
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu, de forma unânime, manter a taxa Selic em 15% ao ano na reunião desta quarta-feira (5). O comunicado da instituição reforçou o tom prudente e vigilante, sinalizando que o atual nível de juros deverá ser mantido por um período prolongado, diante da desaceleração da economia e das incertezas fiscais.
Cautela e unanimidade
A decisão foi unânime entre os membros do colegiado, confirmando a expectativa do mercado. Segundo o BC, ainda é cedo para iniciar um ciclo de cortes, e a prioridade segue sendo assegurar a convergência da inflação à meta. O Copom destacou que, apesar do recuo dos índices de preços, o ambiente global e as condições fiscais domésticas exigem “paciência e serenidade”.
“O investidor brasileiro precisa entender que o juro alto é um sintoma de um sistema econômico frágil, e não um prêmio de prosperidade”, comenta Fábio Murad, CEO da SpaceMoney. “Enquanto a política fiscal não for crível e a dívida não se estabilizar, o custo do dinheiro continuará elevado.”
Economia perde fôlego
Os últimos indicadores apontam para perda de ritmo da atividade econômica. O crédito desacelera, o consumo do governo caiu 0,6% e o PIB trimestral avançou apenas 0,4%, segundo o IBGE. Ao mesmo tempo, o desemprego permanece próximo de mínimas históricas, sustentando o consumo das famílias, ainda que em ritmo mais contido.
Inflação em queda, mas acima da meta
O Relatório Focus mostra queda nas projeções de inflação: o IPCA esperado para 2025 recuou de 4,8% para 4,55%. Mesmo assim, as expectativas seguem acima da meta oficial, o que impede o Banco Central de antecipar cortes. Essa combinação de inflação resistente e incerteza fiscal é o principal obstáculo para um relaxamento monetário.
De acordo com John Bogle, autor de O Investidor de Bom Senso, decisões econômicas duradouras exigem “disciplina e visão de longo prazo” — princípios que o Copom parece aplicar agora ao resistir à pressão por cortes prematuros.
Expectativas do mercado
O texto divulgado pelo BC manteve a referência à possibilidade de elevar juros caso o cenário piore, o que reforça a leitura de firmeza. Analistas esperavam que essa menção fosse retirada, abrindo espaço para cortes em 2026, mas o Copom optou por preservar o sinal de prudência. Casas como XP, G5 Partners e Suno mantêm projeções de início de cortes apenas em 2026, com a Selic podendo chegar a 12% ao fim do ciclo.
Por que os juros devem ficar altos
O contexto internacional segue desafiador, com o Federal Reserve ainda incerto sobre o momento de reduzir juros e tensões geopolíticas afetando o apetite ao risco. No Brasil, a falta de clareza sobre o equilíbrio fiscal e o aumento das despesas públicas elevam o prêmio exigido pelos investidores.
Para Murad, “o Brasil ainda precisa mostrar disciplina e consistência para baixar o custo de capital. O investidor que quer liberdade financeira deve buscar diversificação e renda global, não apenas esperar pela queda da Selic”.
Perspectiva
O consenso entre economistas é de que a taxa básica permanecerá em 15% por boa parte de 2025, com ajustes apenas quando a inflação mostrar convergência sustentada à meta. Até lá, o BC deve manter a comunicação firme e vigilante.