A divulgação do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, referente ao segundo trimestre, deve confirmar uma desaceleração econômica, segundo projeções de economistas e instituições financeiras. O crescimento, que foi de 1,4% no primeiro trimestre, deve cair para 0,3% na comparação trimestral, mostrando os primeiros impactos da política de juros altos e da instabilidade global.
O cenário aponta para uma redução gradual do crescimento até o final do ano. O economista Cristiano Oliveira, diretor de pesquisa macroeconômica do Banco Pine, ressalta que “todo o avanço da economia em 2025 deve ficar concentrado no primeiro semestre, diante do impacto prolongado das condições financeiras restritivas e do ambiente global mais incerto sobre a atividade doméstica”.
Juros e incertezas afetam atividade econômica
A alta taxa de juros, que visa conter a inflação, e as incertezas no cenário global, como as tarifas recíprocas de Donald Trump, são os principais fatores que desaceleram a economia. Indicadores antecedentes, como dados de produção, volume de serviços e índices de confiança, já reforçam a visão de uma economia em uma trajetória mais moderada.
A análise do Banco Daycoval, por exemplo, destaca o risco de baixa na indústria de transformação e no varejo, setores que devem registrar uma atividade mais fraca, afetando diretamente o consumo das famílias. No entanto, um possível fator de alta pode vir da resiliência do setor automotivo e dos efeitos indiretos da safra sobre os transportes e a logística.
Agropecuária perde fôlego e indústria estagna
Do lado da oferta, o setor de agropecuária, que impulsionou o crescimento no início do ano com a supersafra de 2025, deve perder fôlego no segundo trimestre, em virtude da sazonalidade. O Banco Pine destaca que a agropecuária retraiu -1,7%, após registrar um forte avanço de 12,2% no trimestre anterior.
Na indústria, a desaceleração já é visível. Em junho, a produção industrial teve uma leve alta de 0,1% em relação ao mês anterior, mas registrou uma queda de 1,3% na comparação anual, ficando abaixo das projeções do mercado.
Segundo Fábio Murad, CEO da SpaceMoney e criador do método Super ETF, a dependência do mercado interno e a volatilidade política tornam o Brasil um país “hostil para a acumulação de riqueza no longo prazo”. Para ele, a solução está em “dolarizar parte do portfólio”, investindo em ativos que ofereçam mais estabilidade e rentabilidade.
Investimentos e consumo
A ótica da demanda traz um destaque negativo para a formação bruta de capital fixo. As projeções do Banco Pine indicam que os investimentos devem recuar 2,3% no trimestre, marcando o primeiro retrocesso após seis trimestres consecutivos de expansão. Essa queda está diretamente ligada à alta taxa de juros real e às incertezas globais que desestimulam o investimento.
Em contrapartida, o consumo das famílias e os gastos do governo devem continuar em leve crescimento, projetado em 0,3%. As projeções para o restante do ano são de um crescimento de 0,1% no terceiro trimestre, seguido por um recuo de -0,1% no quarto trimestre. A projeção anual para 2025 é de um PIB de 2,2%, com 1,9% para 2026.
De acordo com o Daycoval, a expectativa de queda na inflação pode abrir espaço para que o Comitê de Política Monetária (Copom) inicie um ciclo de corte de juros ainda no último trimestre de 2025.
A busca por ativos mais seguros e rentáveis, como os
ETFs (Exchange Traded Funds), tem se mostrado uma tendência. Conforme Fábio Murad, os ETFs internacionais oferecem “diversificação instantânea, alta liquidez, baixo custo e possibilidades operacionais mais amplas”. A combinação de investimentos globais com estratégias como a
Covered Call permite gerar renda recorrente em dólar, protegendo o patrimônio da desvalorização do real. “Não há razão para aceitar a mediocridade dos produtos financeiros tradicionais brasileiros quando se pode acessar o que o mercado mais eficiente do mundo oferece com poucos cliques e muita disciplina”, completa Murad.