As bolsas globais encerraram a semana em forte queda, pressionadas por uma combinação de fatores que reacenderam o medo entre investidores — da saúde financeira dos bancos regionais norte-americanos a sinais de superaquecimento no setor de inteligência artificial.
Suspeitas de fraudes e pressão sobre bancos regionais
Nos Estados Unidos, novas suspeitas de fraudes em empréstimos ligados a fundos imobiliários problemáticos ampliaram a aversão ao risco. As ações dos bancos regionais Zions e Western Alliance voltaram a cair, acumulando perdas expressivas no pré-mercado desta sexta-feira, após a redução da exposição de investidores ao setor.
Segundo analistas da Ágora Investimentos, “a preocupação ganhou força depois das denúncias de inconsistências em carteiras de crédito, o que levou a um movimento de venda generalizada”.
Escalada de tensões e risco político em Washington
Além do temor bancário, a terceira semana de paralisação do governo dos EUA aumentou o clima de incerteza. O Tesouro americano alertou que o impasse já começa a afetar a economia, com atrasos em pagamentos federais e demissões em diversas agências.
Na frente diplomática, as tensões comerciais entre EUA e China seguem em alta. Pequim acusou Washington de provocar pânico em torno do controle de exportações de terras raras e afirmou, na OMC, que os EUA estão “minando o sistema multilateral de comércio”.
Europa em alerta e commodities em queda
Na Europa, o índice Stoxx 600 recuou 1,5%, puxado pela queda de 3% do setor bancário, com UBS e Jefferies entre as instituições mais expostas ao risco de crédito vindo dos EUA. O petróleo caminha para a terceira semana consecutiva de perdas, enquanto o minério de ferro fechou em leve baixa de 0,19% em Dalian, a US$ 108,21 por tonelada.
A ameaça de uma bolha de inteligência artificial
O temor mais recente vem do setor de tecnologia. Investimentos bilionários em inteligência artificial (IA) levantam preocupações de que o mercado possa estar formando uma nova bolha especulativa, semelhante à das “pontocom” nos anos 2000.
O Banco da Inglaterra alertou em relatório que “o risco de uma correção acentuada aumentou”, classificando a possibilidade de impacto sobre o sistema financeiro como “material”.
Ainda assim, segundo o UBS, 90% dos investidores que acreditam na existência de uma bolha em IA seguem posicionados no setor, sustentando o rally das big techs.
Perspectiva global de curto prazo
O cenário, segundo a XP Investimentos, “é de forte aversão ao risco, com ativos domésticos sob pressão e investidores buscando refúgio em ouro e dólar”. No Brasil, o Ibovespa abriu o dia em estabilidade, destoando das quedas internacionais, após avanços diplomáticos nas negociações do “tarifaço” com os EUA.
A combinação de risco bancário, impasse fiscal e euforia tecnológica reforça o clima de cautela. Para analistas, a volatilidade deve continuar enquanto persistirem dúvidas sobre o real impacto dos investimentos em IA e a resiliência do sistema financeiro norte-americano.