segunda, 29 de abril de 2024
Economia

IPCA de janeiro reforça cenário de desinflação, mas sinais de cautela permanecem, dizem analistas

Serviços subjacentes aceleraram mais que esperado pela quarta leitura consecutiva, mas comportamento não deve influenciar na alteração do ritmo de cortes da taxa básica de juros Selic

08 fevereiro 2024 - 13h52Por Lucas de Andrade
 - Crédito: Divulgação

A inflação do Brasil, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), foi de 0,42% em janeiro, após a variação de 0,56% registrada no mês anterior. A alta no primeiro mês do ano foi influenciada especialmente pelo aumento de 1,38% do grupo alimentação e bebidas, que tem o maior peso no indicador (21,12%), apontou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Em relatório, a Genial Investimentos atribuiu o comportamento do item a um reflexo direto do fenômeno El Niño. Por outro lado, a persistência na alta da inflação de serviços subjacentes foi vista pela plataforma como um sintoma direto de uma demanda das famílias ainda aquecida, impulsionada por salários e demanda por trabalho em patamares elevados, ainda mais inflados pelas políticas de aumento real do salário-mínimo e políticas de transferências sociais.

“Na nossa visão, a inflação induzida pela demanda familiar representa o principal cenário de risco altista, e entendemos que a probabilidade desse risco aumentou”, assinaram José Márcio Camargo, economista-chefe da Genial Investimentos e time.

Parte da dificuldade em atenuar essa demanda se deve à política fiscal expansionista, destacam Camargo e analistas. Na avaliação deles, o movimento dificulta o trabalho do Banco Central na convergência da inflação à meta e contribuindo para a desancoragem das expectativas de longo prazo.

“O resultado corrobora o nosso cenário de inflação mais pressionada em 2024, em linha com nossas projeções preliminares”, comentaram.

André Valério, análise de cenário macroeconômico do Inter Invest, observou que os dados reforçam uma manutenção do cenário de desinflação, mas os sinais de cautela que surgiram em dezembro permanecem.

“Em fevereiro, devemos ter uma nova rodada de aceleração da inflação, com os reajustes escolares e os reajustes em combustíveis pela alta de impostos em alguns estados. Por outro lado, podemos começar a ver uma reversão nos preços de commodities alimentares. Ainda assim, não acreditamos que esses sinais ainda não são suficientes para ensejar uma mudança na condução da política monetária por parte do [Comitê de Política Monetária] COPOM”, destacou o economista.

Após a última reunião no dia 31 de janeiro, o colegiado reforçou que pretende continuar com o ritmo de cortes de 0,50 p.p. pelo menos nas próximas duas reuniões.

“Esse cenário deve se manter, pois mesmo com esses cortes a política monetária continua em terreno contracionista e essa maior volatilidade no início do ano é esperada. Entretanto, podemos esperar a manutenção do tom mais cauteloso por parte do Comitê, o que já transpareceu no último comunicado”, completou.

Andréa Angelo, estrategista de inflação da Warren Investimentos, alertou que os serviços subjacentes aceleraram mais que esperado pela quarta leitura consecutiva.

A economista avaliou que vê riscos de alta no item ao longo do ano. Contudo, “a dinâmica recente mais favorável de alimentação no domicílio pode contrabalançar este efeito”.

Mesmo com a surpresa nos números desta quinta-feira (8), Angelo não alterou o cenário de IPCA de 2024, em 3,90%, e de 3,50% para o ano de 2025.