O cenário econômico global vive dias de forte atenção aos bancos centrais. De um lado, o Federal Reserve (Fed) decidiu reduzir os juros em 0,25 ponto percentual, movimento amplamente esperado, mas que trouxe surpresas nas projeções futuras e no discurso de Jerome Powell. Do outro, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil optou por manter a Selic em 15% ao ano, reforçando que a política monetária seguirá contracionista por um período prolongado.
Enquanto os Estados Unidos caminham para uma política monetária mais acomodatícia, o Brasil permanece em postura conservadora. Para investidores, o contraste acende debates sobre oportunidades e riscos tanto em ativos de renda fixa locais quanto em estratégias de diversificação internacional.
Decisão do Fed
Corte de 0,25 ponto e expectativas do mercado
A decisão do Fed de reduzir a taxa de juros em 0,25 ponto percentual era aguardada e já estava precificada pelos mercados. No entanto, as projeções futuras surpreenderam: agora, são esperados dois cortes adicionais ainda em 2025, totalizando três no ano.
Projeções para 2025, 2026 e 2027
Além disso, para 2026 houve um ajuste marginal, com a inclusão de um corte extra, enquanto em 2027 a taxa pode chegar a 3%. O Produto Interno Bruto (PIB) foi revisado para cima — de 1,4% para 1,6% em 2025 e de 1,6% para 1,8% em 2026 —, sinalizando resiliência econômica, ainda que sob pressão inflacionária.
O voto divergente e o peso político
Um ponto relevante foi o voto de Stephen Miran, indicado por Donald Trump, que defendeu um corte mais agressivo de 0,50 ponto percentual. A posição abre espaço para interpretações políticas, já que futuros indicados podem pressionar por mudanças mais rápidas na condução da política monetária.
O discurso de Jerome Powell
O tom considerado “brando”
Após a decisão, o presidente do Fed, Jerome Powell, deu entrevista coletiva com declarações avaliadas como “dovish”, ou seja, brandas. Ele destacou que os serviços nos EUA estão passando por processo desinflacionário e que 100% da alta recente da inflação veio dos bens.
Inflação, pleno emprego e tarifas
Powell reforçou o compromisso com o mandato duplo do banco central: controlar a inflação e assegurar o pleno emprego. Também minimizou o impacto das tarifas sobre preços, classificando-o como temporário.
Sinais para os próximos passos
Economistas avaliam que o Fed deve manter cortes graduais de 0,25 ponto por reunião, levando a taxa para próximo de 3% ao ano. No entanto, há risco de aceleração caso o mercado de trabalho se deteriore mais rapidamente.
Impactos no cenário internacional
A redução dos juros nos EUA influencia diretamente os fluxos globais de capitais. Com perspectiva de política monetária mais acomodatícia, ativos de risco tendem a ganhar fôlego, enquanto o dólar pode perder força relativa. Esse movimento impacta emergentes como o Brasil, que dependem do humor internacional para atrair investimentos.
O corte do Fed também abre espaço para discussão sobre sincronia ou divergência de ciclos entre economias. Se os EUA acelerarem a flexibilização e o Brasil mantiver a Selic elevada, pode haver maior pressão cambial e desafios adicionais para a política monetária brasileira.
Decisão do Copom no Brasil
Selic mantida em 15%
No Brasil, o Copom decidiu, por unanimidade, manter a Selic em 15% ao ano, confirmando expectativa do mercado.
Justificativas do Banco Central
Segundo o comunicado, o ambiente externo segue incerto, em especial devido à política monetária americana e tensões geopolíticas. O Copom destacou que a taxa atual é necessária para garantir a convergência da inflação para a meta, mesmo com sinais de desaceleração na economia doméstica.
Ausência de sinais de cortes em 2025
Ao contrário do Fed, o colegiado brasileiro não sinalizou cortes próximos. O Banco Central reafirmou que manterá juros em patamar contracionista por “período prolongado”.
Renda fixa e impacto nos investimentos
Quanto rende R$ 10 mil na prática
Com a Selic em 15%, aplicações em renda fixa oferecem retornos elevados. Simulações mostram que R$ 10 mil investidos no Tesouro Selic poderiam chegar a R$ 11.223,97 em um ano. Já CDBs e LCIs rendem valores semelhantes ou até superiores, dependendo do emissor.
Comparação entre produtos
A poupança, por outro lado, continua menos atrativa, rendendo R$ 10.821,68 no mesmo período. Títulos como Tesouro Selic, CDBs e LCIs se destacam pela previsibilidade e pela possibilidade de planejamento de médio prazo.
Perspectiva de curto e médio prazo
Embora a renda fixa esteja pagando bem, analistas alertam que o cenário pode mudar caso o Fed acelere cortes ou se a inflação no Brasil desacelerar mais do que o esperado.
O investidor brasileiro diante do cenário
Para muitos investidores, a Selic em dois dígitos parece suficiente para manter recursos em aplicações locais. Porém, como alerta Fábio Murad, CEO da SpaceMoney, olhar apenas para a renda fixa pode ser perigoso:
“O investidor que mede sua riqueza apenas em reais se expõe a uma moeda estruturalmente fraca. É preciso pensar em dolarizar parte da carteira, protegendo o patrimônio contra ciclos políticos e cambiais.”
Estratégias globais como alternativa
A visão de Fábio Murad sobre diversificação internacional
Segundo Murad, estratégias que combinam ETFs globais e operações com opções podem gerar renda recorrente em dólar, ampliando horizontes de rentabilidade e consistência.
ETFs e geração de renda em dólar
Investir em ETFs como SPY (S&P 500), QQQ (Nasdaq 100) ou SCHD (dividendos) oferece exposição a empresas sólidas e de alcance global. A partir deles, é possível utilizar estratégias como Covered Call, que permitem criar fluxo de caixa semanal em moeda forte.
Proteção cambial e busca por consistência
Enquanto a renda fixa brasileira remunera bem em reais, estratégias globais permitem acumular patrimônio em dólar, com maior estabilidade de longo prazo. Essa é, segundo Murad, a verdadeira chave da independência financeira.
As decisões recentes do Fed e do Copom escancaram a divergência entre as duas maiores economias do continente. Enquanto os EUA avançam em cortes graduais, o Brasil mantém juros elevados por cautela. Para o investidor, isso abre duas frentes: aproveitar a renda fixa local, mas também diversificar globalmente, protegendo-se da volatilidade doméstica.
Como resume Fábio Murad:
“Liberdade financeira não é sobre buscar a Selic mais alta do momento, mas sobre construir renda em dólar, consistente e sustentável no longo prazo.”