sexta, 29 de março de 2024
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À base de vitaminas, Cimed cresce 30% em 2020 e se torna a terceira maior farmacêutica do Brasil

Modelo de distribuição própria e maior demanda por produtos de imunidade impulsionam laboratório de capital nacional fundado em 1977

16 março 2021 - 16h01Por Gustavo Magaldi

Em 2020, a indústria farmacêutica teve um ano de fortíssimas emoções — ainda mais fortes do que em outros setores da economia. A pandemia da Covid-19 colocou os fabricantes de medicamentos, vacinas e outros produtos de saúde no centro das atenções de governos, consumidores e investidores.

Ao mesmo tempo em que o surgimento do novo coronavírus aumentou o interesse das pessoas em cuidar da própria saúde, gerando maior demanda por determinados produtos, diversos fatores afetaram negativamente as farmacêuticas, como restrições de circulação, dificuldades de acesso a insumos e a desvalorização do real frente ao dólar, que encareceu os insumos importados.

Nesse cenário, turbulento e cheio de incertezas, mas também com muitas oportunidades, a Cimed, grupo empresarial brasileiro que atua em todas as etapas da cadeia farmacêutica, registrou um crescimento vitaminado — literalmente. 

“Em 2020, nosso crescimento de receita foi superior a 30%. Nós terminamos o ano como a terceira maior empresa [farmacêutica do Brasil] em volume, com 400 milhões de unidades vendidas, com grande destaque para nossa linha de vitaminas”, diz o CFO e conselheiro consultivo da Cimed, José Roberto Lettiere.

Como consequência natural da pandemia, as pessoas passaram a se preocupar mais com sua saúde e a prevenção de doenças. E o mercado de vitaminas, que atuam para fortalecer a imunidade das pessoas, se beneficiou disso, crescendo mais de 70% em faturamento no ano passado, segundo a consultoria IQVIA. Como um todo, o varejo farmacêutico registrou crescimento consolidado de 15,7% e faturamento de R$ 139,4 bilhões.

Em pleno início da crise sanitária, em maio, a Cimed deu uma tacada certa para abocanhar grande parte dessa demanda adicional ao lançar o primeiro multivitamínico efervescente do Brasil, que propicia uma absorção mais rápida do produto. Com essa inovação, a companhia fechou o ano na liderança do segmento de vitaminas, além de ocupar o primeiro lugar no universo de medicamentos isentos de prescrição médica (MIP), no qual oferece também o antigripal mais vendido do país.

Porta a porta

O ano de 2020 foi excepcional pela conjuntura criada pela pandemia, mas parece ter sido apenas mais um degrau na trajetória de consolidação da Cimed como um dos grandes players do mercado farmacêutico brasileiro — há dez anos, a companhia familiar fundada em 1977 não estava nem entre as 30 maiores empresas do setor. Qual foi a fórmula usada para crescimento tão expressivo? 

“Nosso modelo de negócio é diferenciado, pois somos a única farmacêutica com distribuição verticalizada, e isso é uma das principais razões de o nosso crescimento ser bem acima do que o mercado [como um todo] vem crescendo”, explica Lettiere. “Tudo aquilo que pra nós é considerado core, a gente não terceiriza. Isso traz agilidade e rapidez para nós agirmos de acordo com o cenário e, tendo o contato direto com nossos clientes [as farmácias], temos uma vantagem no nível de serviço. Do ponto de vista de custos, controlando mais nossa cadeia de supply chain, conseguimos extrair mais valor. Os números demonstram que essa estratégia é efetiva”.

Seguindo esse modelo, a Cimed chega hoje a 94% dos pontos de venda do setor no Brasil, com especial atenção a 60 mil farmácias independentes, que muitas vezes são os únicos centros de saúde de regiões carentes do país. Essa capilaridade potencializa o posicionamento de mercado da companhia, que busca gerar maior acessibilidade aos seus produtos com preços menores que os praticados pela concorrência por produtos similares.

Em 2020, a forte presença da Cimed nas pequenas farmácias se mostrou uma vantagem competitiva, em um cenário de interrupção de atividades em shopping centers e de diversos períodos de restrição de circulação. Segundo a Febrafar (Federação Brasileira das Redes Associativistas e Independentes de Farmácias), as farmácias nos “bairros” passaram a ser mais procuradas que as de regiões centrais e esse movimento levou suas afiliadas a crescer 26,1%, em faturamento, chegando a participação de mercado de 12,1%.

Lettiere, CFO da Cimed:

Lettiere, CFO da Cimed: "Queremos ser referência também em prevenção"

Mais produção, mais empregos

É notório que uma das principais consequências negativas da pandemia para a economia do Brasil foi o fechamento de postos de trabalho. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), do IBGE, em 2020 a taxa média de desemprego no país foi de 13,5%, um grande aumento se comparada à taxa de 11,9% registrada no ano anterior. 

A Cimed, no entanto, impulsionada pelas vendas de vitaminas e das farmácias independentes, fechou o ano com saldo positivo de empregos, abrindo mais de 300 novos postos de trabalho – hoje a companhia possui mais de 5 mil funcionários. E o aumento da equipe deverá se manter em 2021.

“Nós temos um plano muito ambicioso para 2021, queremos continuar crescendo acima do mercado. Nosso plano é continuar crescendo em vitaminas e expandir em medicamentos onde tivermos oportunidade para isso. Principalmente no canal de farmácias independentes, temos espaço pra vender mais produtos”, diz Lettiere. 

A Cimed está investindo na digitalização de suas operações, visando a maior eficiência nas áreas de planejamento, comercialização e logística, e prevê o lançamento de 50 novos produtos em 2021, muitos deles para atender à crescente demanda por medicamentos de prevenção de doenças. A empresa aporta cerca de R$ 150 milhões anuais em pesquisa e desenvolvimento. 

Mas a principal carta da Cimed para seguir crescendo acima da média do mercado é a sua nova fábrica, em construção na cidade mineira de Pouso Alegre. Esse projeto tem custo total de R$ 220 milhões e se encontra na fase de colocação de equipamentos, devendo estar operacional até o fim do ano.

Segundo Lettiere, a nova planta irá dobrar a capacidade produtiva da Cimed até o fim de 2022. Lá serão produzidos medicamentos genéricos, produtos hospitalares e da linha de vitaminas, gerando também “centenas de novos empregos”.

“A nova fábrica vai nos dar o volume, a qualidade e a agilidade que a gente precisa para atender nosso mercado, que é muito pulverizado. A Cimed quer ser a maior empresa do setor farmacêutico no Brasil, seguindo o propósito de tornar os produtos cada vez mais acessíveis a toda a população e de levar prosperidade a toda a rede de farmácias que vende nossos produtos”, completa Lettiere.