O índice de Preços de Despesas de Consumo Pessoal (PCE, na sigla em inglês), principal métrica usada pelo Fed para acompanhar a inflação, registrou aumento de 0,3% em junho em relação a maio. Esse avanço elevou a inflação anual para 2,6%. Além disso, a inflação núcleo — que exclui alimentos e energia — também subiu 0,3% no mês, chegando a 2,8% ao ano, acima do teto de meta do Fed de 2%.
Os preços mais altos refletem, em parte, o impacto de tarifas sobre produtos importados. Eletrônicos e eletrodomésticos, por exemplo, tiveram custos repassados aos consumidores finais. Em virtude disso, a inflação persiste mesmo com os esforços de controle monetário.
O resultado enfraquece as expectativas de corte de juros em setembro. De acordo com relatórios de mercado, a probabilidade de redução da taxa caiu para cerca de 39%, ante 66% no início do mês. Na reunião mais recente do Fed, os juros permaneceram entre 4,25% e 4,50%. A autoridade monetária decidiu aguardar novos dados antes de qualquer flexibilização, apesar da pressão política por cortes mais agressivos.
A economia americana cresce a um ritmo anualizado de 3,0% no segundo trimestre. No entanto, o consumo continua moderado. Gastos e renda pessoal avançaram apenas 0,3% em junho, o que sugere cautela por parte dos consumidores.
Como os dados do PCE afetam o Brasil?
A inflação americana mais elevada mantém o dólar forte. Como resultado, as commodities sofrem pressão e os insumos importados no Brasil encarecem — especialmente energéticos e bens de capital. Isso pode, sem dúvida, refletir em inflação pressionada no país, via repasse dos custos cambiais aos preços domésticos.
No cenário de juros nos níveis atuais, a taxa básica brasileira (Selic) tende a permanecer elevada por mais tempo. Isso ocorre uma vez que a alta global dificulta cortes no câmbio. Por outro lado, se o Fed adiar cortes, o Brasil terá menor espaço para reduzir o juro doméstico sem riscos de desvalorização cambial.
Empresas brasileiras expostas a custos de importação enfrentarão margens comprimidas. Nesse sentido, setores como indústrias de tecnologia, bens de investimento e agronegócio dependentes de insumos externos sofrerão mais. Em contrapartida, exportadores se beneficiam do dólar mais elevado e dos preços mais firmes de commodities.
Para a política econômica doméstica, o aumento da inflação global reduz o espaço para afrouxamento monetário e fiscal. Acima de tudo, o Banco Central precisará monitorar cuidadosamente os impactos indiretos do PCE sobre o IPCA e o câmbio. Assim sendo, o ciclo de normalização seguirá mais cauteloso.