Nesta quarta-feira (30), o Federal Reserve decidiu manter a taxa de juros nos EUA (federal funds rate) na faixa de 4,25% a 4,50%. Este valor permanece estável desde dezembro de 2024. A decisão obteve maioria, no entanto, dois membros divergiram – Michelle Bowman e Christopher Waller. Eles defendiam um corte imediato devido à desaceleração econômica e, sem dúvida, às pressões políticas vindas do ex-presidente Trump.
O comitê (FOMC) justificou sua posição afirmando que a inflação, atualmente em torno de 2,7% anual, ainda supera o objetivo de 2%. Isto é, o impacto das tarifas sobre o aumento de custos continua relevante. Além disso, a trajetória de queda dos preços ainda não é suficientemente clara para liberar cortes. Observadores destacam que, apesar do crescimento de 3% do PIB no 2º trimestre, este avanço resulta principalmente da queda nas importações, não da robustez econômica doméstica.
Mesmo que integrantes ligados a Trump exerçam forte pressão por reduções imediatas de juros, a maioria do Fed manteve postura de espera. Esses membros alegam que cortes ajudariam a reduzir os custos da dívida governamental. No entanto, o comitê prefere aguardar o avanço dos dados econômicos, principalmente os relatórios de inflação e emprego.
Em virtude dessa decisão, o mercado passou a precificar uma probabilidade de cerca de 58% a 62% de que o Fed inicie cortes já na reunião de setembro. Essa probabilidade depende dos números de emprego de julho e do comportamento da inflação. A conferência de imprensa com o presidente Jerome Powell às 14h30 ET (18h30 no horário de Brasília) deve, por certo, oferecer sinais sobre as expectativas futuras.
Como isso afeta o Brasil?
A decisão reafirma a trajetória de juros elevados na economia global, o que tende a manter o dólar forte. Por causa disso, o real sofre pressão. No contexto brasileiro, tal situação impacta diretamente a curva de juros futuros e mantém o crédito mais caro, dificultando cortes locais antecipados da Selic.
Para exportadores brasileiros, a manutenção dos juros nos EUA indica que o capital estrangeiro continua preferindo mercados desenvolvidos. Como resultado, ocorre um fluxo negativo ou modesto para ativos emergentes. Essa preferência, por sua vez, reforça cautela na gestão de carteira e exposição cambial.
Investidores em renda fixa local devem, acima de tudo, permanecer atentos ao movimento das taxas swap indexadas ao dólar e inflação global. Enquanto a Selic no Brasil segue elevada, cortes nos EUA podem, por outro lado, alterar a dinâmica de custo de oportunidade no portfólio doméstico.
A monitoração de indicadores globais permanece essencial. Uma vez que a inflação nos EUA desacelere, reforçaria a possibilidade de cortes em setembro. Até lá, porém, cenários macroeconômicos voláteis e tensões comerciais continuarão a influenciar as decisões de políticas no Brasil.