Painel de cotações em Wall Street com destaque para queda das ações de bancos regionais.
Traders observam painéis em Wall Street durante pregão marcado por queda dos bancos regionais. (Fonte: Gemini Pro)

As bolsas de Nova York encerraram o pregão desta quinta-feira (16) em queda generalizada, pressionadas por sinais de enfraquecimento no sistema bancário regional dos Estados Unidos e pelo aumento das tensões comerciais entre Washington e Pequim.

O índice S&P 500 recuou 0,98%, para 6.606 pontos; o Nasdaq caiu 0,92%, a 22.461 pontos; e o Dow Jones perdeu 0,85%, fechando aos 45.859 pontos.

Com os três principais indicadores ainda próximos das máximas históricas, o movimento representou uma pausa no ciclo de valorização que vinha sendo sustentado por expectativas de corte de juros e otimismo com a inteligência artificial.


Zions e Western Alliance reacendem o temor sobre o crédito regional

O gatilho do pessimismo veio do Zions Bancorporation, que despencou 13% após divulgar perdas inesperadas em dois empréstimos de sua divisão na Califórnia. O caso acendeu alertas sobre possíveis fragilidades ocultas nas carteiras de crédito de bancos regionais, em meio à manutenção dos juros em patamares elevados.

O Western Alliance, outro banco de médio porte, também recuou 11% depois de iniciar uma ação judicial por fraude contra um de seus clientes corporativos — um movimento que aumentou a percepção de risco no setor.

Para investidores, esses episódios relembram a volatilidade de 2023, quando falências de instituições menores desencadearam turbulência no sistema financeiro americano.


Tensão comercial entre EUA e China volta ao radar

Além do setor bancário, os investidores monitoraram os desdobramentos da nova rodada de atritos comerciais entre Estados Unidos e China.
O governo de Donald Trump voltou a ameaçar tarifas de 100% sobre importações chinesas a partir de 1º de novembro, em resposta a restrições de Pequim sobre exportações de minerais estratégicos, como terras raras — insumo essencial para semicondutores e baterias.

As declarações reforçaram o clima de cautela. Para analistas, a reedição da disputa comercial tende a impactar a cadeia tecnológica global e gerar volatilidade adicional nos ativos de risco.


Lucros mistos e balanços em foco

Entre as grandes empresas, Salesforce destoou da tendência negativa ao subir cerca de 4%, após projetar uma receita superior a US$ 60 bilhões até 2030, acima das estimativas de Wall Street.

Na direção oposta, o setor de seguros liderou as perdas: o índice S&P 500 Insurance caiu 3,9%, pressionado pelos resultados abaixo do esperado da Travelers Companies e pela queda de 8% nas ações da Marsh & McLennan.

A Hewlett Packard Enterprise despencou quase 10% depois de revisar para baixo suas projeções anuais, enquanto J.B. Hunt saltou 20% ao reportar forte lucro trimestral.


Panorama macro: juros, Fed e confiança

O índice Philadelphia Fed Business recuou 12,8 pontos em outubro, contrariando as expectativas de alta. O dado reforçou a percepção de desaceleração da atividade industrial e pode influenciar as próximas decisões de política monetária.

O Fed Governor Christopher Waller afirmou apoiar um novo corte de juros em outubro, mencionando “leituras mistas” do mercado de trabalho — um sinal de que o banco central pode adotar um tom mais acomodatício nas próximas reuniões.


Por que o investidor global deve observar

Mesmo após a correção, o S&P 500 acumula alta de 13% em 2025, negociado a 23 vezes o lucro esperado, o maior múltiplo em cinco anos.
O movimento mostra um mercado ainda confiante, mas com valuations esticados — o que exige disciplina e gestão de risco em um cenário de incertezas fiscais e geopolíticas.

Para o investidor brasileiro, episódios como o de hoje reforçam a importância de diversificação global e exposição a ETFs internacionais que representem índices amplos, como o S&P 500.
A dolarização parcial do portfólio e o foco em ativos de renda variável com fundamentos sólidos podem oferecer proteção cambial e acesso às empresas mais resilientes do mundo, mesmo em períodos de volatilidade.


Fechamento

No fechamento, todos os 11 setores do S&P 500 recuaram, liderados por financeiras (-2,7%) e energia (-1,65%).
A relação entre ações em queda e em alta foi de 3,7 para 1, enquanto o Nasdaq registrou 109 novas máximas e 84 novas mínimas no dia.

Apesar da realização, o mercado segue atento ao ritmo dos cortes de juros e às negociações comerciais com a China — dois fatores que, combinados, devem ditar o rumo da renda variável global nas próximas semanas.