sexta, 19 de abril de 2024
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ARTIGO - Stablecoins são os investimentos mais seguros em meio a crash das criptomoedas?

Elas são uma ferramenta conveniente e um ponto de confiança em um mercado cheio de incertezas

28 junho 2022 - 14h54Por Redação SpaceMoney

Por Adriano da Silva Santos*

A confiança nas stablecoins vêm despencando. À medida que o mercado de criptomoedas caiu, os investidores retiraram bilhões da stablecoin mais popular, a Tether. Enquanto isso, outra delas, a Terra, e sua "moeda irmã" Luna também diminuíram, eliminando a poupança de vida de alguns investidores. No entanto, apesar das falhas de uma ou duas, pode-se dizer que nem todas estão igualmente na mesma situação e de outro lado, vemos um movimento bastante interessante de seu uso nesse inverno cripto.

A recente volatilidade do mercado destaca a importância da segurança, da supervisão e da regulação dos mercados cripto. De modo geral, as stablecoins são apoiadas por commodities ou moeda fiduciária, como o dólar que é o mais recorrente. Em outras palavras, ele apoia-se em uma moeda emitida pelo governo que não é flutuante em relação a uma mercadoria física - como ouro ou prata - mas sim pela entidade que a emitiu. Por exemplo, se uma delas é atrelada ao dinheiro dos Estados Unidos, essa criptomoeda equivalerá certamente a um dólar americano. 

Outro fator é que os usos de stablecoins são abrangentes e como muitas outras criptomoedas, seu benefício mais poderoso é sua programação. Em uma cadeia de suprimentos, por exemplo, um contrato inteligente pode ser criado para que, no decorrer do procedimento em que as mercadorias se movam, o pagamento ocorra automaticamente, assim que as forem entregues.  

Portanto, uma empresa ou outros envolvidos em um projeto poderiam ser programados a receberem seus pagamentos em uma única transação, facilitando ainda mais o processo. Neste contexto, existem razões bastante sólidas pelas quais as stablecoins são atraentes e porque geralmente não estão expostas a flutuações de preços, permitindo pagamentos, inclusive além das fronteiras, a qualquer momento sem ter que esperar que os preços se estabilizem. 

Além disso, se um indivíduo ou organização está sendo pago por bens e serviços em criptomoedas, ou eles negociam com outros ativos digitais, como tokens não fungíveis, normalmente é mais rápido e barato usar stablecoins ao invés de converter criptomoedas em dinheiro fiduciário e voltar para a próxima negociação ou compra.  

Isso acontece por meio dos contratos inteligentes que geralmente são codificados para pagar apenas organizações ou indivíduos especificados - isso é útil em casos como ajuda externa, onde muitas vezes há temores em torno de dinheiro indo para as mãos erradas. Micropagamentos de benefícios sociais durante emergências também são possíveis. Enquanto isso, quem recebe o dinheiro e por quanto tempo pode ser programado se assim desejar. 

Os benefícios são tão convincentes que mais de 80% dos bancos centrais em todo o mundo, incluindo o Banco de Reserva da Nova Zelândia, estão explorando sua própria versão de stablecoin - moedas digitais do banco central (CBDCs). Apesar dos CBDCs variarem entre os países, eles provavelmente seriam apoiados pelo Banco Central emissor. O menor risco precisa ser equilibrado em relação à sua utilidade, embora possa ser utilizado dentro de um único país a priori, ele deverá funcionar bem para pagamentos no exterior, caso seja globalmente usado. 

Um ponto importante é que atualmente muitas stablecoins não são regulamentadas, o que significa que os reguladores não estão supervisionando o apoio real (reservas), e sendo assim, os operadores podem enfrentar problemas de responsabilidade legal se as reservas forem deturpadas. Dos quatro tipos de stablecoins, as algorítmicas de longe são as mais arriscadas, como a Terra. 

No mercado, algoritmos e contratos inteligentes especializados gerenciam a oferta de stablecoins em circulação. Caso ela suba acima da moeda atrelada, mais stablecoins são circuladas, reduzindo o preço. Inclusive, existem algumas que são apoiadas por moeda fiduciária (fiat-collaterised). Neste caso, os operadores da stablecoin detêm um dólar americano, euro ou mix de moedas, para cada stablecoin. A moeda fiduciária é mantida em uma conta bancária ou várias como reservas, dando-lhes uma aparência de segurança. Entretanto, permanecem dúvidas sobre a representação correta de tais depósitos bancários ou reservas. 

Fora isso, outro tipo de stablecoins são aquelas apoiadas por criptomoedas (cripto-colaterizadas). O DAI é o mais proeminente. Para ser emitido DAI, o comprador deve depositar o dobro da criptomoeda Ether. Assim, para comprar 100 DAIs, o comprador deve depositar US $200 em Ether. Desse modo, o preço teria que cair mais de 50% antes que qualquer ação pudesse ser necessária para estabilizar seu preço. A vantagem é que, ao contrário das stablecoins fiduciárias, a criptomoeda pode ser vista por todos, aumentando a transparência e a confiança. 

Por fim, há um tipo de stablecoin que é apoiada por commodities (commodities colateralizadas), elas são fornceidas mediante aos ativos físicos como ouro (por exemplo, Digix) ou até mesmo imóveis. Os preços das commodities, no entanto, podem cair e novamente os operadores devem se manter confiáveis para que mercadorias se consolidem suficientemente como reservas.  

Atualmente, fatores como a inflação, o aumento das taxas de juros, a tensão geopolítica e as questões da cadeia de suprimentos estão afetando todos os ativos de risco, incluindo stablecoins. No entanto, elas são uma ferramenta conveniente em um momento de crash das criptos e um ponto de confiança em um mercado cheio de incertezas. Por isso, elas estão cada vez mais aumentando em popularidade e uso. 

 

*Adriano da Silva Santos é um jornalista e escritor, formado na Universidade Nove de Julho (UNINOVE). Reconhecido pelos prêmios de Excelência em webjornalismo e jornalismo impresso, é comentarista do podcast "Abaixa a Bola" e colunista de editorias de criptomoedas, economia, investimentos, sustentabilidade e tecnologia voltada à medicina.