Tarifas

Choque tarifário dos EUA adia desinflação global e pressiona yields

Impacto de tarifas de 10% a 41% sobre Índia, Canadá, UE, Brasil e China eleva custo do dinheiro e redistribui risco‑país

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Tarifas comerciais de até 50% sobre exportações brasileiras elevam incerteza nos mercados globais e impulsionam juros futuros | Crédito: SpaceMoney

Os mercados globais ensaiaram nova alta no início da semana. No entanto, enfrentam agora turbulência com o anúncio de tarifas dos EUA de 10% a 41%. Essas serão impostas a mais de 68 países incluindo União Europeia, Índia, Canadá, Brasil e China a partir de 7 de agosto.

O Brasil recebeu tarifa total de 50% — 10% base mais 40% adicional devido a questões geopolíticas relacionadas ao ex-presidente Bolsonaro. Em virtude disso, a medida já impacta as curvas globais de juros e reaviva o risco-país em renda fixa.

A expectativa de persistência dessa política comercial duríssima leva investidores a renovarem apostas por cortes nos juros americanos ainda em 2025. Como resultado, ocorre forte queda nos yields de Treasuries de 2 anos e recalibragem de risco em ativos locais nos mercados emergentes. Além disso, fundos como BlackRock e PIMCO sinalizam que o momento mudou do “FOMO” por emergentes para cautela em moeda e crédito vulneráveis.

De acordo com relatório de abril, o banco Citi reduziu projeções globais de crescimento para 2,1% em 2025, ante 2,8% anterior. Ele alerta, ainda, que o choque tarifário penalizará exportações e diluirá margens corporativas. Por causa do risco cada vez mais elevado, investidores optam por títulos soberanos com maior liquidez e menor sensibilidade a ruídos geopolíticos.

Essa mudança de apetite amplia o spread de risco sobre dívida corporativa de países emergentes. Esse spread encolheu até o nível mais baixo desde a crise financeira de 2008 nos meses anteriores — porém pode se inverter rapidamente com a imposição das tarifas. Por outro lado, observadores apontam que a volatilidade e a retração de liquidez expõem governos e empresas com dívida recentemente reaberta ou indexada a dólar.

Para investidores no Brasil, o choque tarifário soberano introduz dois vetores de influência. Em primeiro lugar, eleva o custo real da dívida pública — com juros futuros mais caros e curva em alta. Em segundo lugar, fortalece a aversão ao risco, que tende a elevar o dólar frente ao real. Essa combinação, sem dúvida, desafia estratégias tradicionais de portfólio baseadas em renda fixa sem hedge.

Como as tarifas dos EUA afetam você?

O Brasil está entre os países mais penalizados pelo pacote de tarifas. A taxa aplicada ao país é praticamente o dobro da média global, o que sinaliza maior pressão sobre a demanda por produtos brasileiros exportadores e ampliação de spreads. Além disso, a dívida soberana já precifica risco adicional que pode elevar o cupom dos títulos públicos e restringir liquidez no mercado primário.

Com a pressão sobre a receita lá fora, empresas exportadoras e barateadoras de commodities enfrentarão maior volatilidade cambial. Não apenas operações sem cobertura cambial estão mais expostas, como também fundos de crédito privado com exposição externa tendem a pesar mais sobre o dinamismo do portfólio. Nesse sentido, o mercado de ações passa a exigir atenção redobrada à rotação para setores menos sensíveis à exportação.

Em meio à incerteza tarifária, os investidores ganham quando alocam parte das carteiras em títulos indexados ao CDI ou IPCA com vencimentos curtos. Acima de tudo, devem considerar ampliar a parcela de Tesouro Selic ou títulos globais hedged, a fim de preservar parte de capital e mitigar impacto cambial abrupto. À vista do cenário, a diversificação tática — com controle rígido sobre duration e spreads — é, por fim, a arma mais próxima da prudência em 2025.