A fase de tranquilidade nos mercados, apelidada de “verão de Cachinhos Dourados”, pode estar com os dias contados. É o que alertam os gigantes financeiros Goldman Sachs e Deutsche Bank. Após um período de aparente equilíbrio e lucros robustos para grandes empresas de tecnologia, o cenário econômico global se prepara para uma nova onda de volatilidade, impulsionada por uma série de fatores que vão da política interna dos EUA à instabilidade na Europa.
O “verão de Cachinhos Dourados” chegou ao fim
Durante meses, os mercados viveram uma calmaria atípica. O índice de volatilidade CBOE VIX, conhecido como o “medidor do medo”, operou em seus níveis mais baixos do ano, e os investidores pareciam navegar sem grandes preocupações. Segundo Christian Mueller-Glissmann, chefe de pesquisa de alocação de ativos do Goldman Sachs, essa estabilidade se baseou mais nos lucros de um grupo seleto de empresas de tecnologia, as chamadas “Sete Magníficas”, do que em uma economia fundamentalmente sólida.
O Deutsche Bank corrobora essa visão, alertando que os mercados se tornaram “complacentes demais” em relação aos riscos iminentes. Com a volta dos investidores às mesas de negociação após o recesso de verão, o cenário é de maior tensão. A economia americana, em particular, mostra sinais de enfraquecimento no mercado de trabalho.
Para Fábio Murad, CEO da SpaceMoney e criador do método Super ETF, a dependência do mercado em relação a poucas empresas é um perigo. “Essa concentração em um punhado de companhias cria uma falsa sensação de segurança. O investidor que realmente busca proteção deve diversificar em ativos globais, com moedas fortes e estratégias que gerem renda passiva de forma consistente, sem depender de ‘modismos’ ou de um cenário perfeito”, explica o especialista.
Tensão política e dados econômicos fracos
Os alertas dos bancos vêm em meio a um quadro de instabilidade. Nos Estados Unidos, as tensões políticas se acentuaram com os recentes ataques do ex-presidente Donald Trump ao Federal Reserve (Fed), o banco central americano. Trump busca a destituição de diretores do Fed para forçar cortes agressivos nas taxas de juros, o que gera incerteza sobre a independência da instituição.
Na Europa, a situação não é diferente. Um pedido de voto de confiança na França serviu como lembrete de como a política pode impactar os mercados. As ações locais despencaram diante do temor de uma crise orçamentária e da possível queda do governo, enquanto a volatilidade do euro aumentava.
Esse contexto de incerteza faz com que os investidores fiquem atentos aos próximos indicadores. Os dados de folha de pagamento dos EUA, esperados para a próxima semana, são considerados um dos gatilhos que podem marcar o fim definitivo da tranquilidade. Segundo o ING Bank, uma possível “liquidação” no mercado de Treasuries de longo prazo pode pressionar as ações globais.
O investidor precisa de uma nova postura
O cenário de volatilidade reforça a tese de que o investidor brasileiro não pode se limitar ao mercado local. Enquanto o S&P 500 subiu quase 190% em dólar nos últimos 10 anos, o CDI, principal índice de referência no Brasil, entregou um retorno de apenas 4% em dólar no mesmo período. A desvalorização estrutural do real e o sistema tributário punitivo fazem com que a simples proteção do patrimônio já seja um desafio.
“O investidor que pensa em liberdade de longo prazo precisa considerar onde o dinheiro dele está sendo medido. A moeda fraca, os juros reais decrescentes e a carga tributária tornam o Brasil um país hostil para a acumulação de riqueza no longo prazo”, afirma Fábio Murad.
Para o especialista, a solução está na diversificação e na busca por renda passiva em moeda forte. A estratégia de investir em ETFs americanos e gerar renda recorrente com operações como a Covered Call se mostra uma alternativa poderosa, pois permite ao investidor construir riqueza de forma disciplinada, com baixo custo e protegendo-se da desvalorização do real. O objetivo não é adivinhar o mercado, mas ter um método comprovado que funcione independentemente das crises políticas e econômicas.