
Empresários e advogados brasileiros participam de uma audiência crucial na Casa Branca que pode resultar em novas tarifas e sanções comerciais contra o Brasil, a pedido do presidente Donald Trump. A audiência, parte de uma investigação com base na regra conhecida como Seção 301, analisa se o Brasil tem adotado práticas comerciais prejudiciais aos Estados Unidos. Empresas como a Embraer e a WEG, além de entidades do setor de café e madeira, marcam presença para defender seus argumentos.
A investigação e os riscos de uma guerra comercial
O evento, sediado no escritório do Representante de Comércio dos EUA (USTR), é um desdobramento da investigação iniciada formalmente em julho. O processo, que já recebeu mais de 250 manifestações públicas, pode levar a uma conclusão que justifique a aplicação de sanções, como tarifas e restrições quantitativas. Segundo Lucas Spadano, sócio do escritório Madrona Advogados, a aplicação de sanções, caso ocorra, tende a ser mais duradoura. Ricardo Alban, presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), em Washington para a audiência, busca “desmistificar” as acusações, como a de desmatamento descontrolado e supostos problemas com o Pix, e abrir um canal de diálogo. Ele ressalta, no entanto, que o momento é “peculiar” e que novas taxas podem surgir por questões políticas e geopolíticas.
A polêmica Seção 301 e o histórico de sanções
A Seção 301 da Lei do Comércio dos EUA, de 1974, autoriza o presidente a tomar medidas contra países que, na sua visão, violam regras internacionais ou impõem barreiras comerciais desleais. O USTR, responsável pelas investigações, tenta negociar antes de aplicar as medidas punitivas. Em 2001, por exemplo, a Ucrânia foi alvo de sanções por não respeitar direitos autorais. Já em 2018, a investigação contra a China resultou em tarifas mais altas, dando início à guerra comercial entre os dois países.
Posicionamento das entidades e a fragilidade do Brasil
A audiência conta com a participação de cerca de 40 empresas e entidades, tanto do lado brasileiro quanto do americano. Do Brasil, estarão Embraer, Portobello America, WEG e associações como a CNI e a Fiesp. Do lado americano, entidades como a National Coffee Association (NCA) e a International Wood Products Association (IWPA) defendem o Brasil, argumentando que as sanções prejudicariam o próprio mercado dos EUA. O presidente da NCA, William Murray, destaca em uma carta que o Brasil é o maior produtor de café do mundo e que as importações não podem ser facilmente substituídas.
Por outro lado, associações de produtores americanos de carne suína, carne bovina, milho e algodão acusam o Brasil de concorrência desleal. Kent Bacus, da National Cattlemen’s Beef Association, argumenta que a moeda brasileira mais fraca e o baixo custo de produção permitem ao Brasil absorver as tarifas e continuar a exportar sem grandes abalos.
A situação reforça o que Fábio Murad, CEO da SpaceMoney e criador do método Super ETF, comenta em seu livro “Plano de Ação Renda Global”. “O investidor que pensa em liberdade de longo prazo precisa considerar onde o dinheiro dele está sendo medido”. Para Murad, a desvalorização do real, a carga tributária e o ambiente regulatório instável no Brasil tornam o país “hostil” para a acumulação de riqueza no longo prazo, em contraste com a solidez e transparência do mercado americano. “A diferença entre investir no Brasil e investir globalmente é a diferença entre se defender da pobreza e construir riqueza de verdade”