.

Rafael Bevilacqua, estrategista-chefe da Levante, declarou que Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central (BC) e os demais membros do Comitê de Política Monetária (Copom), "seguem a escola de Tomé". 

"[Eles] querem ver uma queda consistente dos índices de inflação e uma ancoragem das expectativas do mercado antes de se comprometerem com um corte na taxa Selic", comentou.

Segundo o analista, as atenções se concentrarão nas expectativas para a divulgação da ata do comitê, a ser divulgada na próxima terça-feira (27), "para saber quais as crenças do BC e sua avaliação sobre a taxa de juros neutra para a economia".

Na avaliação de Antonio van Moorsel, estrategista-chefe da Acqua Vero, "o colegiado moderou silenciosamente o tom, por exemplo, ao reduzir a incerteza acerca do arcabouço fiscal a "residual"e eliminar o cenário alternativo, presente nas divulgações desde fevereiro deste ano".

De acordo com o analista, antes projetava-se a inflação considerada a Selic constante em 13,75% ao longo de todo o horizonte relevante.

"Caso os formuladores de política monetária anunciem a primeira redução da Selic em agosto, vai ser em intensidade inferior ao projetado pelo mercado" aposta van Moorsel.

Já Idean Alves, sócio e chefe da mesa de operações da Ação Brasil Investimentos, aposta que "devemos ter a manutenção da Selic na próxima reunião em agosto, em que deve haver a sinalização de quando o corte pode ocorrer".

Ao que tudo indica e como não houve sinalização neste comunicado, o executivo acredita que o corte se dê muito provavelmente na reunião de setembro.

"O Copom está bem assertivo no discurso e não vai mudar agora", complementou.

André Meirelles, diretor de Alocação e Distribuição da InvestSmart, destaca que "o comitê retirou do comunicado trechos importantes, como, por exemplo, a frase que dizia não hesitar em retomar o ciclo de ajuste nos juros, caso o processo de desinflação não transcorra como esperado".

Destaque semelhante fez a Órama Investimentos, em relatório assinado pelo estrategista-chefe Alexandre Espirito Santo e por Eduarda Schmidt, analista de macroeconomia. 

Eles fazem a leitura de que uma redução de 0,25 p.p., para 13,50% a.a., deve ocorrer   "muito possivelmente"  no encontro de agosto.

Além disso, foi removido o parágrafo que dizia que não necessariamente o lançamento do novo arcabouço fiscal levaria a queda dos juros, apesar de incluir em seu balanço de riscos que as incertezas sobre o projeto ainda têm impacto sobre a percepção de inflação. 

Para a reunião entre Fernando Haddad, Roberto Campos Neto e Simone Tebet, esperam que seja discutida algum tipo de alteração nas metas de inflação.

Espírito Santo e Schmidt creem ser provável a alteração do período e passar a prazos mais estendidos, a chamada meta contínua, no lugar do "ano calendário", como ocorre em muitos países.

  "Outras modificações outrora ventiladas podem ser vistas pelo mercado como casuísticas e não devem prosperar, como, por exemplo, a elevação do centro da meta para 4%, dos 3% atuais" , concluíram.

Adriana Dupita, economista sênior da Bloomberg Economics, declarou que o "Banco Central não sinaliza, mas também não fecha a porta para um corte em agosto". "Vai depender de novas boas notícias nestas variáveis", avalia.