sexta, 26 de abril de 2024
Reflexos da guerra

Alta do trigo "espreme" setor de alimentos; além da M.Dias Branco (MDIA3), veja empresas impactadas

Analista da Nord Research listou ações de empresas brasileiras que têm mostrado grande volatilidade e que mais perdem com a alta do trigo devido à escalada bélica da Rússia contra a Ucrânia

23 março 2022 - 12h18Por Redação Spacemoney
TrigoTrigo - Crédito: Reuters

A guerra na Ucrânia chega nesta quarta-feira (22) ao 28º dia e ainda sem negociações avançadas para um cessar-fogo. Além da forte alta nos preços do petróleo e do gás natural, a situação é bastante delicada para commodities agrícolas, com maior destaque para o trigo.

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A Ucrânia é a maior exportadora de trigo do mundo e as consequências já são sentidas pelas empresas de alimentos expostas ao preço dos grãos.

E, para o consumidor, o reflexo pode ser o preço mais caro da cerveja e da carne do churrasco, assim como da farinha de trigo, macarrão, biscoitos, pãozinho e até o óleo de soja.

Para piorar o cenário, o Banco Central aumentou novamente a taxa básica de juros (Selic) para 11,75%, pressionando ainda mais os preços de alimentos.

A analista da Nord Research, Danielle Lopes, listou ações de empresas brasileiras que têm mostrado uma grande volatilidade recente e que mais perdem com a alta do trigo devido à escalada bélica da Rússia contra a Ucrânia.

Confira a análise

Ambev

A Ambev (ABEV3) tem uma parcela significativa de custos de produção associado em commodities, como alumínio, milho, trigo e açúcar.

De acordo com a nossa analista, o volume total da indústria cervejeira subiu somente 8,8% de 2020 para 2021 e o aumento de custos eleva a dificuldade da companhia em ter resultados expressivos. Danielle ressalta que a Ambev vem enfrentando um movimento de competição com players menores, o que dificulta mais ainda o repasse de preço sem perder espaço no mercado.

M.Dias Branco

A atividade econômica desenvolvida pela M.Dias Branco (MDIA3) se concentra na produção e comercialização de produtos do segmento alimentício. Assim, a principal matéria-prima da companhia é o trigo, seguida pelos óleos vegetais, que participam com grande relevância na formação dos custos variáveis.

A analista da Nord Research destaca que todas as matérias-primas, incluindo o trigo, a farinha de trigo, o óleo vegetal, a gordura e o açúcar, contribuem com 60,1% dos custos dos produtos da M. Dias vendidos na média. A título de comparação, somente o trigo representou cerca de 45% dos custos da companhia em 2020.

Inclusive, a Mdias cita em seus documentos os possíveis riscos advindos de sequenciais crises da Ucrânia, importante país produtor de trigo, que acontecem desde 2013 e que afetam as volatilidades da commodity. Apesar de Mdias ter a prática de estocar cerca de 2 a 4 meses de consumo, externalidades como uma guerra e consequentes impactos na exportação de trigo podem perdurar e prejudicar diretamente seus estoques e seus resultados.

BRF

A exportação de carne da Ucrânia representa 10% do volume no Brasil e do que é comercializado globalmente. Além disso, 34% do trigo e 15% do milho partem do Mar Negro.

A relevância? Cerca de 65%, 75% dos custos de produção de frangos são associados ao milho, enquanto nos suínos essa relação está entre 60% e 70%, e na pecuária intensiva entre 20% e 30%. Assim, o negócio da BRF (BRFS3) é amplamente dependente do custo e fornecimento de milho e soja (principais matérias-primas e base de alimentos para criação de suínos e aves).

Danielle considera que a empresa pode ter dificuldade para repassar o aumento de custos em 2022. Em 2021, por exemplo, com os impactos da pandemia, o Ebitda havia crescido apenas 7,2% e, agora, os próximos resultados serão impactados pelos novos agravamentos da guerra no Leste Europeu.

JBS

A mesma lógica se aplica à JBS (JBSS3). Já em 2021, os custos pela alta das commodities impactaram a companhia em 20%, movimento que deve se estender em 2022 em consequência dos conflitos atuais. "Por outro lado, entendemos que a JBS tem um benefício de diversificação de linhas de negócio (Brasil e EUA) que absorve os repasses de preços de formas distintas, além de recentes aquisições que devem contribuir nos resultados", diz Danielle.

Minerva

Ainda no segmento de carnes, o analista da Nord Research, Fabiano Vaz, comenta que a alta do trigo tem impacto menor para Minerva (BEEF3), porém a alta do milho, que faz parte das rações para animais que são usadas principalmente na estiagem, pode impactar nas operações. O preço do animal para a companhia pode subir, mas como a demanda por carne está aquecida e a oferta restrita, o impacto na margem pode não ser tão grande assim.

Camil

Por último, a analista Danielle Lopes cita a Camil (CAML3), que adquiriu a Santa Amália para iniciar seus negócios nos segmentos de massa, e que são altamente dependentes de trigo. Porém, como o volume ainda é pequeno, o impacto será menor. Para Danielle, os maiores volumes se concentram em grãos (arroz e feijão), o que já mostra a dependência natural da companhia em exposição aos preços das commodities.