domingo, 28 de abril de 2024
Economia

IPCA de dezembro desacelera processo desinflacionário e reduz apostas por cortes maiores na Selic

Analistas reiteram cautela, apesar da alta acumulada em 2023 ter ficado dentro do intervalo da meta determinada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), em 4,62%

11 janeiro 2024 - 10h54Por Lucas de Andrade

A inflação do país foi de 0,56% em dezembro, sexto mês seguido com taxas positivas.

Com isso, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fechou o ano de 2023 com alta acumulada de 4,62%, dentro do intervalo da meta da inflação determinada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), que era de 3,25%, com tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo, ou seja, entre 1,75% e 4,75%.

Laís Costa, analista da Empiricus Research, observa que, nos números de dezembro, houve uma aceleração em grupos importantes da cesta de inflação.

Na avaliação de Costa, o número não deve levar a uma mudança de estratégia do Banco Central, que deve continuar a reduzir a taxa básica de juros Selic em 0,50 p.p. nas primeiras duas reuniões deste ano.

“Contudo, o mercado deve apagar as (poucas) chances de qualquer aceleração no ritmo de corte de juros nesse ciclo de redução de taxas”, finaliza.

Maria Luisa Nepomuceno, analista da equipe Renda Fixa PRO da Nord Research, concorda que os dados promovem uma redução nas discussões sobre uma aceleração do ritmo dos cortes para 0,75 pontos percentuais nos próximos meses.

Ela observou que o índice “trouxe más notícias tanto pela alta disseminada em todos os grupos, quanto por uma forte aceleração nos serviços subjacentes e na média dos núcleos, acima da alta esperada pelo mercado”.

Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, avalia que a inflação surpreendeu para cima ao variar 0,56%, quando projetava, junto ao consenso de mercado, uma alta de 0,50% em dezembro passado. 

A alta ficou na cauda alta da distribuição das expectativas e fez com que o acumulado de 2023 ficasse em 4,62%.

“No final das contas, a divulgação do índice de dezembro traz informações qualitativamente e quantitativamente piores do que o precificado pelo mercado”, diz Sanchez.

Na avaliação do economista, “se trata de algo preliminar para cravar que o processo desinflacionário começa a apontar mudança de ritmo”, mas ele avalia ser inegável que hoje tivemos um primeiro ponto nesse sentido.

“Vale salientar que o IPCA-15 também trouxe informações altistas em itens cuja variação se repete na divulgação do IPCA, ou seja, parte relevante da piora na perspectiva inflacionária já estava incorporada na divulgação de hoje e o índice se mostrou ainda pior que o esperado”, conclui.

Andréa Angelo, estrategista de inflação da Warren Investimentos, avalia que a análise prospectiva de desaceleração de serviços segue em jogo, como a Casa já havia alertado sobre o IPCA-15 de dezembro.

Luciano Costa, economista-chefe da Monte Bravo, avalia que, apesar do IPCA de dezembro ser resultado de choques pontuais, “serve de advertência como a tarefa de convergir a inflação para o patamar em torno de 4,0%”, que a Casa projeta para 2024 como desafiadora.

“A reversão do choque favorável de alimentos, a diminuição do efeito da deflação dos bens industriais e a manutenção do mercado de trabalho aquecido são fatores que demandam cautela na condução da condução política monetária, em especial, num ambiente de continuidade de crescimento real de gastos”, avaliou.

Costa reiterou a expectativa da Monte Bravo de que o Banco Central deve reduzir a taxa básica de juros Selic até 9,25% a.a. no final do ciclo de corte de juros.

Lucas Farina, analista econômico da Genial Investimentos, assim como Sanchez, observou uma trajetória preocupante. 

“Desde o Índice Geral de Preços (IGP-M) de novembro que já pode ser observada uma tendência de reversão da trajetória mais positiva dos preços dos alimentos, que agora em dezembro já alcançou o IPCA, com o grupo de Alimentação e Bebidas”, pontua.

Ontem (10), o diretor de Política Econômica do Banco Central, Diogo Guillen, reforçou que a política monetária deve ser conduzida com cautela nesse estágio do ciclo.

Na avaliação de Farina, “a afirmação em consonância com o dado mais forte do IPCA de dezembro torna muito mais difícil a aceleração do ritmo de corte de juros na Selic de 50 para 75 pontos-base”.